Às 23h30 do dia 2 de maio morreu, em Goiânia (GO), aos 91 anos, Dom Tomás Balduíno, um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário – Cimi e da Comissão Pastoral da Terra - CPT. Sua partida suscitou manifestações de autoridades, militantes, fieis, que lamentaram a perda.
Muitas foram as causas abraçadas pelo religioso. Conhecido como o Bispo dos Pobres, não só no Brasil como na América Latina, abraçou a causa da defesa da terra e dos indígenas, dos excluídos de forma geral. Era chamado por muitos de “Profeta”.
O Sinait teve a honra de contar sua presença em atividades relacionadas à Chacina de Unaí. Ele esteve em celebração no local do crime em 2007 e em manifestação em frente ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, em 2008. Também esteve em celebração Ecumênica no Fórum Social Mundial em Belém (PA), em 2009. Sua mensagem era de paz, de esperança na Justiça.
Sobre Dom Tomás, a Auditora-Fiscal do Trabalho Jacqueline Carrijo, que é de Goiânia, disse: "Dom Tomás está em paz! Sua vida conosco faz a história de luta pelos direitos humanos no Brasil ser escrita com sentimentos tão vívidos, com tantas lutas travadas bravamente. Eu conheço Dom Tomás, e tornei-me admiradora do homem não somente por causa da sua simpatia, que é tão contagiante quanto suas ideias, mas principalmente pela fidelidade da sua palavra com as suas atitudes. Ele foi um guerreiro digno em todas as batalhas, um homem que correu todos os riscos e mostrou para o mundo o seu coração valente. Dom Tomás deixa muita saudade, e também a chama acesa da esperança, da paz no nosso coração."
Veja algumas notícias sobre a morte de Dom Tomás Balduíno.
4-5-2014 - O Popular
Bispo emérito da cidade de Goiás morreu ontem em Goiânia, aos 91 anos de idade
Carla Borges
Morreu, às 23h30 de ontem, em Goiânia, dom Tomás Balduino. Bispo emérito da cidade de Goiás, ele dedicou sua vida à defesa de trabalhadores rurais sem-terra, índios e negros. Era conhecido como o bispo dos pobres do Brasil e da América Latina. Ele morreu aos 91 anos no Hospital Neurológico, em Goiânia, onde estava internado desde o dia 25 de abril, em consequência de uma tromboembolia pulmonar.
O religioso tinha câncer de próstata, que apresentou metástase para os ossos, e sofria também de complicações decorrentes da incompatibilidade entre os medicamentos para o câncer e o marcapasso que ele usava no coração. Dom Tomás está sendo velado na Paróquia São Judas Tadeu, no Setor Coimbra, em Goiânia, onde será celebrada missa de corpo presente hoje, às 10 horas, e depois será levado para a cidade de Goiás, onde será sepultado amanhã.
Fundador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), no início da década de 70, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975, dom Tomás deixa um legado incomensurável, sempre marcado pela luta em defesa dos pobres, onde se incluíam indígenas, quilombolas, sem-terra, presos e perseguidos políticos, ao lado de quem ele lutou durante toda a sua vida. Ele está sendo velado e será enterrado usando uma estola colorida feita por índios peruanos, uma das muitas que usava em suas celebrações.
Sua ligação com a causa dos pobres era tamanha que uma hora antes de morrer, às 22h30 de sexta-feira, ele pediu ao também frade dominicano José Fernandes Alves, que foi o responsável pelo acompanhamento de seu tratamento de saúde, que fosse à casa dos dominicanos, no Setor Coimbra, buscar o notebook. Ele queria ditar um texto para mandar como contribuição para a construção do Documento sobre a Terra, que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vai começar a trabalhar a partir desta segunda-feira, em sua conferência anual. “São 22h30, Tomás, vá dormir. Amanhã cedo você faz isso”, aconselhou José Fernandes. “Então, eu te obedeço”, respondeu dom Tomás.
Mesmo com a piora no estado de saúde no último mês, quando passou a sentir dores – “milagrosamente, até há um mês ele não sentia as dores do câncer que atingiu 100% de seus ossos e que o acompanhou nos últimos anos”, relata frei José Fernandes –, dom Tomás passou todos esses momentos sem ficar um minuto sequer privado de uma de suas principais características: a lucidez. O bom humor – um tanto refinado – também não o abandonou, nem nos últimos momentos.
