Os recentes conflitos nos canteiros de obras das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, ambas em Rondônia, trouxeram à tona problemas diversos, como a falta de preparação das áreas para onde migraram milhares de trabalhadores de todas as partes do país e o descumprimento da legislação trabalhista e das normas de segurança e saúde por parte das empresas. Os trabalhadores reclamam das más condições de trabalho, enquanto especialistas e autoridades têm criticado a falta de planejamento e acompanhamento do governo, incluindo aí a deficiência na fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego.
Especificamente na área de segurança e saúde do trabalho, o quadro de Auditores Fiscais do Trabalho – AFTs é altamente deficitário, com pouco mais de 600 profissionais especializados em engenharia de segurança e medicina do trabalho em todo o país. As aposentadorias (cerca de cinco publicações por semana) agravam a situação dia a dia, assim como a ausência de concursos direcionados para estas áreas de especialização dentro da carreira Auditoria Fiscal do Trabalho. Em Rondônia, palco dos conflitos, são pouco mais de 40 AFTs. Porém, o número insuficiente de AFTs se repete em todos os demais estados.
A Secretaria de Inspeção do Trabalho – SIT informou ao SINAIT, que o Ministério do Trabalho e Emprego acompanha e participa “ativamente do processo de avaliação e resolução do caso”. As fiscalizações são realizadas por meio do Grupo Nacional de Fiscalização de Grandes Obras e das equipes de Auditores Fiscais do Trabalho nas Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego – SRTEs, que dão continuidade ao trabalho nos intervalos entre as ações do Grupo Nacional. Não informou se há um programa específico para obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC.
Dados divulgados pela SIT dão conta de que em 2010 foram realizadas 26.781 ações somente no segmento da construção civil, representando cerca de 19% do total de ações da área de segurança e saúde no trabalho, que somaram mais de 135 mil ações. A fiscalização de grandes obras, de acordo com relatório da SIT, está entre as prioridades para 2011, pois a “significativa taxa de acidentes de trabalho demanda atuação preventiva e repressiva constantes”.
Na avaliação do SINAIT o recorte de fiscalização em obras do PAC e para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016 deveria ser feito, mas não há pessoal suficiente para isso. “O país virou um canteiro de obras, de norte a sul, o que é positivo, pois cria empregos e movimenta a economia, fortalece a infraestrutura. Mas a estrutura para receber os trabalhadores no entorno dos locais de obras do porte das hidrelétricas de Rondônia e de Belo Monte, no Pará, não foi criada. Os problemas são de toda ordem: sociais, econômicos, trabalhistas e ambientais. É isso que está causando o movimento de revolta dos trabalhadores”, observa Rosângela Rassy, presidente do SINAIT.
Essa situação, para Rosângela, de forma extremada, vem reforçar e confirmar a necessidade de nomeação dos candidatos aprovados no concurso público e de realização de mais concursos públicos com direcionamento para a área de segurança e saúde no trabalho, pois o exíguo quadro de AFTs é um complicador para a elaboração e execução de uma política de fiscalização mais ostensiva, capaz de cobrir todo o território nacional e cumprir seu papel de proteger a vida e a integridade física e mental dos trabalhadores. “Sabemos o que estamos falando. Se o governo não atender estas reivindicações os problemas na área vão se agravar e chegar a uma situação insustentável. O conhecimento está indo embora com os colegas que estão se aposentando e não há reposição do quadro para modernizar e continuar o trabalho”, diz Rosângela.
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24-3-2011 - MTE
MTE realizou mais de 26 mil fiscalizações na construção civil em 2010
Ações representam 19,75% das fiscalizações de saúde e segurança do trabalho no último ano. Mais de 153 mil itens foram regularizados
Brasília, 24/03/2011 – Em 2010, os Auditores Fiscais do Trabalho (AFTs), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), realizaram 26.781 ações fiscais no setor de construção civil. As fiscalizações representam 19,75% do total de ações fiscais de segurança e saúde do trabalho desenvolvidas no país no último ano. Entre 2003 e 2010 foram realizadas 208.700 ações no setor, que representa 17,5% do total de ações de segurança e saúde do trabalho em todo país.
