Seis operários da construção civil ficaram feridos por causa de acidentes de trabalho, na semana passada, ocorridos em Manaus e Salvador. Em Santarém, no Pará, um ex-funcionário da Fundação Nacional de Saúde – Funasa morreu em decorrência do uso prolongado de inseticidas em ações de combate à malária.
Em Manaus, três trabalhadores se feriram após serem atingidos por um guindaste na obra de um prédio na Zona Centro-Sul da capital amazonense. De acordo com o hospital que os atendeu, os operários tiveram ferimentos leves e passam bem.
Na semana passada, em Salvador, três operários de uma mesma construtora sofreram acidentes em serviço. Um deles quebrou as duas pernas por ter caído do sétimo andar de um prédio. Em outra obra da empresa, após o rompimento de um cabo, dois trabalhadores se acidentaram e não sofreram danos mais graves porque estavam usando Equipamentos de Proteção Individual – EPIs.
As causas dos acidentes ocorridos em Manaus e Salvador estão sendo apuradas.
Inseticida
De acordo com matéria publicada pelo jornal “Diário do Pará”, um ex-funcionário da Funasa de Santarém, Oeste do Estado, teve como causa de morte o uso contínuo de inseticidas sem a devida proteção durante ações de combate à malária na Região.
Segundo relatos de outros ex-funcionários do órgão ouvidos pela reportagem, eles eram recrutados para eliminar o mosquito causador da doença, principalmente em localidades do interior. Porém, entre as décadas de 70 e 80, não usavam equipamentos de segurança contra intoxicação, chegando inclusive a utilizar objetos onde o veneno era misturado para uso pessoal.
A exposição ao inseticida DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) pode causar problemas crônicos e incuráveis como amnésia, lesões na pele e traumas nervosos. De acordo com a Comissão dos Intoxicados da ex-Sucam, composto por ex-servidores da extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), 802 funcionários foram intoxicados e 108 já morreram.
Prevenção
Para o Sinait, qualquer dano à saúde do trabalhador precisa ser evitado pelas empresas, principalmente, com o cumprimento nas Normas Regulamentadoras – NRs que definem os parâmetros de proteção laboral nas mais diversas áreas. Além disso, é urgente o aumento do número insuficiente de Auditores-Fiscais do Trabalho para fortalecer a fiscalização na área de segurança e saúde do trabalhador. Em evento realizado na semana passada em frente ao Ministério do Planejamento, a presidente do Sinait, Rosângela Rassy, disse que o governo está sendo irresponsável ao não realizar concurso público e ampliar o contingente de Auditores-Fiscais no país, enquanto mais de 700 mil acidentes de trabalho acontecem todos os anos.
Os acidentes de trabalho são o tema da Campanha Institucional 2012 do Sinait e do 30º Encontro Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho – Enafit, que será realizado em novembro, em Salvador.
Leia mais nas matérias abaixo.
28-6-2012 – G1 AM
Acidente em obra deixa três operários feridos em Manaus
Manaus/AM- Três operários, 23, 37 e 29 anos, ficaram feridos na obra de um prédio localizada na Avenida Mário Ypiranga, bairro Adrianópolis, Zona Centro-Sul de Manaus. Eles foram atingidos por um guindaste que caiu no local. O acidente ocorreu por volta das 9h30 desta quinta-feira (28).
Os trabalhadores foram socorridos por ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel (Samu) e levados para o Hospital 28 de Agosto, na Zona Centro-Sul.
De acordo com a unidade de saúde, os operários passam bem e não tiveram ferimentos graves. Ainda segundo o hospital, exames não constataram a existência de fraturas.
O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintracomec) informou que uma equipe irá ao local vai apurar a causa do acidente.
29-6-2012 – G1 BA
Operário quebra as duas pernas em acidente na Bahia
Salvador/BA- Um operário quebrou as duas pernas na manhã desta sexta-feira (29), em Salvador, ao se acidentar no condomínio Le Parc, situado na Avenida Paralela. Funcionário do local, o rapaz caiu do sétimo andar de um dos edifícios e foi socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE).
De acordo com a construtora responsável pelo empreendimento, Cyrela, informações preliminares dão conta de que a vítima se feriu ao pegar uma corda e descer do sétimo andar. Na ocasião, alguns funcionários trabalhavam na limpeza da fachada de uma das torres, que não é a mesma atividade do operário acidentado, segundo a empresa. Ainda segundo a construtora, toda a equipe que atuava na limpeza do edifício utilizava adequadamente os equipamentos de segurança e que as motivações para a ação do funcionário ainda são desconhecidas. A empresa abriu uma sindicância para apurar o caso.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) informou que o operário continua hospitalizado no HGE e que seu estado de saúde é considerado estável, sem risco de morte.
Cabo partido
Outros dois operários da Cyrela se acidentaram em uma obra na manhã de terça-feira (26), em Salvador. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção e da Madeira (Sintracom), o acidente foi provocado pelo rompimento do cabo de um dos lados do andaime, também chamado de balancim.
Com o cabo partido, os operários ficaram pendurados da altura de cerca de três metros apenas com o cinto de segurança, retrata a entidade. Os operários atuavam em um canteiro de obras na avenida Tancredo Neves. A construtora informou que os funcionários usavam os equipamentos de segurança no momento do incidente e que por isso não sofreram grandes danos. Ainda segundo a construtora, eles receberam alta do Hospital São Jorge, antigo PAM de Roma, no mesmo dia do ocorrido.
