Registros de acidentes e mortes em todo o país continuam. Em Estados do Sul, do Sudeste e do Nordeste do Brasil trabalhadores se ferem e perdem a vida, deixam famílias desconsoladas, e confirmam a negligência e o descumprimento das normas de segurança exigidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. É um quadro desolador, que só deixa saldos negativos, seja no aspecto humano, econômico ou trabalhista.
Os acidentes acontecem em todas as áreas. Nas notícias abaixo há acidentes no setor de tratamento de água, em usina de moagem de cana, em fábrica de vidros e na construção civil. Ao lado da construção civil o setor elétrico também registra altos índices de acidentes fatais. Quedas e eletrocussões costumam fazer vítimas fatais ou deixar graves sequelas que impedem a continuidade da vida laboral dos trabalhadores.
Muitos são jovens, em idade produtiva, com filhos pequenos. Os prejuízos são enormes.
Os Auditores-Fiscais do Trabalho realizam milhares de ações na área de segurança todos os anos, porém, o descumprimento das regras é como uma epidemia, e a fiscalização não consegue alcançar todos os locais de trabalho. O número de Auditores-Fiscais da área de segurança são poucos e têm demanda excessiva. Ainda assim, conseguem realizar um trabalho que faz a diferença para milhões de trabalhadores, conscientizando empregadores e empregados, interditando equipamentos que oferecem perigo e embargando obras irregulares. Evitam que milhares de acidentes ocorram.
Muito mais poderia ser feito se o governo investisse em fiscalização e segurança, recompondo o quadro de Auditores-Fiscais, hoje defasado em mais de cinco mil profissionais, segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, a pedido do Sinait. “Não perdemos a esperança de que o governo acorde para esta realidade e decida atender os reiterados pedidos da categoria por concursos públicos e revitalização do quadro da Auditoria-Fiscal do trabalho”, comenta Rosângela Rassy, presidente do Sinait.
Veja notícias sobre acidentes de trabalho acontecidos em vários locais do país:
6-10-2012 – Diário do Nordeste (CE)
Tubulação - Operário morre afogado
Paulo César de Lima Costa, 42, funcionário de uma empresa terceirizada que presta serviços à Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), morreu, na manhã de ontem, após sofrer acidente de trabalho dentro de uma tubulação na estação de recebimento de resíduos, localizada na Avenida Leste-Oeste, defronte à Pefoce, no Jacarecanga.
As primeiras informações levantadas pela Polícia indicam que o operário caiu na tubulação e ficou enganchado com o equipamento de proteção individual, e acabou se afogando. Lima estava fazendo a limpeza na tubulação, entretanto as paredes estavam lisas e a queda ocorreu. Uma equipe do Corpo de Bombeiros esteve na estação.
No local, nenhum funcionário falou sobre o acidente de trabalho. O corpo do operário foi recolhido pelo rabecão e levado para o necrotério da Pefoce.
5-10-2012 – Correio do Povo (RS)
Homem morre prensado por caixas de vidro em Caxias do Sul
Acidente de trabalho foi provocado quando material de 1,8 tonelada caiu sobre a vítima
O auxiliar de produção de uma empresa de vidros morreu, na tarde desta sexta-feira, após ser prensado por caixas do material ao descarregar um contêiner em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. De acordo com o Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO), Olegário Almeida, de 42 anos, era empregado há 18 anos na empresa Vidroforte, localizada na ERS 122, no bairro Desvio Rizzo.
Segundo o Corpo de Bombeiros da cidade, o acidente ocorreu quando duas caixas caíram de uma tracionadeira e prensaram o funcionário contra outras caixas que já haviam sido descarregadas. Elas pesavam, em média, 1,8 tonelada cada. Com auxílio da Brigada de Incêndio, Almeida foi retirado e encaminhado ao Hospital da Unimed, mas não resistiu aos ferimentos.
Ainda nesta sexta-feira, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foi até a empresa para apurar as causas do acidente e deve retornar, na segunda-feira, para dar sequência à investigação.
6-10-2012 - Diário da Manhã (RS)
ACIDENTE DE TRABALHO - Homem cai de uma altura de cinco metros
No andaime o empresário não usava cinto de segurança e nem capacete
No Brasil, os acidentes de trabalho matam mais de quatro mil pessoas por ano e as causas vão desde a flexibilização da legislação trabalhista e o desrespeito às leis, até a falta de estrutura do Ministério do Trabalho, que não fiscaliza as empresas como deveria. Mas muitos acidentes passam também pela falta de conscientização do próprio empregado que, por achar que nunca vai acontecer nada, acaba deixando de usar os EPIs – Equipamentos de Proteção Individual que poderiam salvar a vida.
