Veja abaixo o artigo do Auditor Fiscal do Trabalho de Minas Gerais, Marcos Ribeiro Botelho, que destaca a importância da fiscalização em estruturas de barragens. O artigo demonstra que o esforço em proteger o trabalhador é positivo para o futuro das empresas, das comunidades e do meio ambiente.
O texto também foi publicado na editoria de Opinião do jornal Estado de Minas.
Fiscalização de barragens também é proteção ao trabalho
A segurança do trabalho não se alcança com discursos ou protocolos genéricos: ela depende de ação concreta, de estrutura, de fiscalização qualificada e contínua
Marcos Ribeiro Botelho
Auditor Fiscal do Trabalho e representante da Delegacia Sindical do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho em Minas Gerais (DS-MG-SINAIT)
No dia 27 de julho, o Brasil relembra a importância da prevenção de acidentes de trabalho. Essa data, criada em 1972, ainda precisa ser reafirmada ano após ano porque, apesar dos avanços, continuamos lidando com uma dura realidade: milhares de trabalhadores adoecem, se acidentam ou morrem todos os anos em decorrência de condições laborais precárias ou negligenciadas.
Como Auditor Fiscal do Trabalho, atuando em Minas Gerais, eu sei que a prevenção passa, necessariamente, pela presença do Estado nos locais de trabalho. E isso inclui desde pequenas oficinas até grandes estruturas geotécnicas – como as barragens. A história recente nos mostrou, de forma trágica, o que acontece quando riscos são ignorados ou relativizados. O rompimento da barragem em Brumadinho, que matou 272 pessoas, sendo a maioria trabalhadores da própria mineradora ou de empresas terceirizadas, é uma ferida aberta que não pode ser esquecida nem banalizada.
É preciso dizer com todas as letras: a fiscalização do trabalho em estruturas como barragens salva vidas. A atuação da Auditoria Fiscal do Trabalho nessas áreas não se restringe a verificar documentos. Estamos ali para avaliar condições reais de segurança, funcionamento de sistemas de emergência, treinamento de equipes, coerência entre o que está no papel e o que, de fato, está implementado. Estamos ali para prevenir o pior.
A precarização do trabalho e a terceirização em larga escala em setores de alto risco aumentam a vulnerabilidade dos trabalhadores. Muitos atuam sem sequer conhecer os planos de emergência, sem capacitação adequada ou equipamentos de proteção suficientes. Isso é inaceitável. A prevenção de acidentes não pode ser vista como custo, mas como responsabilidade ética, social e legal.
Representando a Delegacia Sindical do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho em Minas Gerais (DS/MG/SINAIT), reforço que proteger o trabalhador é também proteger o futuro das empresas, das comunidades e do meio ambiente. A segurança do trabalho não se alcança com discursos ou protocolos genéricos: ela depende de ação concreta, de estrutura, de fiscalização qualificada e contínua. E, acima de tudo, de um compromisso coletivo com a vida.
Mais do que lembrar tragédias passadas, nossa missão é impedir que novas ocorram. Isso exige investimento público, valorização dos profissionais da fiscalização e integração entre os órgãos de controle. Não há margem para improviso quando falamos da vida de trabalhadoras e trabalhadores expostos diariamente a perigos com alto risco. Quando não conseguimos eliminar um perigo, tentamos diminuir o risco do mesmo. Cada operação de fiscalização realizada é um passo a mais na construção de um ambiente de trabalho seguro, digno e compatível com os princípios constitucionais que regem o mundo do trabalho. Que neste 27 de julho, possamos renovar esse compromisso. Porque nenhuma meta de produção, nenhum lucro ou ganho de eficiência justifica o risco à integridade de quem trabalha.