O chinês Yan Ruilong foi preso em flagrante por suspeita de torturar e escravizar o próprio primo Yin Qiang Quan, de 22 anos, em uma pastelaria em Parada de Lucas, no subúrbio do Rio de Janeiro. A prisão foi efetuada terça-feira, 2 de abril, por policiais da 38ª DP em Irajá, que chegaram ao local após informações do Disque Denúncia.
O coordenador da Comissão Estadual de Erradicação ao Trabalho Escravo no Rio de Janeiro – Coetrae/RJ, Ebenezer Oliveira, informa que falou com a equipe de Assistência Social do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, em que o chinês Yian Qiang Quan está internado, no Centro de Terapia Intensiva – CTI. “Ele chegou em situação delicada ao hospital e não foi possível conversarmos. Volto esta semana ao hospital e espero conseguir obter mais informações da Assistência Social e, se for possível, falar pessoalmente com o paciente”.
Ebenezer Oliveira entrou em contato com a Delegacia de Polícia para saber mais informações da ação policial e descobriu que o crime será tipificado no artigo nº 149 do Código Penal, que trata da Redução à condição análoga à de escravo. “Nesta semana, irei para a delegacia de polícia e pretendo saber com mais detalhes o andamento da investigação policial”.
De acordo com o Auditor-Fiscal do Trabalho Cláudio Secchin, da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio de Janeiro – SRTE/RJ, na quarta-feira, 10 de abril, Auditores-Fiscais do Trabalho irão ao local para verificar o ambiente e as condições de trabalho, bem como receber uma cópia do inquérito policial. Segundo ele, embora a Polícia Civil e a Vigilância Sanitária já tenham interditado o estabelecimento, eles vão “verificar as condições de ambiente de trabalho e se a vítima possui autorização para o trabalho estrangeiro”.
Cláudio Secchin informa ainda que essa situação pode provocar uma incursão fiscal a outros estabelecimentos afins. “É necessário realizarmos ações fiscais para efeito de trabalhos preventivos”.
Investigação Policial
De acordo com a Polícia Civil, o chinês Yin Qiang Quan, de 22 anos, morava na pastelaria e dormia em cima de uma máquina de fazer pastel. O rapaz foi encontrado pela polícia com diversas marcas de agressão pelo corpo e com o rosto seriamente machucado com cortes no queixo – maxilar inferior – e na boca.
A pastelaria está constituída como uma empresa familiar e o rapaz foi trazido de forma irregular para o Brasil. A pastelaria foi interditada pela polícia e estava em péssimas condições de higiene e conservação. O alojamento encontrado no local estava em condições precárias e insalubres.
Outro chinês, um menor de 16 anos, que trabalhava como balconista e também residia no local, prestou depoimento como testemunha, mas, de acordo com os policiais, resistiu em dar informações e aparentava temor durante o depoimento.
Yan Ruilong, dono da pastelaria, foi preso em flagrante pela prática dos crimes de tortura, redução de pessoa à condição análoga à de escravo, omissão de socorro e sonegação de direitos trabalhistas. Após a prisão foi levado ao presídio de Bangu.