Como resultados das ações analisadas em 2010, 153.982 itens de cumprimento obrigatório de segurança e saúde foram regularizados em todo o país. Os itens regularizados são aqueles indicados nas Normas Regulamentadoras - NR de segurança e saúde editadas pelo MTE, de cumprimento obrigatório pelas empresas. Além disso, foram utilizadas, como medidas de prevenção, em situações de grave e iminente risco para o trabalhador, um total de 2.665 embargos e interdições no período.
Também foram lavrados 16.630 autos de infração e realizadas análises técnicas detalhadas em 376 acidentes graves e fatais no último ano. Os resultados dessas análises, além de servirem como diagnóstico e subsídios para a fiscalização, são também disponibilizados para as Procuradorias do INSS como um dos fundamentos para a promoção de ações regressivas, nos casos de caracterização de culpa do empregador.
De acordo com a secretaria de Inspeção do Trabalho, Vera Albuquerque, a indústria da construção é uma das prioridades das ações de inspeção em segurança e saúde no trabalho. “O planejamento da fiscalização prevê projetos específicos para esta atividade nas 27 superintendências. As obras de infraestrutura, como a construção de hidrelétricas e linhas de transmissão, são acompanhadas pelo Grupo Nacional de Fiscalização de Grandes Obras. O planejamento das ações considera o tipo e porte da obra, a fase em que se encontra e o número de trabalhadores envolvidos. A execução da fiscalização conta com o apoio da equipe de auditores da SRTE do estado onde se localiza a obra, que dá continuidade ao acompanhamento e à fiscalização nos intervalos entre as ações do Grupo Nacional”, explica.
Para 2011, a programação do Grupo Nacional prevê a continuidade da fiscalização das obras das hidrelétricas, além de ações em linhas de transmissão e nas obras de preparação para receber a Copa do Mundo de 2014. De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o estoque de trabalhadores com carteira assinada no setor de construção civil em 2010 era de 2,4 milhões.
Para o Ministro Carlos Lupi, o trabalho de fiscalização é fundamental no momento econômico que o Brasil vive. "Estamos em franco crescimento, e precisamos garantir que os empregos continuem surgindo, além de garantir sempre a segurança dos trabalhadores, principalmente na Construção civil", afirmou.
Estados – Os estados com maior número de ações na construção civil foram São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde foram realizadas cerca de 10 mil fiscalizações em 2010. No total de itens regularizados nas ações fiscais, os três estados também lideram, tendo juntos mais de 55 mil itens regularizados no período.
29-3-2011 - Agência Brasil
Centrais pedem ao governo mais fiscalização e garantias trabalhistas em canteiros do PAC
Luciana Lima - Repórter da Agência Brasil
Brasília - As centrais sindicais estão reunidas nesta manhã com o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, para tratar das manifestações de trabalhadores ocorridas nos canteiros de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Entre as reivindicações, os sindicalistas querem mais fiscalização nos canteiros e, caso sejam encontradas irregularidades, falam até na suspensão de repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de outros fundos públicos para as empresas.
A reunião foi um pedido do ministro na semana passada, quando as revoltas iniciadas nos canteiros das usinas Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, começaram a se reproduzir em outras obras do PAC, em todo país. O governo passou a monitorar o assunto, e a presidenta Dilma Rousseff preferiu tratar o assunto por meio da Secretaria-Geral da Presidência da República.
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, diz que a questão é urgente. "Não se pode ter nas obras do PAC condições análogas à escravidão", disse. "É preciso que o governo fiscalize e que cumpra o que nós vamos acordar nessa reunião. Do contrário, podemos ter uma reação em cadeia", completou Patah em entrevista à Agência Brasil.
As obras das usinas Jirau e Santo Antônio estão paradas há duas semanas, e as empresas tomaram a iniciativa de mandar os trabalhadores para casa e só chamá-los de volta quando resolverem o impasse. Essa foi a solução encontrada para desmobilizar o movimento dos empregados.
