Fiscalização da Argentina também flagra trabalho escravo na cadeia produtiva da Zara


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
05/04/2013



Nova denúncia revela que o flagrante brasileiro não era um caso isolado 


Mais uma denúncia de trabalho escravo na cadeia produtiva da grife de moda Zara, da empresa espanhola Inditex. Desta vez, a prática foi flagrada na Argentina e as condições encontradas eram muito semelhantes às que os Auditores-Fiscais do Trabalho flagraram aqui no Brasil, em 2011. Inclusive, os trabalhadores escravizados também eram imigrantes bolivianos.


Quando o caso brasileiro veio à tona, a empresa alegou que se tratava de um caso isolado, mas essa nova denúncia revela que a situação não é esta. De acordo com as conclusões nos debates em torno do caso brasileiro, ficou evidenciado que a pulverização da cadeia produtiva da Zara, sob a forma de “quarteirização” e até mesmo “quinteirização”, é o que permite a ocorrência da prática de trabalho escravo.


No país vizinho, os trabalhadores também eram submetidos a condições degradantes de trabalho e moradia, jornadas exaustivas, não possuíam registro em carteira e eram impedidos de voltar pra casa, caracterizando a servidão por dívidas.


De acordo com a presidente da Confederação Iberoamericana dos Inspetores do Trabalho – CIIT e vice-presidente de relações Internacionais do Sinait, Rosa Maria Campos Jorge, é de fundamental importância para os trabalhadores argentinos ter um corpo de Inspetores do Trabalho que possa atuar com respaldo no pleno cumprimento da Convenção 81 da OIT. “Esses agentes poderão, dessa forma, proceder a imediata e ampla fiscalização da situação de tráfico de pessoas para os fins de exploração de mão-de-obra escrava, a exemplo do que já vem sendo feito no Brasil de forma institucional e com resultados expressivos”, ressalta a presidente da CIIT. A ação que flagrou os trabalhadores escravizados, segundo as informações da Repórter Brasil, foi feita por fiscais da Agência Governamental de Controle de Buenos Aires, e não por inspetores do Trabalho do Ministério do Trabalho da Argentina.


Rosa Jorge lembra que no Brasil os Auditores-Fiscais do Trabalho são responsáveis pelo resgate da cidadania de milhares de trabalhadores e suas famílias, cumprindo a meta de combate às piores formas de trabalho em todo o Mundo, preconizada pela OIT e pela Organização das Nações Unidas - ONU. Na Argentina o serviço de inspeção é muito precário e descentralizado, dificultando o combate ao trabalho escravo no país.


Leia matéria da Repórter Brasil:


2-4-2013 - Repórter Brasil


Zara é denunciada por escravidão na Argentina


Fiscalização flagra trabalhadores bolivianos produzindo peças da grife em oficinas clandestinas em Buenos Aires. Empresa diz desconhecer denúncia


Por Daniel Santini


A Zara enfrenta nova denúncia de exploração de trabalhadores em condições análogas às de escravos, desta vez na Argentina. Costureiros bolivianos foram encontrados em condições degradantes em oficinas clandestinas durante fiscalização realizada no final de março pela Agência Governamental de Controle (AGC) de Buenos Aires. Segundo as autoridades, eles estavam  produzindo peças para a grife. Além de trabalho escravo, desta vez o flagrante envolve também exploração de trabalho infantil. “Os homens e as crianças viviam no local de trabalho, não eram registrados e estavam submetidos a más condições. Eles não tinham documentos e estavam detidos, não podiam sair do local de trabalho sem autorização”, explica o chefe da AGC, Juan José Gómez Centurión, em entrevista à Repórter Brasil.    


Com base no flagrante da produção de peças com a etiqueta Zara, registrado em fotos e vídeos, a organização La Alameda, especializada no combate ao trabalho escravo, formalizou em 26 de março denúncia para que o departamento de Fiscalização Antitráfico (Ufase, na sigla em castelhano) investigue e tome providências (clique aqui para ler a denúncia em espanhol). Segundo a Alameda, além de serem impedidos de deixar o trabalho, os costureiros chegavam a cumprir jornadas diárias de mais de 13 horas. O grupo formalizou a denúncia e também organizou protestos em frente a lojas da Zara na Argentina.


A reportagem procurou os representantes da Inditex, empresa que detém a marca Zara. Eles se disseram “bastante surpresos com a situação”. De La Coruña, na Espanha, a assessoria de imprensa afirmou que a empresa não foi notificada ou informada oficialmente por nenhuma autoridade argentina e que só soube do caso pela imprensa. “A escassa informação que tivemos, que são os endereços das oficinas, permite dizer que elas não têm nenhuma relação com nossos fornecedores e fabricantes no país”, afirmam.


A Zara informa ter 60 fabricantes argentinos e que, nos últimos dois anos, realizou 300 auditorias de fornecedores e fabricantes do país. A empresa se diz disposta a colaborar com o esclarecimento do caso, “inclusive com a Alameda, tenham ou não essas possíveis situações irregulares a ver com a empresa”.


É a segunda vez que a Zara se vê envolvida com denúncias de superexploração de trabalhadores na América do Sul. Em agosto de 2011, fiscais flagraram trabalho escravo na produção de peças da grife no Brasil.


Tráfico de pessoas
Pela lei argentina, a situação pode ser caracterizada como de tráfico de pessoas, segundo Juan José Gómez Centurión, responsável pela fiscalização em questão. “Eles estavam sem documentos, detidos no local. Mas isso foge da competência administrativa da AGC e, por isso, fizemos apenas o registro de más condições de trabalho, emprego de trabalhadores não registrados e falta de condições mínimas de segurança, e encaminhamos o caso”, explica.

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