Documentário “Carne, Osso” estreia no Festival “É tudo verdade”


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
01/04/2011



Neste sábado, 2 de abril, estreia o documentário “Carne, Osso”, na programação do Festival “É tudo verdade”, em sua 16ª edição. O festival foi aberto ontem, 31 de março, em São Paulo e vai até o dia 10 de abril, com programação simultânea nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.


O documentário “Carne,Osso”, dirigido por Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, enfoca as condições de trabalho em frigoríficos, que se revelam ambientes de degradação física e psicológica. É resultado de dois anos de pesquisas e foi produzido pela ONG Repórter Brasil, especializada em reportagens e projetos sobre Direitos Humanos, meio ambiente, trabalho escravo e infantil, entre outros temas. O filme concorre com outros seis documentários selecionados na categoria de médias e longas metragens do festival.

 

A realidade dos frigoríficos é conhecida dos Auditores Fiscais do Trabalho – AFTs que têm muitas ações no setor. Por isso mesmo, não poderia faltar no documentário a visão de um AFT e o entrevistado foi Paulo Cervo, que afirmou que é possível melhorar as condições do ambiente de trabalho nos firgorífcos.  "Basicamente, é conscientizar essas empresas para reprojetar essas tarefas. Introduzir pausas, para que exista uma recomposição dos tecidos dos membros superiores, da coluna. Em algumas vai ter que ter diminuição de ritmo de produção. Nós estamos hoje chegando só no diagnóstico do setor. Mas as empresas ainda refrat árias a esse diagnóstico".

 

Depoimentos de trabalhadores e estatísticas compõem o documentário que traz, ainda, fortes imagens de acidentes e dos locais de trabalho.

 

O filme será exibido nos dias 2 (às 21h) e 3 (às 13h) de abril, no Cine Unibanco Arteplex (Sala 6) - Praia de Botafogo, 316, Rio de Janeiro (RJ). Em São Paulo (SP), às exibições estão marcadas para 4 (às 21h) e 5 (às 13h) de abril, no Cine Livraria Cultura (Sala 1), no Conjunto Nacional, na Av. Paulista, 2073. A entrada é gratuita.

 

Leia matéria da Repórter Brasil e assista ao trailer no link http://www.youtube.com/reporterbrasil

 

Visite também o site do Festival para conhecer a programação completa e horário das exibições dos documentários - http://www.itsalltrue.com.br/2011/home.asp?lng=

 

 

17-3-2011 – Repórter Brasil

"Carne Osso" retrata trabalho nos frigoríficos brasileiros

Selecionado para o Festival "É Tudo Verdade", documentário alia imagens impactantes a depoimentos que caracterizam o duro cotidiano do trabalho nos frigoríficos brasileiros de abate de aves, bovinos e suínos

Por Repórter Brasil

 

Quem trabalha em um frigorífico se depara diariamente com uma série de riscos que a maior parte das pessoas sequer imagina. Exposição constante a facas, serras e outros instrumentos cortantes; realização de movimentos repetitivos que podem gerar graves lesões e doenças; pressão psicológica para dar conta do alucinado ritmo de produção; jornadas exaustivas até mesmo aos sábados; ambiente asfixiante e, obviamente, frio - muito frio.

 

Esse é o duro cotidiano de trabalho nos frigoríficos brasileiros de abate de aves, bovinos e suínos que o documentário "Carne Osso" (confira trailer) traz à tona. Ao longo de dois anos, a equipe da ONG Repórter Brasil percorreu diversos pontos nas regiões Sul e Centro-Oeste à procura de histórias de vida que pudessem ilustrar esses problemas.



O filme alia imagens impactantes a depoimentos que caracterizam uma triste realidade que deve ser encarada com a devida seriedade pela iniciativa privada, pela sociedade civi l e pelo poder público.



Selecionado para o Festival "É Tudo Verdade", "Carne Osso" concorre na competição brasileira de longas e médias metragens. O filme será exibido nos dias 2 (às 21h) e 3 (às 13h) de abril, no Cine Unibanco Arteplex (Sala 6) - Praia de Botafogo, 316, Rio de Janeiro (RJ). Em São Paulo (SP), às exibições estão marcadas para 4 (às 21h) e 5 (às 13h) de abril, no Cine Livraria Cultura (Sala 1), no Conjunto Nacional, na Av. Paulista, 2073. A entrada é gratuita.