A suspensão dos repasses às empreiteiras é um ponto defendido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Além disso, a entidade quer também a criação de uma câmara tripartite para acompanhar as obras PAC e a constituição de uma força-tarefa formada pelo Ministério do Trabalho e pelo Ministério Público com o objetivo de fiscalizar as obras e o cumprimento das normas de proteção ao trabalho.
30-3-2011 – Jornal Eletrônico Rondônia ao Vivo
Superintendente do Trabalho discute Jirau e Santo Antônio em Brasília
O Superintendente Regional do Trabalho e Emprego em Rondônia – SRTE - RO, Rodrigo Melo Nogueira, participou na última terça-feira (29), em Brasília, da reunião com o ministro Gilberto Carvalho - Secretaria Geral da Presidência da República - , quando o governador do Estado de Rondônia, Confúcio Moura e o prefeito da cidade de Porto Velho, Roberto Sobrinho juntamente com o deputado estadual Padre Tom (PT-RO), foram tratar dos conflitos e tumultos que vem ocorrendo nas obras das usinas de Santo Antônio e Jirau no rio Madeira.
Rodrigo Nogueira fez uma explanação sobre o que vem ocorrendo em relação o conflito em Jirau e a paralisação dos trabalhos na obra da usina de Santo Antônio e o que a Superintendência do Trabalho e Emprego em Rondônia vem fazendo para contribuir para a solução do problema principalmente no que diz respeito à mediação entre as empresas das obras e as entidades sindicais representativas dos trabalhadores, bem como, quanto a fiscalização in loco das obras.
O Superintendente Informou ao Secretario Geral da Presidência da República que a SRTE-RO capitaneou a intermediação entre os patrões e os empregados das obras das usinas fazendo com que sentassem na mesa de negociação para começar os acertos visando o fim da crise.
“Analisamos que um dos maiores fatores para o conflito em Jirau não ter uma trégua era a falta de diálogo e conversação entre a empresa Camargo Correia e as entidades representativas dos trabalhadores. Foi assim que promovemos, via reunião de intermediação, na Superintendência Regional do Trabalho, a conversação, o diálogo entre as partes para se achar as soluções para a solução da crise”, disse Nogueira.
“Vamos continuar com as ações da Superintendência visando minorar ao máximo esse confronto de trabalhadores e patrões que não contribuem para o momento especial de desenvolvimento pelo qual passa nosso Estado. Mas vamos está atento para que a legislação trabalhista em relação a direitos e deveres tanto dos trabalhadores quanto dos empregadores sejam respeitados. Esse é o nosso papel”, disse o Superintendente.
31-3-2011 – O Estado de São Paulo
Ministério Público pede embargo da obra de Jirau ao TRT
Quetila Ruiz
O Ministério Público do Trabalho (MPT) pediu ao Tribunal Regional do Trabalho de Rondônia que embargue as obras da Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, enquanto não forem realizadas as obras de recuperação do centro de vivência dos trabalhadores, que foi destruído por incêndio há duas semanas, durante revolta de trabalhadores.
Segundo o MPT, o pedido de embargo foi feito depois que uma vistoria dos auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego concluiu pela inviabilidade temporária do prosseguimento das atividades das obras. "Ficou constatado pela auditoria que boa parte dos alojamentos, a totalidade da área de lazer, lavanderia, farmácia e agência bancária da margem direita foram destruídos pelo fogo", diz o Relatório de Inspeção. Depois da vistoria, reuniram-se os auditores fiscais e os representantes do Sindicato dos trabalhadores e do empregador para estabelecer em que momento a obra poderá ser retomada.
O chefe do Núcleo de Segurança e Saúde no Trabalho esclareceu que a Norma Regulamentadora n.º 18 estabelece que quando o empregador mantém alojados trabalhadores, há a necessidade de níveis mínimos de segurança para a condução de uma obra. "Partindo-se dessa premissa, é imprescindível que a área de vivência seja restaurada dentro dos parâmetros estabelecidos pela norma, para que a empresa possa retornar à produção especificamente, dentro dos padrões anteriormente ao evento."