Últimos dias
Os três últimos dias de vida do religioso foram marcados por episódios de agonia devido à falta de ar. Aproximadamente uma hora antes de sua morte, dom Tomás pediu que o virassem para a direita. “Para a direita, tem certeza, Tomás?”, perguntou José Fernandes, referindo-se à militância do amigo, sempre associada à esquerda. “Estratégia necessária”, respondeu o sempre bem humorado Tomás. “Mesmo vivendo esse calvário das últimas três semanas, ele passou o tempo todo voltado para as coisas da sociedade e da Igreja. Ele nunca perdeu a consciência macro do mundo, não se reduziu ao pequeno, mas pensou sempre dentro de um universo grande, com a segura opção pelos pequenos e pelos pobres”, avalia frei José Fernandes. Para ele, todo o ensinamento de dom Tomás pode ser resumido em uma de suas frases prediletas: “Não basta ser a favor dos pobres. É preciso ser contra os exploradores dos pequenos”. O termo exploradores incluía, como o bispo sempre fez questão de lembrar, “políticos de plantão, os e as, pessoas e instituições”.
No dia 12 de abril, dom Tomás foi internado no Hospital Anis Rassi. A pedido dele próprio, a informação não foi divulgada. Ele passou 12 dias no hospital, onde se submeteu a uma cirurgia para a introdução de um eletrodo em seu marcapasso para potencializar o funcionamento do coração. Três dias após o procedimento, recebeu alta e foi para casa, onde chegou na tarde do dia 24. À noite, sofreu com muitas dores e foi internado novamente na manhã do dia 25, já no Hospital Neurológico. Nos últimos cinco dias, os exames detectaram a tromboembolia.
Ele tinha muitos coágulos, que migraram para o pulmão direito. Os médicos – a quem frei José Fernandes agradece pelo empenho, nas duas unidades hospitalares – pediram que ele não falasse – logo ele, sempre tão eloquente – por causa da falta de ar. Quando era lembrado disso, dizia a José Fernandes. “Eu vou te respeitar em nome da vida, porque eu quero viver”. Em outras, pedia: “Deixem-me falar enquanto eu ainda posso”.
Amigo de dom Tomás desde 1983, quando tornou-se agente pastoral na cidade de Goiás, o professor Sebastião Donizete de Carvalho conta que nos últimos meses ele parecia estar fazendo um balanço das coisas que fez na vida. Donizete pertence à Associação Kairós, criada por inspiração do bispo, formada por leigos que militam na Igreja Católica. “Ele tratava o grupo como os filhos dele. Nos últimos dois, três anos, sempre que nos encontrava, dizia: ‘vocês são os filhos que eu não tive’”, conta Donizete. Para ele e todos os que eram ligados a dom Tomás Balduino, a sensação é exatamente esta: a da perda do pai.
Gabriela Lima
Dezenas de pessoas, entre familiares, amigos, religiosos, políticos e militantes de movimentos sociais, estiveram ontem na Igreja São Judas Tadeu, no Setor Coimbra, para se despedir de dom Tomás Balduino. O velório contou com a presença do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que representou a presidente Dilma Rousseff.
Amigo de dom Tomás desde a década de 70, Gilberto Carvalho, em discurso, chamou o bispo emérito de “profeta”. “Sempre vim constantemente a Goiás para ouvi-lo. Ele sempre falava da importância de conciliar o engajamento político sem perder o referencial da fé”, afirmou. O ministro disse ainda que o Brasil “reconhece o que ele representou no resgate dos excluídos, na luta pela democracia e no combate a todas as formas de preconceito”.
Irmã de dom Tomás, Annunciata Balduino, de 82 anos, disse que o religioso sempre foi referência na família. “Era nele que a gente encontrava apoio. Qualquer um que o procurava sentia conforto, se sentia bem.”
Para o sobrinho José Décio Balduino, o tio Paulo (nome de batismo de dom Tomás), como era chamado, sempre foi uma pessoa alegre e companheira. “Ele foi meu pai, irmão, amigo, filho. A gente compartilhava muito”, lamentou.
Ao saber da morte do amigo, o poeta Pedro Tierra escreveu o poema Calou-se uma Voz dos Oprimidos. “Ele fez parte de uma geração iluminada da igreja, que estabeleceu um compromisso com a gente mais pobre do país”, afirmou.
