Sinait Cultural - 100 anos de Jorge Amado


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
21/12/2012



O Brasil comemora em 2012 o centenário de Jorge Amado (1912/2012), um dos maiores escritores brasileiros e um dos mais conhecidos internacionalmente. Sua obra foi adaptada para o teatro, rádio, cinema e televisão e traduzida em inglês, francês, espanhol, italiano, russo, chinês, sueco, theco, lituano, húnguro, búlgaro, slovaco, polonês, árabe, finlandês, servo-croata, iídiche, dentre outros. O Sinait fez uma homenagem ao escritor por ocasião do 30º Enafit, realizado na terra de Jorge de Amado, com uma exposição de quadros que retratam o autor e seu trabalho.


Em homenagem aos 100 anos de Jorge Amado, a editora Companhia das Letras republicou este ano toda a obra do escritor reproduzindo, inclusive, as capas de edições de outros países, uma cronologia relativa à vida de Jorge Amado com fotos dele.

 

Hoje o Sinait homenageia o grande escritor reproduzindo um pequeno trecho de seu livro "Terras do sem-fim", de 1943, no qual Jorge Amado relata o que os Auditores-Fiscais do Trabalho ainda hoje constatam em nosso País.  



“- Amanhã cedo o empregado do armazém chama por tu para fazer o "saco" da semana. Tu não tem instrumento pro trabalho, tem que comprar. Tu compra uma foice e machado, tu compra um facão, tu compra uma enxada... E isso tudo vai ficar por uns cem mil-réis. Depois tu compra farinha, carne, cachaça, café pra semana toda. Tu vai gastar uns dez mil-réis pra comida. No fim da semana tu tem quinze  mil-réis ganho do trabalho. - O cearense fez as contas, seis dias a dois en quinhentos, e concordou. - Teu saldo é de cinco mil-réis, mas tu não recebe, fica lá pra ir descontando a dívida dos instrumentos... Tu leva um ano para pagar os cem mil-réis sem ver nunca um tostão. Pode ser que no Natal o coronel mande te emprestar mais dez mil-réis pra tu gastar com as putas nas Ferradas...

O homem magro disse aquilo tudo com ar meio burlão, entre cínico, desanimado e trágico. Depois pediu cachaça. O cearense tinha ficado emudecido, olhava o morto. Falou, por fim:

- Cem mil-réis por um facão, uma foice e uma enxada?

Foi o velho quem explicou:

- Em Ilhéus tu tira um facão Jacaré por doze mil-réis. No armazém das fazendas tu não tira por menos de vinte e cinco...

- Um ano ... - fez o cearense, e estava fazendo cálculos sobre quando a chuva cairia novamente na sua terra seca do Ceará. Ele pretendia voltar logo que chovesse sobre a terra abrasada  e pretendia levar dinheiro para poder comprar uma vaca e um bezerro. - Um ano... - repetiu, e fitou o morto que parecia sorrir.

- Isso tu pensas... Antes de terminar de pagar tu já aumentou a dívida... Tu já comprou mais calça e camisa de bulgariana... Tu já comprou remédio que é um deus nos acuda de caro, tu já comprou um revólver que é o único dinheiro bem empregado nessa terra... E tu nunca paga a dívida.... Aqui - e o homem magro  fez um gesto circular com a mão abarcando todos eles, os que trabalhavam para os "Macacos" e os dois que vinham com o morto dos "Baraúnas" -, aqui tudo deve, ninguém tem saldo...

Os olhos do cearense estavam amedrontados. A vela se gastava iluminando o morto com sua luz vermelha. Chuviscava lá fora, o velho se levantou:

- Eu era menino no tempo da escravidão... Meu pai foi escravo, minha mãe também... Mas não era mais ruim que hoje.... As coisas não mudou, foi tudo palavra.”

 

Livros de Jorge Amado



01. O país do Carnaval, 1931

02. Cacau, 1993

03. Suor, 1934

04. Jubiabá, 1935

05. Mar morto, 1936

06. Capitães de Areia, 1937

07. ABC de Castro Alves, 1941

08. O Cavaleiro da Esperança, 1942

09. Terras do sem-fim, 1943

10. São Jorge dos Ilhéus, 1944

11. Bahia de Todos-os-Santos, 1945

12. Seara vermelha, 1946

13. O amor do soldado, 1947

14. Os subterrâneos da liberdade, 1954

      Os ásperos tempos, 1954

      Agonia da noite, 1954

      A luz do túnel, 1954

15. Gabriela cravo e ccanela, 1958

16. De como o mulato Porciúncula descarregou seu defundo, 1959

17. Os velhos marinheiros ou O capitão-de-longo-curso, 1961

18. A morte e a morte de Quincas Berro D’água, 1961

19. O compadre de Ogum, 1964

20. Os pastores da noite, 1964

21. As mortes e o triunfo de Rosalinda, 1965

22. Dona Flor e seus dois maridos, 1966

23. Tenda dos Milagres, 1969

24. Tereza Batista cansada de guerra, 1972

25. O gato malhado e a andorinha Sinhá, 1976

26. Tieta do Agreste, 1977

27. Farda, fardão, camisola de dorrmir, 1979

28. O milagre dos pássaros, 1979

29. O menino grapiúna, 1981

30. A bola e o goleiro, 1984

31. Tocaia Grande, 1984

32. O sumiço da santa, 1988

33. Navegação de cabotagem, 1992

34. A descoberta da América pelos turcos, 1992

35. Hora da Guerra, 2008

Categorias


Versão para impressão




Assine nossa lista de transmissão para receber notícias de interesse da categoria.