O relatório, anexado à petição do Ministério Público, afirma que "a empresa deverá comunicar e solicitar a aprovação do órgão regional do Ministério do Trabalho, quando ocorrerem modificações substanciais nas instalações e nos equipamentos de seus estabelecimentos".
Santo Antônio. O impasse entre a empresa responsável pela construção da hidrelétrica Santo Antônio, também no Rio Madeira, o Consórcio Santo Antônio Civil (CSAC), e os trabalhadores da obra já dura 13 dias. As atividades foram paralisadas no dia 18, após as manifestações na usina de Jirau. O Tribunal Regional do Trabalho considerou a greve ilegal. Com isso, estão sendo contabilizadas faltas ao trabalho dos operários e o sindicato terá de pagar R$ 10 mil por dia parado.
O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil de Rondônia (Sticcero) apresentou à empresa uma lista com as reivindicações dos trabalhadores, mas até o momento não obteve nenhuma resposta da empresa. "Eles estão se valendo da data-base, que está marcada para o dia 1.º de maio. Até lá, a empresa está dentro da lei. Nessa história, o sindicato e os funcionários é que estão perdendo. Já explicamos para os trabalhadores que não podemos fazer nada nesse momento, mas a maioria não entende e comunicaram que só voltarão ao serviço quando tiver acordo", explicou o secretário-geral do Sticcero, Francisco das Chagas Batista da Costa.
27-3-2011 – O Globo
Obras do PAC não têm controle específico para segurança
ALTO RISCO: Nos cálculos da OIT, para cada morte, há 750 mil acidentes não fatais. Há fiscalização de gastos e emissão de licenças, mas falta na área trabalhista
Henrique Gomes Batista
RIO, ITABORAÍ (RJ) e RECIFE. Nos cálculos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para cada morte durante atividade profissional, há de 750 a mil acidentes não fatais. Os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por sua importância, fizeram o governo criar um sistema especial de acompanhamento orçamentário das obras e uma nova forma mais rápida para obter licenças ambientais. Até o Tribunal de Contas da União (TCU) criou um esquema exclusivo para fiscalizar os investimentos. Mas, na questão trabalhista, não há nenhum monitoramento específico das obras do PAC.
E, embora o governo faça a cada quatro meses uma detalhada radiografia das obras do programa, com ampla divulgação para seus dados financeiros, problemas e avanços, não há nestes balanços sequer citação às questões trabalhistas. O governo divulga o volume de investimentos, o estágio de cada obra e os principais entraves. Porém, não sabe informar quantos trabalhadores hoje atuam no PAC.
Coordenador do PAC, o Ministério do Planejamento afirmou em nota que a responsabilidade sobre as informações a respeito de acidentes de trabalho e mortes nas obras do programa são de responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE): governo federal possui uma estrutura de fiscalização com o objetivo de verificar o cumprimento, por parte das empresas, da legislação de proteção ao trabalhador (...) cuja responsabilidade é do Ministério do Trabalho através das Delegacias Regionais do Trabalho - DRTs. Apesar desta fiscalização abranger todas as obras do território nacional, o MTE criou um Grupo Esp ecial de Fiscalização de Grandes Obras de Infraestrutura que atua principalmente em obras do PAC".
Cinco mortes em obras da Petrobras no PAC
Entretanto, o Ministério do Trabalho não confirma essa informação. Procurada pelo GLOBO, a pasta informou, por meio de sua assessoria, que "o Ministério do Trabalho e Emprego fiscaliza as obras da construção civil, sendo que não há um corte especifico para o PAC".
Em Itaboraí, a construção do bilionário Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) ainda está em fase inicial, na terraplenagem, mas já contabiliza uma morte em seus registros. Marcos Vinicius Pereira da Silva, de 38 anos, foi imprensado contra uma pilastra por uma retroescavadeira em setembro do ano passado. Esta é apenas uma das cinco mortes que ocorreram entre 2009 e 2010 em projetos da Petrobras que integram o PAC.