Dom Tomás Balduino estava empenhado, nos últimos anos, em retomar a linha de ação do Concílio Vaticano II, realizado em 1961, que é a de uma igreja para o povo de Deus, sem distinção entre ordenados e não ordenados, capaz de trazer alegria e esperança para todos. Ele acreditava que os dois últimos papas, João Paulo II e Bento XVI, abandonaram os ensinamentos desse concílio e se distanciaram desse rumo e, por isso, a Igreja Católica vem perdendo fiéis. “Ele também falava muito na Conferência Episcopal de Medelín, de 1968”, lembra o professor Sebastião Donizete de Carvalho.
Depois da escolha do papa Francisco e de suas primeiras ações, indicando um papado voltado para os pobres, com a renúncia a luxos e firmeza na condução da Igreja, dom Tomás ficou satisfeito. “Ele estava muito feliz com o papa Francisco”, conta Donizete.
Uma característica de dom Tomás era a organização. Ele guardava toda a correspondência trocada nessas nove décadas. Todo esse acervo está sendo digitalizado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás.
3-5-2014 – O Popular
Cileide Alves
Morreu na última sexta-feira (2) no Hospital Neurológico em Goiânia, às 23h30, o bispo emérito da cidade de Goiás, dom Tomás Balduíno, aos 91 anos de idade. O religioso estava internando há três semanas tratando de complicações cardíacas e de um câncer.
Em novembro do ano passado d. Tomas internou-se no hospital Pio XI, em Ceres, e depois foi transferido para Goiânia para tratar do coração e de um câncer de prótasta. Ficou vários dias na UTI, mas depois foi liberado. Essa nova internação foi mantida em segredo por familiares e religiosos dominicanos, ordem à qual d. Tomas era vinculado.
Desta vez d. Tomás teve uma trombo embolia pulmonar em consequência de uma incompatibilidade dos medicamentos para o câncer e o marcapasso. Ele passou 12 dias no Hospital Anis Rassi, teve um dia de alta e depois foi levado para o Neurológico onde morreu depois de uma semana.
Seu corpo será velado na Igreja São Judas Tadeu, no Setor Coimbra, até às 10h de domingo (4), momento em que será celebrada a Eucaristia, e logo em seguida será levado para a cidade de Goiás, onde será velado na Catedral até às 9h de segunda-feira (5), e logo em seguida sepultado na própria Catedral.
A presidente Dilma Rousseff divulgou, neste sábado (3), nota de pesar pela morte de dom Tomás. Leia a nota na íntegra:
Foi com tristeza que soube da morte de dom Tomás Balduíno, incansável lutador das causas populares. Bispo emérito da cidade de Goiás, dom Tomás era um persistente.
Personagem central na fundação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), figura destacada na oposição ao regime militar, dom Tomás foi defensor intransigente dos direitos dos índios, dos trabalhadores sem-terra e dos mais pobres.
Em nome do governo brasileiro, rendo, nessa hora de dor, minhas homenagens à vida de dom Tomás.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota de pesar pelo falecimento de dom Tomás Balduíno. A nota é assinada pelo Presidente da CNBB e Arcebispo de Aparecida de São Paulo Cardeal Raymundo Damasceno Assis.
Leia, na íntegra, a nota:
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunida em Assembleia Geral na cidade de Aparecida (SP), recebe com profunda tristeza a notícia do falecimento do bispo emérito de Goiás (GO), dom Tomás Balduíno, OP, ocorrido ontem, em Goiânia (GO).
Este nosso irmão dedicou sua vida e ministério ao serviço do Povo de Deus e à defesa dos direitos humanos, especialmente à causa dos pequenos agricultores e povos indígenas. Inspirado por seu lema episcopal “Homines Capiens” (Pescador de Homens), aprendeu a língua dos índios Xicrin, do grupo Bacajá, e Kayapó e também se tornou piloto de avião para melhor atender as comunidades indígenas.
Em 1965, foi nomeado Prelado de Conceição do Araguaia (PA), e em 1967 foi transferido para a Diocese de Goiás, onde trabalhou por 31 anos. Marcou profundamente a história da Igreja no Brasil, ao colaborar na fundação do Conselho Indigenista Missionário, do qual foi o seu segundo presidente, e também da Comissão Pastoral da Terra, que presidiu entre 1997 e 1999, permanecendo como presidente de honra.
Ao manifestar pesar pela morte de dom Tomás, a CNBB presta sua solidariedade aos seus familiares, à Diocese de Goiás e à Ordem dos Pregadores. Eleva, ao mesmo tempo, uma prece de ação de graças por este nosso irmão que marcou sua trajetória pela entrega à causa do Reino.