1°-7-2012 – Diário do Pará
Trabalhador do PA morre devido à exposição ao inseticida DDT
Santarém/PA- Em Santarém, na quarta-feira, 27, Edmar Paiva do Carmo, 56 anos, perdeu a guerra. Morreu depois de 15 anos de luta contra os efeitos de um inimigo a princípio invisível, depois incomodamente presente no cotidiano dele e da família. Os sintomas da exposição ao longo de pelo menos duas décadas contínuas ao inseticida DDT, utilizado até meados dos anos 90 no combate ao mosquito da malária. Sem equipamentos adequados de proteção, os "homens da Sucam" percorreram todos os espaços amazônicos, lidando diária e diretamente com o inseticida. Ajudaram a minimizar as epidemias de malária na região, mas pagam um preço alto por isso até hoje.
"Temos 802 funcionários intoxicados. Já perdemos 108 nessa guerra. O companheiro de Santarém foi a vítima mais recente", diz Luís Sérgio Botelho, integrante da Comissão dos Intoxicados, que luta contra a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) pelo direito a uma indenização aos trabalhadores contaminados. Um dia depois da morte de Edmar Paiva do Carmo, representantes da comissão engrossaram as manifestações contra o Governo Federal em frente à sede do Banco Central em Belém. Fincaram cruzes com o nome de dezenas de mortos, vitimados direta ou indiretamente, segundo Botelho, pelos efeitos da exposição maciça ao DDT.
Em batalha
Dizer guerra não é apenas uma força de expressão. Recrutados principalmente durante o regime militar brasileiro na década de 1970, os homens que borrifavam o DDT na região eram tratados como se fossem soldados. Tinham de bater continência, adotar normas de quartel durante a chegada e saída do local de trabalho. De lá partiam para os rincões mais profundos da Amazônia. Em burros, barcos, caminhonetes, a pé, embrenhavam-se onde houvesse a possibilidade de uma casa.
A missão era evitar a proliferação do mosquito transmissor da malária. Os agentes borrifavam nas ruas e imóveis o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) e o Malation, compostos químicos altamente tóxicos, sem o uso de equipamentos de proteção à própria saúde. Os trabalhadores não eram informados nem treinados adequadamente a respeito dos riscos de contaminação.
A exposição ao DDT por mais de duas décadas, sem o uso dos equipamentos de proteção necessários, gerou graves sequelas à saúde dos agentes. Os relatos e queixas são semelhantes como dores de cabeça, contrações musculares, irritabilidade, amnésia, lesões na pele, tontura e alguns traumas de caráter nervoso, como a impotência sexual. Sequelas crônicas, incuráveis.
A ação do DDT afeta diretamente o sistema nervoso causando atrofia de membros, dores musculares e alteração no sistema neurológico, levando a mudanças de comportamento. É o que diz, por exemplo, um laudo médico assinado no dia 06 de dezembro de 2001 pelo toxicologista Otávio Américo Brasil. Ao examinar, em Brasília, o agente Manoel Valente Tavares, atualmente prestes a completar 60 anos, o especialista constatou que a quantidade de DDT no sangue de Tavares era de 14, 08 micrograma por decilitro. Um índice normal seria 3 microgramas por decilitros de sangue.
Contato com DDT começava aos 17 anos
A avaliação médica só confirmava os sintomas que Manoel Valente Tavares vinha apresentando. Estava irritável, com seguidas vertigens, dificuldades de equilíbrio, tremores, convulsões. "A ação tóxica do DDT atua na fibra nervosa e motora do córtex motor", descreve o diagnóstico. Tavares não sabe explicar didaticamente as conclusões médicas, mas sabe o que sente. "Tem dia que fico falando só. Não é uma coisa normal. Minhas unhas são todas quebradas, minhas mãos tremem. E se eu for falar das dores passo dia inteiro aqui", afirma.
Tavares iniciou como agente no dia 25 de maio de 1970. Tinha apenas 17 anos. Lidou com todos os tipos de inseticidas. Fazia a pesagem do DDT, criando a mistura. "No depósito a gente ficava perto de tudo quanto era tipo de inseticida. Chegava a dormir em cima dos sacos do produto", lembra. "Nas viagens, por desconhecimento, a gente chegava a lavar roupa nos mesmos baldes que fazia a mistura, fazia comida nesses baldes".
Rudival Ribeiro da Costa, 62 anos, vivenciou isso de perto. Começou no dia 1º de maio de 1970, em Capanema. Tinha 18 anos. "Só me deram o capacete e a farda", diz. Costa percorreu a Transamazônica e outras estradas e vilarejos do Pará. "Trabalhei pesado e o contato com o DDT era direto", diz. O resultado, anos depois, é um homem que às vezes tem de procurar as palavras certas para dizer o que pensa. A família tem de suportar o excesso de nervosismo, as brigas fúteis. No corpo Rudival traz as cicatrizes da batalha perdida. As mãos são inchadas, joelhos e tornozelos arrebentados por artroses. "Foram 20 anos direto com isso", resume.