A morte nesta obra - orçada em R$19,3 bilhões, com previsão de durar até 2017 e que empregará 25 mil trabalhadores no auge da construção, quatro vezes mais que os seis mil atuais - marcou a cidade de Itaboraí, que anseia viver um boom econômico com o complexo, que vai processar mais de 330 mil barris de petróleo por dia quando estiver finalizado. No município de 300 mil habit antes, todos se lembram do caso. O trauma maior é, claro, para a viúva de Marcos, que evita falar sobre o assunto e ainda sofre para explicar para sua pequena filha a ausência do pai. Funcionário de uma empresa que prestava serviço à empreiteira contratada pela Petrobras, a família do operário recebeu apoio financeiro, como seguro e custos do enterro, mas a advogada da viúva ainda estuda a melhor maneira de pedir a pensão.
O caso de Marcos é mais um dos que está elevando o número de mortos em terraplenagem no país - obra considerada relativamente simples. Segundo dados oficiais do Ministério da Previdência, a taxa de mortalidade durante a terraplanagem, calculada para grupos de 100 mil trabalhadores, passou de 15,27 em 2007 para 36,15 em 2009.
Estatal diz que há fiscalização mensal
Perguntada sobre esta morte e quatro outras registradas em suas obras - uma na ampliação da refi naria Presidente Vargas, uma na construção da refinaria de Abreu Lima e duas no petroleiro João Cândido - a Petrobras se limitou a dizer, em nota, que tem como política enfatizar, com as empresas de que contrata serviços, "o cumprimento de exigências contidas no Anexo Contratual de Segurança, Meio Ambiente e Saúde." A empresa indica ainda que isso é fiscalizado mensalmente.
Apesar disso, a estatal, mesmo sendo procurada pelo GLOBO há mais de uma semana, não soube dar informações como, por exemplo, o número de empregados trabalhando em cada uma destas grandes obras ou a quantidade de acidentados e mortos. A empresa chegou a afirmar, na sexta-feira, que os responsáveis por essas informações eram os consórcios de empreiteiras - que muitas vezes terceirizam ou até quarteirizam partes relevantes das obras a outras empresas menores.
Explosão mata três em obra no Rio São Francisco
Em Pernambuco, uma explosão no canteiro de obras da transposição do Rio São Francisco deixou três mortos e dez feridos em dezembro. O trecho da obra está sob responsabilidade do Consórcio Coesa/Barbosa Melo/Galvão/OAS. Segundo o delegado Leonardo da Mata Gama, responsável pelo inquérito que apura o acidente em Sertânia, a 390 quilômetros de Recife, como os trabalhadores entraram em recesso de fim de ano, e a orientação era para que não ficasse nenhum material estocado, o gerente de produção determinou que fosse usado todo o explosivo. Ele indiciou por homicídio culposo e lesões corporais culposas o gerente de produção, um encarregado e um perito da obra.
- Eles resolveram detonar tudo logo, destinando a carga extra em uma segunda explosão no mesmo dia. Na segunda, houve retardo da sobra, e normas de segurança não foram respeitadas. Foi uma sucessão de atos culposos, muita negligência - disse.
Segundo o policial, foram detonadas pelo menos 1.500 bananas de dinamite sem as precauções devidas.
31-3-2011 – O Globo
Fracasso sindical
Cássio Casagrande
Em tempos de euforia econômica, pleno emprego e aumento da massa salarial, certamente ninguém esperava a eclosão de revoltas operárias no Brasil. Os graves episódios de Jirau, bem como as tumultuárias paralisações em Pecém e Abreu Lima, surpreenderam a todos, inclusive os respectivos sindicatos de base, que prontamente arvoraram-se em declarar que os movimentos ocorreram à sua revelia.