3-5-2014 – G1 Goiás
Paula Resende
O bispo emérito da cidade de Goiás e fundador da Comissão Pastoral da Terra, dom Tomás Balduino, de 91 anos, morreu às 23h30 de sexta-feira (2) no Hospital Neurológico, em Goiânia. Internado na unidade de saúde desde o dia 25, ele não resistiu a uma tromboembolia pulmonar.
O corpo do bispo está sendo velado na Igreja São Judas Tadeu, no Setor Coimbra, na capital do estado de Goiás. O velório acontece no local até as 10 horas de domingo (4), quando ocorrerá uma missa. Em seguida, o corpo segue para a catedral da cidade de Goiás, onde será velado e sepultado. O enterro está previsto para acontecer às 9 horas de segunda-feira (5). No velório, uma das irmãs do bispo, Anunciata Balduino, lamentou a morte e disse que o irmão era muito querido por todos. "Ele era muito bom, muito amigo, muito brincalhão. É disso que a gente vai sentir saudade", afirmou.
Neste sábado (3), a presidente da República, Dilma Rousseff, divulgou uma nota de pesar sobre o falecimento do bispo. "Foi com tristeza que soube da morte de dom Tomás Balduíno, incansável lutador das causas populares. Bispo emérito da cidade de Goiás, dom Tomás era um persistente", destacou. A presidente ainda destacou a luta de dom Tomás pelos direitos humanos. "Personagem central na fundação da Comissão Pastoral da Terra [CPT] e do Conselho Indigenista Missionário [Cimi], figura destacada na oposição ao regime militar, dom Tomás foi defensor intransigente dos direitos dos índios, dos trabalhadores sem-terra e dos mais pobres. Em nome do governo brasileiro, rendo, nessa hora de dor, minhas homenagens a vida de dom Tomás", concluiu a nota.
Dilma também enviou o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para representá-la no velório. "Para reconhecer exatamente o que ele representa para o Brasil, no sentido da construção da democracia, do resgate dos excluídos, do combate a toda a forma de preconceito, mas acima de tudo sobre esse homem que marca a ligação perfeita entre a fé e o engajamento social e político", afirmou o ministro. O governador de Goiás, Marconi Perillo, também divulgou uma nota de pesar e destacou o legado de fé e de trabalho social do bispo. Já o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, afirmou que o exemplo de dom Tomás continuará vivo na busca de uma sociedade mais justa e fraterna.
A Comissão Pastoral da Terra divulgou nota lamentando a morte e dizendo que todos ficam "um pouco órfãos" com a morte do "bispo da reforma agrária e dos indígenas". O texto destaca que Dom Tomás lutou "pela defesa dos direitos dos pobres da terra" e nem "com a saúde debilitada e internado no hospital ele deixava de se preocupar com a questão da terra e pedia, em conversas, para saber o que estava acontecendo no mundo".
Internações
Dom Tomás foi internado no Hospital Neurológico um dia depois de receber alta médica do Hospital Anis Rassi, onde esteve dez dias hospitalizado.
Anteriormente, em 4 de novembro do ano passado, o bispo foi internado em Ceres, no norte do estado, por causa de uma arritmia cardíaca. Internado na Unidade de Terapia Intensiva, ele foi transferido no dia 7 para o Hospital Aniss Rassi, em Goiânia. Ele recebeu alta médica no dia 14 de novembro, após 10 dias hospitalizado.
Dom Tomás Balduino nasceu em Posse, no norte goiano, em dia 31 de dezembro de 1922. Registrado como Paulo Balduino de Sousa Décio, ao ser ordenado religioso dominicano, em Minas Gerais, ele recebeu o nome de Frei Tomás, como era costume.
O religioso ainda cursou filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França, onde também fez mestrado em Teologia. Em 1950, ele lecionou filosofia em Uberaba. Em 1951 foi transferido para Juiz de Fora como vice-reitor da então Escola Apostólica Dominicana e também lecionou filosofia.
Em 1957, Dom Tomás foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia, no Pará, onde viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Na época a Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver um trabalho mais eficaz junto aos índios, o religioso fez mestrado em Antropologia e Linguística, na Universidade Nacional de Brasília, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua dos índios Xicrin, do grupo Bacajá, e Kayapó.
O religioso foi nomeado Prelado de Conceição do Araguaia em 1965. Na época, ele defendeu os indígenas da ocupação de suas terras por empresas agropecuárias.
Em 1967, Dom Tomás foi nomeado bispo diocesano da cidade de Goiás, onde permaneceu durante 31 anos. Ao completar 75 anos, em 1999, ele apresentou sua renúncia e mudou-se para Goiânia. Dom Tomás Também ajudou pessoas perseguidas pela Ditadura Militar.