 

Danos físicos e psicológicos

"Cerca de 80% do público atendido aqui na região é de frigoríficos. Ainda é um pouco difícil porque o círculo vicioso já foi criado. O trabalhador adoece e vem pro INSS. Ele não consegue retornar, ele fica aqui. E as empresas vão contratando outras pessoas. Então já se criou um círculo que agora para desfazer não é tão rápido e fácil"  - Juliana Varandas, terapeuta ocupacional do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) de Chapecó (SC).

 

As estatísticas impressionam. De acordo com o Ministério da Previdência Social, um funcionário de um frigorífico de bovinos tem três vezes mais chances de sofrer um traumatismo de cabeça ou de abdômen do que o empregado de qualquer outro segmento econômico. Já o risco de uma pessoa de uma linha de desossa de frango desenvolver uma tendinite, por exemplo, é 743% superior ao de que qualquer outro trabalhador. E os problemas não são apenas físicos. O índice de depressão entre os funcionários de frigoríficos de aves é três vezes maior que o da média de toda a população economicamente ativa do Brasil.



Ritmo frenético

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A gente começou desossando três coxas e meia. Depois, nos 11 anos que eu fique lá, cada vez eles exigiam mais. Quando saí, eu já desossava sete coxas por minuto" - Valdirene Gonçalves da Silva, ex-funcionária de frigorífico.



Em alguns frigoríficos de aves, chegam a passar mais de 3 mil frangos por hora pela "nória" - a esteira em que circulam os animais. Há trabalhadores que fazem até 18 movimentos com uma faca para desossar uma peça de coxa e sobrecoxa, em apenas 15 segundos. Isso representa uma carga de esforço três vezes superior ao limite estipulado pelos especialistas em saúde do trabalho.



Reclamações curiosas

"Tu nã o tem liberdade pra tu ir no banheiro. Tu não pode ir sem pedir ordem pro supervisor teu, pro encarregado teu. Isso aí é cruel lá dentro. Tanto que tem gente que até louco fica" - Adelar Putton, ex-funcionário de frigorífico



Muitos trabalhadores se queixam também de restrições de menor importância – pelo menos, aparentemente. Por exemplo: o funcionário só pode ir ao banheiro com permissão do supervisor e em um tempo bastante curto, coisa de poucos minutos. Também são tolhidas aquelas conversinhas paralelas que possam diminuir o ritmo de trabalho.



Problemas com a Justiça

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O trabalho é o loc al em que o empregado vai encontrar a vida, não é o local para encontrar a morte, doenças e mutilações. E isso no Brasil, infelizmente, continua sendo uma questão séria" Sebastião Geraldo de Oliveira, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª região (TRT-3).

 

Nas regiões em que estão instaladas as indústrias frigoríficas, boa parte dos processos que correm na Justiça do Trabalho diz respeito a essas empresas. Em cidades como Chapecó, no oeste de Santa Catarina, as ações movidas por trabalhadores contras essas companhias respondem por mais da metade dos processos.

 

Pujança econômica

"Esse é um problema de interesse do conjunto da sociedade, não é só de um setor. O Estado tem que se posicionar. Não se pode fazer de forma tão impune ações que levam ao adoecimento e à incapacidade tantos trabalhadores" - Maria das Graças Hoefel, médica e pesquisadora.



O Brasil é simplesmente o maior exportador de proteína animal do mundo. O chamado "Complexo Carnes" ocupa o ter ceiro lugar no pódio do agronegócio nacional, atrás apenas da soja e do açúcar/etanol. Em 2010, as vendas externas superaram US$ 13 bilhões. No total, o setor emprega diretamente 750 mil pessoas. Vale lembrar que muitos desses frigoríficos se transformaram em gigantes no mercado mundial com dinheiro do governo via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - o principal banco de fomento da economia brasileira.



Melhorar é possível

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Basicamente, é conscientizar essas empresas para reprojetar essas tarefas. Introduzir pausas, para que exista uma recomposição dos tecidos dos membros superiores, da coluna. Em algumas vai ter que ter diminu ição de ritmo de produção. Nós estamos hoje chegando só no diagnóstico do setor. Mas as empresas ainda refratárias a esse diagnóstico" - Paulo Cervo, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) 



Não é difícil diminuir a incidência de problemas no ambiente de trabalho de um frigorífico. Reduzir a jornada de trabalho, adotar um rodízio de tarefas, diminuir o ritmo da linha de produção e realizar pausas mais frequentes e mais longas são algumas medidas possíveis. Falta apenas que as empresas se conscientizem disso.

 

Ficha técnica - Carne Osso

Duração: 65 minutos

Direção: Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros

Roteiro e edição: Caio Cavechini

Fotografia: Lucas Barreto

Pesquisa: André Campos e Carlos Juliano Barros

Produção Executiva: Maurício Hashizume

Realização: Repórter Brasil, 2011


Mais informações sobre este assunto na matéria abaixo do portal da CUT.