Mais surpreendente do que o movimento trabalhista em si e a anomia sindical que se lhe seguiu, só mesmo a bizarra declaração dos responsáveis pelo consórcio construtor da Usina de Jirau, de que a revolta foi provocada por "um grupo de vândalos", retórica bastante usual na República Velha em que a questão social era nada mais do que "uma questão de polícia". Não é crível que uma centena de ônibus e dezenas de alojamento s pudessem ser destruídos por um mero espírito de vandalismo inconsequente, sem que um caldo de cultura de opressão e exploração estivesse fervilhando entre trabalhadores sujeitos a péssimas condições laborais.
A revolta de Jirau em boa hora vem nos lembrar que "a felicidade geral da nação" ainda é uma realidade distante para milhares de trabalhadores migrantes do Norte-Nordeste, que em decorrência da escassez de mão-de-obra no Sul-Sudeste são recrutados por mercadores de peões (conhecidos no jargão proletário como "gatos") para trabalhar em condições degradantes, seja nas obras do PAC, seja nos canaviais do "moderno" setor sucroalcooleiro, onde não raro morrem de fadiga.
Os acontecimentos de Jirau, Pecém e Abreu Lima não despertaram maior atenção do público porque coincidiram com a visita de Barack Obama ao Brasil. Em seu celebrado discurso no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o líder americano destacou o grau de evolução da democracia brasileira, enquanto as chamas ainda ardiam em Rondônia, como a advertir que o regime democrático não se resume ao direito de voto: só há democracia onde os direitos da cidadania são respeitados, inclusive no local de trabalho.
Apenas uma central sindical pediu que as condições de trabalho dos empregados sejam investigadas. O governo federal mandou a Rondônia as tropas da Força Nacional e parece preocupado que o cronograma das obras do PAC siga adiante. Seria importante ter enviado também uma força-tarefa para verificar as condições de trabalho no local. Se há algo de notável a ser celebrado nestas revoltas é o fato de que o Estado não conseguiu amalgamar em seu aparat o burocrático toda a espontaneidade e vivacidade dos movimentos sociais e do sentimento de justiça dos trabalhadores.
No entanto, a revolta de Jirau, em sua força bruta e chocante, também nos faz pensar como ainda estamos longe do Primeiro Mundo, não apenas em razão da persistência do trabalho degradante, como pela dificuldade que os trabalhadores encontram em canalizar suas reivindicações através de um sindicalismo de base efetivamente representativo e independente.
31-3-2011 – O Globo
Falta de canais para queixas gerou os motins
Especialistas listam fragilidade sindical, ação errada das empresas e falta de fiscalização
Agencia O Globo: Karina Lignelli e Cássia Almeida
SÃO PAULO e RIO. Uma conjunção de fatores explica a sucessão de rebeliões em grandes canteiros de obras no país: falta de canais de reclamação para os trabalhadores dentro das empresas, atividade muito arriscada, isolamento, falta de estrutura dos sindicatos locais diante do aumento da base de operários e uma ação coordenada do governo para monitorar essas obras no país, afirmam especialistas. O coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, acredita que todos têm sua parcela de culpa pela onda de quebra-quebra nos canteiros de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
As construtoras, por contratarem "gatos" para arregimentar operários por todo o país, oferecendo "condições precárias para os trabalhadores, na tentativa de apressar o término das obras"; as centrais sindicais, que demoraram "a acordar" para o problema, revelando falta de informações sobre a situação dos trabalhadores fora das grandes capitais do país; e o governo, por não fiscalizar as obras.
Para Oliveira, foi um movimento espontâneo, já que as reivindicações são muito semelhantes em todas as obras, alimentado pela falta de líderes para negociação.
- Não há uma liderança clara. O positivo disso tudo é que esse problema confirma as condições de trabalho no setor de maneira geral, provocando a necessidade de governo, grandes construtoras e centrais discutirem um pacto que garanta minimamente as condições de trabalho nessas obras - diz o coordenador do Dieese.
Novas lideranças sindicais devem surgir
Segundo o sociólogo do Iuperj Adalberto Cardoso, o saldo desse movimento será positivo. Agora, todos os atores institucionais estão com os olhos voltados para a questão.
- É de se esperar que as condições nessas obras melhorem a partir desses movimentos - afirma.