Dom Tomás foi personagem fundamental no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente. Por sua atuação firme e corajosa recebeu diversas condecorações e homenagens no Brasil e no exterior.
No dia 8 de novembro de 2006, Dom Tomás recebeu da Universidade Católica de Goiás (UCG) o título de Doutor Honoris Causa, devido ao comprometimento de Dom Tomás com a luta pelo povo pobre.
Dom Tomás recebeu da Oklahoma City National Memorial Foudation o prêmio Reflections of Hope, em 2008. A organização considerou que as ações de Dom Tomás são exemplos de esperança na solução das causas que levam a miséria de tantas pessoas em todo o mundo. A Universidade Federal de Goiás (UFG) também outorgou o título de Doutor Honoris Causa a Dom Tomás em 2012.
3-5-2014 – Comissão Pastoral da Terra
“Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou...
tempo de lutar e tempo de viver em paz”. (Eclesiastes 3:1-8)
É com grande pesar e muita tristeza que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) comunica a todos e todas o falecimento de Dom Tomás Balduino. Fundador da CPT, bispo emérito da cidade de Goiás e frade dominicano, Dom Tomás lutou por toda sua vida pela defesa dos direitos dos pobres da terra, dos indígenas, das demais comunidades tradicionais, e por justiça social. Nem mesmo com a saúde debilitada e internado no hospital ele deixava de se preocupar com a questão da terra e pedia, em conversas, para saber o que estava acontecendo no mundo.
Aos 91 anos, completados em dezembro passado, Dom Tomás Balduino, o bispo da reforma agrária e dos indígenas, nos deixa seu exemplo de luta, esperança e crença no Deus dos pobres. Ficamos, hoje, todos e todas um pouco órfãos, mas seguimos na certeza de quem Dom Tomás está e estará presente sempre, nos pés que marcham por esse país e nas bandeiras que tremulam por esse mundo em busca de uma sociedade mais justa e igualitária.
Dom Tomás faleceu em decorrência de uma trombo embolia pulmonar, às 23h30 de ontem, 02 de maio de 2014. Ele permaneceu internado entre os dias 14 e 24 de abril último no hospital Anis Rassi, em Goiânia. Teve alta hospitalar dia 24, e no dia seguinte foi novamente internado, porém desta vez no Hospital Neurológico, também em Goiânia.
O Corpo será velado na Igreja São Judas Tadeu, no Setor Coimbra, em Goiânia, até às 10 horas do domingo, dia 4 de maio, momento em que será concelebrada a Eucaristia, e logo em seguida será transladado para a cidade de Goiás (GO), onde será velado na Catedral da cidade até às 9 horas da segunda-feira, 5 de maio, e logo em seguida será sepultado na própria Catedral.
Biografia de Dom Tomás Balduino
Dom Tomás Balduino nasceu em Posse, Goiás, no dia 31 de dezembro de 1922. Ele é filho de José Balduino de Sousa Décio, goiano, e de Felicidade de Sousa Ortiz, paulista. Seu nome de batismo é Paulo, Paulo Balduino de Sousa Décio. Foi o último filho homem de uma família de onze filhos, três homens e oito mulheres. Ao se tornar religioso dominicano recebeu o nome de Frei Tomás, como era costume.
Até os cinco anos de idade viveu em Posse. Depois a família migrou para Formosa, onde seu pai se tornou promotor público, depois juiz e se aposentou como tal.
Fez o Seminário Menor – Escola Apostólica Dominicana – em Juiz de Fora, MG. Fez os estudos secundários no Colégio Diocesano, dirigido pelos irmãos maristas, em Uberaba. Cursou filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França, onde também fez mestrado em Teologia.
Em 1950, lecionou filosofia em Uberaba. Em 1951 foi transferido para Juiz de Fora como vice-reitor da então Escola Apostólica Dominicana e lecionou filosofia, na Faculdade de Filosofia da cidade.
Em 1957, foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia, estado do Pará, onde viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Na época a Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver um trabalho mais eficaz junto aos índios, fez mestrado em Antropologia e Linguística, na UNB, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua dos índios Xicrin, do grupo Bacajá, e Kayapó.
Para melhor atender a enorme região da Prelazia que abrangia todo o Vale do Araguaia paraense e parte do baixo Araguaia mato-grossense, fez o curso de piloto de aviação. Amigos solidários da Itália o presentearam com um teco-teco com o qual prestou inestimável serviço, sobretudo no apoio e articulação dos povos indígenas. Também ajudou a salvar pessoas perseguidas pela Ditadura Militar.
