A inclusão de mais um caso nas estatísticas de acidente de trabalho no Brasil teve hoje uma face ainda mais aterrorizante. Um prédio em construção desabou em São Paulo, onde estavam 35 pessoas. Seis morreram e cinco estão desaparecidas. O caso está ganhando destaque na imprensa desde a manhã desta terça-feira, quando o prédio foi ao chão por volta de 8h30.
O Corpo de Bombeiros conseguiu retirar um operário soterrado por meio de um aparelho de rádio que estava com a vítima. Ele se comunicou com um dos colegas, que também possuía o equipamento, para que os bombeiros o localizassem. Outro trabalhador, que teve ferimentos nas pernas e nas costas, está à procura do irmão, de 21 anos, que também trabalhava na obra.
As buscas devem continuar nos próximos três dias, mas o Corpo de Bombeiros já adiantou que após 24 horas as chances das pessoas desaparecidas serem encontradas vivas diminuem. De acordo com a prefeitura de São Paulo, a obra era irregular e chegou a ser multada em R$ 100 mil.
Uma tragédia dessas proporções serve de alerta para situação enfrentada por trabalhadores, incluindo os da Construção Civil, em relação à segurança e saúde laboral. Por ano, a Previdência Social tem registrado em média 700 mil acidentes de trabalho. Além da possibilidade de causar a morte do trabalhador, o acidente pode custar a invalidez permanente dos que sobrevivem, além do trauma psicológico.
O Sinait lamenta a tragédia e se solidariza com as famílias das vítimas. O Sindicato tem cobrado do governo o aumento no número de Auditores-Fiscais do Trabalho, mas o próximo concurso preencherá apenas 100 vagas que não cobrem a defasagem. A ampliação do quadro poderá prevenir a ocorrência de acidentes e salvar vidas.
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G1 – 27/8/2013
Vítima soterrada telefonou para operário que estava do lado de fora. Desabamento de prédio em São Mateus ocorreu na manhã desta terça.
O capitão Márcio César Carnevale afirma que usou um aparelho de rádio no resgate do operário Rubens Moreno, de 24 anos, um dos soterrados no desabamento na manhã desta terça-feira (27) em São Mateus, na Zona Leste de São Paulo.
Segundo o capitão, Rubens usou o próprio aparelho para chamar outro operário que estava do lado de fora da obra. Foi esse operário quem emprestou o aparelho para os bombeiros fazerem a busca. Anteriormente, o Corpo de Bombeiros informara que a vítima havia ligado para o 193. Pelo rádio foi feita uma aproximação do local onde estava Rubens. Os bombeiros conversavam com ele e fizeram ruídos na estrutura desabada, enquanto Rubens informava pelo aparelho se estavam mais próximos ou mais distantes dele.
“Você está perto de mim, vem me buscar”, foram as frases que Rubens falou, segundo o capitão. Quando a equipe constatou o local aproximado, fez um som entre as duas lajes que desabaram. Rubens imediatamente respondeu: “eu estou aqui”. “Nós rastejamos e tiramos o Rubens do buraco”, disse Carnevale. Segundo ele, o operário estava bem e tinha apenas algumas escoriações no couro cabeludo. Segundo o capitão, não é raro o uso de telefone via aparelho de rádio em desabamentos. Ele admitiu, no entanto, que se trata de uma situação de “sorte”. O capitão disse que a busca durou cerca de uma hora e que no final os bombeiros perceberam pela voz que Rubens estava ficando mais fraco e pediram para ele não desanimar.
Trabalhos de salvamento
O coronel do Corpo de Bombeiros Reginaldo Campos Retulho diz que os trabalhos devem continuar à noite em busca de cinco pessoas desaparecidas. "É uma corrida contra o tempo. Após as primeiras 24h diminuem as chances de as pessoas estarem vivas", afirmou. Retulho estima que os trabalhos podem durar até 3 dias. "Torcemos para que aquele número inicial de 35 vítimas não aumente", disse o coronel.
O pedreiro Antonio Alison estava no meio da obra, mas não comemorava por ter escapado com vida. Ele teve cortes na perna e nas costas, mas se negava a ir para o hospital porque procurava o irmão de 21 anos que estava na parte da frente. "Não vimos nada, foi um estrondo e tudo caindo. Não vou sair daqui enquanto não achar meu irmão", afirmou.
O desabamento total do imóvel de dois pavimentos aconteceu por volta das 8h30, na Avenida Mateo Bei, próximo à Avenida Maria Cursi. A estimativa é que cerca de 35 pessoas estivessem na obra de construção de uma loja da rede Torra Torra no momento do acidente.
De acordo com os bombeiros, os mortos estavam nos fundos do imóvel, enquanto a maioria dos sobreviventes estava no meio da construção, onde se formou um bolsão que permitiu que houvesse sobreviventes. Nesta área da construção foi resgatada um ferido que manteve contato com os bombeiros por celular. As pernas do operário ficaram presas nos escombros.
Irregularidades e multas
A construção era irregular e já foi multada em mais de R$ 100 mil, segundo a Prefeitura. Antes da construção, um posto de gasolina funcionava no local.
A empresa dona do imóvel, a Jamf Empreendimentos Agrícolas Ltda, não se pronunciou sobre o caso.
Segundo a Subprefeitura de São Mateus, antes do início da obra, um posto de gasolina funcionava no local.