As atenções do mundo se voltam para a África do Sul. Depois de décadas de notícias ruins relacionadas ao regime de segregação racial – apartheid – extinto há quase 20 anos, à pobreza, à fome e à maior epidemia de Aids do Planeta, é por via do esporte que a África, em geral, e a África do Sul, em particular, ocupam o noticiário mundial. A Copa do Mundo de 2010 é a primeira realizada no Continente Africano, e está servindo para mostrar os vários aspectos que envolvem a cultura e a vida da população local. A vida realmente melhorou por lá, como mostram as dezenas de reportagens das emissoras que cobrem o mundial, mas ainda falta muito para superar décadas de desigualdades e ressentimentos entre a população.
A realização do mundial de futebol gerou oportunidades para empresários e trabalhadores, como geralmente acontece nos países que sediam o torneio. Mas as obras e investimentos não significaram, necessariamente, melhoria na qualidade de vida da população. Especialmente em 2009 e neste ano, os trabalhadores que participaram da construção do Soccer City, em Johanesburgo, no bairro do Soweto, foram notícia em todo o mundo porque entraram em greve devido ao atraso no pagamento dos salários. Temia-se que as obras não ficassem prontas a tempo por causa da paralisação. As péssimas condições de trabalho, longas jornadas e baixíssimos salários, que sequer eram pagos em dia, ensejaram o protesto, que recebeu solidariedade da Federação Internacional de Futebol – Fifa, e alertas da Organização Internacional do Trabalho, em campanh a pelo trabalho decente. Foram cerca de 70 mil trabalhadores que aderiram às paralisações.
Os problemas relacionados ao trabalho não ficaram restritos à África do Sul. A Cosatu, principal União Sindical sul-africana, denunciou que mesmo com um alto índice de desemprego no país – cerca de 40% - a produção dos bonecos do mascote da Copa, o Leopardo Kuzumi, foram produzidos por uma empresa chinesa. Os trabalhadores chineses receberam 3 dólares por uma jornada que chegava a treze horas diárias. Segundo a entidade sindical, a mesma Fifa que se solidarizou com os trabalhadores grevistas, foi conivente com um acordo que gerou mais de 130% de lucro por unidade na comercialização do boneco Leopardo Kuzumi.
Em várias cidades que abrigarão os jogos da Copa, de acordo com denúncias dos movimentos sociais sul-africanos, a população foi “expulsa” de seus bairros para a construção de estádios. Os moradores foram empurrados para periferias e para “cidades de lata”, casas de zinco com cerca de 18m² sem conforto.
Outro exemplo de exclusão foi a substituição dos táxis coletivos, correspondente ao transporte alternativo no Brasil, pelo modelo de transporte indicado pelo Banco Mundial, que não atende toda a população. Segundo as denúncias não foi criada qualquer alternativa para os trabalhadores dos táxis coletivos, que passaram a integrar a massa desempregada no país. Vários conflitos urbanos aconteceram por causa da mudança brusca.