Em 1965, ano em que terminou o Concílio Ecumênico Vaticano II, foi nomeado Prelado de Conceição do Araguaia. Lá viveu de maneira determinante e combativa os primeiros conflitos com as grandes empresas agropecuárias que se estabeleciam na região com os incentivos fiscais da então SUDAM, e que invadiam áreas indígenas, expulsavam famílias sertanejas, os posseiros, e traziam trabalhadores braçais de outros Estados, sobretudo do nordeste brasileiro, que eram submetidos, muitas vezes, a regimes análogos ao trabalho escravo.
Em 1967, foi nomeado bispo diocesano da Cidade de Goiás. Nesse mesmo ano foi ordenado bispo e assumiu o pastoreio da Diocese, onde permaneceu durante 31 anos, até 1999 quando, ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia e mudou-se para Goiânia. Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com a Ditadura Militar (1964-1985).
Dom Tomás, junto à Diocese de Goiás, procurou adequar a Diocese ao novo espírito do Concílio Ecumênico Vaticano II e de Medellín (1968). Por isso sua atuação, ao lado dos pobres, no espírito da opção pelos pobres, marcou profundamente a Diocese e seu povo. Lavradores se reuniam no Centro de Treinamento onde Dom Tomás morava, para definir suas formas de organização e suas estratégias de luta. Esta atuação provocou a ira do governo militar e dos latifundiários que perseguiram e assassinaram algumas lideranças dos trabalhadores. Em julho de 1976, Dom Tomás foi ao sepultamento do Padre Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo, assassinados pelos jagunços, na aldeia de Merure, Mato Grosso. Em sua agenda estava programada uma outra atividade. Soube depois, por um jornalista, que durante esta atividade programada, estava sendo preparada uma emboscada para eliminá-lo.
Alguns movimentos nacionais como o Movimento do Custo de Vida, a Campanha Nacional pela Reforma Agrária, encontraram apoio e guarida de Dom Tomás e nasceram na Diocese de Goiás.
Dom Tomás foi personagem fundamental no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Nas duas instituições Dom Tomás sempre teve atuação destacada, tendo sido presidente do CIMI, de 1980 a 1984 e presidente da CPT de 1999 a 2005. A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente.
Depois de deixar a Diocese, além de ser presidente da CPT, desenvolveu uma extensa e longa pauta de conferências e palestras em Seminários, Simpósios e Congressos, tanto no Brasil quanto no exterior. Por sua atuação firme e corajosa recebeu diversas condecorações e homenagens Brasil afora. Em 2002, a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás lhe concedeu a medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira. No mesmo ano recebeu o Título de Cidadão Goianiense, outorgado pela Câmara Municipal de Goiânia.
Foi designado, em 2003, membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, CDES, do Governo Federal, cargo que deixou por sentir que pouco ou nada contribuía para as mudanças almejadas pela nação brasileira. Foi também nomeado membro do Conselho Nacional de Educação.
No dia 8 de novembro de 2006, Dom Tomás recebeu da Universidade Católica de Goiás (UCG) o título de Doutor Honoris Causa, devido ao comprometimento de Dom Tomás com a luta pelo povo pobre de Deus.
No dia 18 de abril de 2008 recebeu em Oklahoma City (EUA), da Oklahoma City National Memorial Foudation, o prêmio Reflections of Hope. A organização considerou que as ações de Dom Tomás são exemplos de esperança na solução das causas que levam a miséria de tantas pessoas em todo o mundo. A premiação Reflections of Hope foi criada em 2005 para lembrar o 10º aniversário do atentado terrorista de Oklahoma – quando um caminhão-bomba explodiu em frente a um edifício, matando 168 pessoas – e para homenagear aqueles que representam a esperança em meio à tragédia e dedicam suas vidas para melhorar a vida do próximo.
De 22 até 29 de março 2009 foi em Roma para participar das palestras em homenagem de Dom Oscar Romero e dos 29 anos do seu assassinato.
Em 2012 a Universidade Federal de Goiás (UFG) também lhe outorgou o título de Doutor Honoris Causa. Em dezembro do mesmo ano, durante as comemorações dos seus 90 anos, a CPT homenageou-o dando o seu nome ao Setor de Documentação da Secretaria Nacional, que passou a se chamar “Centro de Documentação Dom Tomás Balduino”.