Para ele, a tendência é que surjam novas lideranças nas bases sindicais, se os atuais dirigentes não conseguirem dar conta das demandas desses trabalhadores:
- A base desses sindicatos mudou. Aumentou muito, e é natu ral que as lideranças desses movimentos ganhem espaço nos sindicatos.
Mas são os trabalhadores que mais sofrem com essas rebeliões, diz Cardoso. Muitos devem perder seus empregos:
- A empresa tem capacidade de identificar esses líderes. Mas, como o país está crescendo, eles não devem ter problemas em se reempregar.
O consultor sindical João Guilherme Vargas Neto, que acompanha o movimento sindical há décadas e atualmente está ligado à Força Sindical, diz que a pauta trabalhista ficou em segundo plano quando se discutiu o PAC:
- Falou-se da pauta econômica, com a geração de empregos, investimento, e da pauta ambiental. Esquecemos da trabalhista. Essas rebeliões demonstraram a necessidade de equilibrar as três pautas.
Para ele, também faltou estr utura nos sindicatos das bases para lidar com o gigantismo das obras. Havia locais, como Pecém, em que a base representativa do sindicato subiu de 600 para 20 mil da noite para o dia.
31-3-2011 – Correio Braziliense
CUT prevê série de protestos
Diego Abreu
Construção civil
Depois das paralisações em obras de Rondônia, a Central Única dos Trabalhadores alerta para manifestações em outros estados, motivadas pelo desrespeito aos direitos dos operários, principalmente nos canteiros do Minha Casa, Minha Vida.
Em meio à suspensão das obras das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) alertou o governo federal para o risco de paralisação de outras empreitadas tratadas como prioritárias pela presidente Dilma Rousseff. O motivo, em todos os casos, é a falta de condições básicas oferecidas aos operários pelas construtoras. A bola da vez são as edificações do programa Minha Casa, Minha Vida. Em Brumado, na Bahia, sindicalistas relatam a primeira interrupção nas obras do programa, liderada por operários que reivindicam reajuste salarial e melhorias na alimentação.
O presidente da CUT, Artur Henrique, relata denúncias de desrespeito aos trabalhadores da construção civil em todo o país. Não só no Minha Casa, Minha Vida, como também nos projetos de infraestrutura, além dos já conhecidos problemas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Queremos o compromisso das empresas para eliminar os problemas. Nossa luta é por condições de trabalho decentes, saúde, segurança e alimentação”, disse. A estimativa é de que mais de 1 milhão de trabalhadores estejam nos canteiros das grandes obras do governo federal.
O presidente da CUT responsabiliza as empreiteiras e o governo pela situação degradante dos operários. “Po r parte das empresas, há omissão. E, por parte do governo, falta de planejamento. É preciso criar uma força-tarefa para indicar responsáveis para, com prefeitos e sindicatos, avaliar o impacto da chegada dos trabalhadores e a necessidade de preparar a cidade para receber 22 mil pessoas, como é o caso de Jirau”, alertou Artur Henrique.
Sem contrapartidas
De acordo com o diretor da Confederação Nacional da Construção e da Madeira, Claudio da Silva Gomes, as contrapartidas sociais não estão sendo aplicadas para a valorização do trabalhador. Ele disse ter constatado casos de operários que vão do Nordeste para obras do Sudeste, com promessas de melhores salários e boas acomodações. Porém, segundo Gomes, “nada disso acontece”. “A situação é precária, com alto índice de informalidade, prin cipalmente no Minha Casa, Minha Vida”, afirmou.
O procurador do Trabalho Everton Rossi destaca que o Ministério Público do Trabalho tem verificado uma série de irregularidades, como excesso de jornada e falta de alimentação em obras. “Decorreu uma espécie de efeito Jirau, uma insurgência dos trabalhadores em função da falta de segurança de trabalho”, afirmou.
Procurado, o Ministério do Trabalho disse que “vem participando ativamente do processo de avaliação e resolução desta questão”. Hoje, representantes do governo reúnem-se com empresas e centrais sindicais, no Palácio do Planalto, para tratar do assunto.