Um acidente de trabalho por negligência aconteceu por volta das 9h40 de ontem (5), em uma obra de ampliação de um supermercado de Erechim. O empresário contratado para executar a obra Darci Rodrigues, de 59 anos, estava em um andaime, a uma altura de cinco metros, sem cinto de segurança e capacete, ajudando um funcionário, que usava os EPIs obrigatórios, a subir um cano de PVC. Com o peso do cano a corda arrebentou, desequilibrando Rodrigues.
Com a queda, Rodrigues sofreu um corte profundo e um TCE - Trauma Craniano Encefálico. O empresário foi encaminhado pelo Samu – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência ao Hospital de Caridade de Erechim onde está em observação e cuidados intensivos na UTI. De acordo com o HC o quadro é grave, mas estável.
4-10-2012 – UOL / AZ
Fazendeiro tem perna triturada por máquina de cortar cana em usina
O fazendeiro José Carlos de Oliveira, 50, natural de Belo Horizonte, morreu no início da noite desta quarta-feira (3) depois de ter a perna tragada por uma máquina de moer cana, conhecida por máquina ensiladeira.
Oliveira estava com o amigo Eder Borges de Paula, 25, trabalhando na fazenda Brejinho, em Pompéu (166 km de Belo Horizonte), região centro-oeste de Minas Gerais, no momento do acidente.
Borges informou que Oliveira manipulava a máquina, e, em determinado momento, ela parou de funcionar devido à quantidade de cana que ficou entalada. O fazendeiro empurrou a cana com a perna direita, e, nesse momento, a máquina voltou a funcionar e “tragou” a perna dele. "Foi muito rápido e forte. No momento que ela desentupiu já sugou", disse.
Eder Borges contou que logo depois outro funcionário conseguiu puxá-lo e chamar um vizinho, que o socorreu. “O vizinho veio com o carro e nós conseguimos uma ambulância e o levamos (para o hospital)”, conta. José Carlos, que perdeu muito sangue, já chegou no Pronto Socorro do hospital sem vida.
Os policiais militares entraram em contato com o delegado da Polícia Civil que responde pela cidade, em Morada Nova de Minas, para que o caso fosse apurado. A perícia isolou a área e fez o trabalho. A polícia trabalha com a hipótese de acidente de trabalho. "Eu o conheci em 2007, era uma pessoa muito boa e trabalhadora. Foi um acidente o que aconteceu", concluiu o amigo.
Fonte: UOL
5-10-2012 – Folha de Pernambuco
Trabalhador morre ao cair de escada
Homem estava a uma altura de 5 metros. Norma proíbe condição sem segurança
EDWARD PENA e MAYRA CAVALCANTI
Mais um acidente de trabalho terminou em morte no Recife. Ontem, ao tentar consertar o telhado da Igreja Obreiros de Cristo, localizada na rua Zeferino Pinho, bairro da Imbiribeira, na Zona Sul da Capital, Everaldo Francisco dos Santos, 52 anos, caiu de uma altura de cerca de cinco metros e morreu na hora. Segundo informações colhidas no local junto a pessoas ligadas à Igreja que preferiram não ser identificadas, o homem era uma espécie de “faz tudo” e tinha o “costume” de realizar pequenos serviços no templo religioso.
O acidente aconteceu por volta das 11h. Segundo testemunhas, Everaldo e o filho, de 13 anos, estavam trabalhando juntos no telhado da Igreja. O garoto segurava a escada onde o pai se equilibrava enquanto realizava o conserto. Certo momento, ele desequilibrou-se e caiu. A pancada foi toda na cabeça, o que acarretou sua morte imediata.
Foi o que confirmou o Instituto de Criminalística (IC), que esteve no local e analisou as circunstâncias do acidente. De acordo com a perita Magna Pedrosa, Everaldo não fazia uso de equipamentos de segurança.
Por meio de nota à Imprensa, a Igreja Obreiros de Cristo garantiu que disponibiliza todos os equipamentos de segurança necessários. No entanto, o trabalhador teria negligenciado esses materiais, sem o conhecimento dos pastores. Ainda segundo a nota, a Igreja prestará apoio à família de Everaldo e arcará com todas as despesas possíveis, além de se colocar à disposição para quaisquer esclarecimentos.
REGULAMENTAÇÃO
Para garantir a segurança dos profissionais que trabalham em alturas acima de dois metros ou que envolvam risco de queda, por meio de definições de medidas de proteção para esses funcionários, a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) propôs a Norma Regulamentadora 35 (NR-35). A medida foi publicada pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, em março, mas só começou a valer, de fato, no final do mês passado.
A partir de agora, o descumprimento da lei poderá resultar na punição das empresas, em valores que podem variar entre R$ 402,23 e R$ 6.078,09 de multa. De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Marreta), Dulcilene Morais, 70% dos acidentes de trabalho ocorridos no Estado desde o início deste ano foram ocasionados pela queda dos trabalhadores.