Norma Regulamentadora e as doenças no setor frigorífico


Seminário no Paraná chama atenção para o combate às doenças causadas pelo excesso da carga horária de trabalho


Rui A.G.Marques - FTIA 


O evento foi organizado pela Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Paraná (FTIA) com o apoio da CUT, CONTAC, Ministério Público do Trabalho MPT, Ministério do Trabalho e Emprego e da Fundacentro e serviu para aprofundar o debate sobre a elaboração da NR para o setor frigorífico no Brasil. Compareceram sindicalistas várias regiões do estado, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais.


 


Durante o seminário o presidente da CUT Paraná, Roni Barbosa ressaltou a importância da discussão por parte dos trabalhadores do setor frigorífico e dos seus sindicatos sobre a solução dos vários problemas que afligem a categoria entre eles o mais importante, o combate às doenças laborais LER/DORT/ estresse e depressão causadas pelo excesso da carga horária de trabalho.


 


O presidente da FTIA, Ernane Garcia explicou aos presentes que “o evento foi o primeiro de muitos que serão organizados no estado para fazer avançar a elaboração de uma normativa que proteja a saúde dos trabalhadores do setor frigorífico brasileiro”.


 


Siderlei de Oliveira, presidente da CONTAC também ressaltou a importância do seminário. "O movimento sindical tem que se organizar cada vez mais para se contrapor as mudanças no mundo do trabalho. Isto é fundamental para podermos representar os interesses dos trabalhadores em todas as áreas e a saúde é, sem dúvida, a mais importante de todas".




Debates

Além dos sindicalistas participaram do evento os Procuradores do Ministério Público do Trabalho, Dr. Ricardo Bruell da Silveira, do Paraná, Dr. Sandro Sarda, de Santa Catarina, Dr. Paulo Roberto Cervo, do Ministério do Trabalho e Emprego, Thais Helena de Carvalho Barreira, da Fundacen tro, Dr. Ruddy Cesar Facci, especialista em Medicina do Trabalho, Celeste Ribeirete, da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, Enio Soares do Ministério do Trabalho e Emprego, Marisa Stedile, secretaria geral da CUT Paraná e presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, Hermes Leão, da APP Sindicato, Sandro Silva, do DIEESE e Siderlei de Oliveira, presidente da CONTAC.


 


Durante os debates os participantes puderam expor suas dúvidas quanto as questões relacionadas a legislação já existente e a aplicação da nova NR que está sendo elaborada por representantes dos trabalhadores, governo e empresários e que será depois enviada ao Ministério do Trabalho para analise e posterior publicação no Diário Oficial. O Procurador do Ministério Público do Trabalho, Dr. Sandro Sarda (SC) foi um dos que mais defendeu o aprimoramento da NR para que ela não acabe beneficiando os interesses dos empresários do setor. "Não podemos concordar com normas que venham precarizar ainda mais os direitos dos trabalhadores. Devemos andar para a frente e não retroceder!", afirmou durante o evento.




Ao final do semin ário todos saíram com uma certeza: os sindicalistas devem aprofundar mais o seu conhecimento sobre a legislação e pressionar cada vez mais as empresas a respeitar a saúde dos trabalhadores para coibir o aumento dos casos de LER/DORT no setor frigorífico e avícola. O Procurador do Trabalho Ricardo Bruel (PR) em seu discurso de encerramento enalteceu a organização do seminário e afirmou que o Ministério Púbico do Trabalho não existe para tomar o lugar dos sindicatos mas sim agir na defesa dos direitos da população e atuar no sentido de fazer com que a sociedade avance cada vez mais na direção de um estado de direito com mais justiça social para todos, principalmente para os trabalhadores.




Participantes

Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Apucarana (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Arapongas, Rolândia e Sabaudia (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Toledo (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Cascavel (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Porecatu (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Frigoríficas, Laticínios e Derivados, Rações e Derivados de Castro-Carambeí (PR), Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias do Mate, Laticínios e Frigoríficos de Curitiba e Região Metropolitana (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Ciano rte (PR), Sindicato dos Empregados nas Indústrias de Alimentos de Umuarama (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Frigorificas, Laticínios e Derivados e Ponta Grossa (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Francisco Beltrão (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Marechal Cândido Rondon, Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Dois Vizinhos (PR), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Criciuma (SC), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Uberlândia (MG), Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação CONTAC (SP), Central Única dos Trabalhadores CUT Paraná, APP Sindicato (PR), Fundacentro, Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho e Emprego e Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Paraná (FTIA)

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