Nos últimos dez anos, cinco milhões de brasileiros deixaram de trabalhar mais de nove horas por dia e a maior parcela da População Economicamente Ativa - PEA já cumpre jornada semanal de trabalho entre 40 horas e 44 horas. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e foram divulgados em reportagem do jornal “O Estado de São Paulo” no dia 16 de janeiro. As explicações dos especialistas para o quadro são o aquecimento econômico do país, a formalização do emprego e a busca por capacitação pelos profissionais.
A redução da jornada de trabalho para 40 horas, prevista na Proposta de Emenda à Constituição – PEC 231/95 que tramita no Congresso Nacional, é um dos pleitos das Centrais Sindicais. As entidades alegam que a diminuição na carga horária contribuirá para gerar milhões de novos empregos.
A diminuição da jornada também é defendida pelo presidente doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, o professor e pesquisador Márcio Pochmann. Em artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo”, em 21 de agosto de 2009, ele aponta que essa tendência não irá prejudicar o emprego da mão-de-obra e o nível geral de produção. “A ocupação de mais trabalhadores e a ampliação do tempo de trabalho dos subocupados poderia ocorrer simultaneamente à diminuição da jornada oficial de trabalho e do tempo trabalhado acima da legislação oficial (hora extra)”. Segundo o economista, com essa redistribuição, o que ele considera como “gangorra social” passará a ter mais equilíbrio. Ele também tem manifestado preocupação porque prevê a extensão da jornada por conta da tecnologia que acaba obrigando os trabalhadores a levar ou concluir o serviço em casa.
Especialistas ouvidos na reportagem também destacaram a formalização como um dos motivos para a tendência de redução da jornada de trabalho no Brasil. Isso porque as empresas, ao assinarem a Carteira de Trabalho do empregado, já preferem não estender a carga horária para não precisar pagar hora extra, por exemplo.
Em algumas regiões como Centro-Oeste e Sudeste, diz o IBGE, a maioria dos trabalhadores possui Carteira de Trabalho assinada. De acordo com o Instituto, o número de empregados com Carteira assinada cresceu de 36% para 44% entre 2000 e 2010. Os sem Carteira de Trabalho caíram de 24% para 18%.
A Auditoria-Fiscal do Trabalho tem papel fundamental nisso. “Com o rigor da fiscalização, a formalização do emprego só aumenta no Brasil”, explica a presidente do Sinait, Rosângela Rassy. Ela acrescenta que esse é um dos motivos para o Sindicato reivindicar o aumento do contingente de Auditores-Fiscais, além da melhoria das condições de trabalho para a categoria. “A fiscalização precisa acompanhar o crescimento econômico do país para que tendências como a redução da jornada se consolidem”, conclui.
Em outra reportagem, o jornal “O Estado de São Paulo” destaca que o número de trabalhadores na faixa etária dos 60 anos também está aumentando. Não só porque as empresas precisam de empregados mais experientes, mas também pelo aumento da expectativa de vida no Brasil.
Veja mais informações as matérias abaixo.
16-1-2012 – O Estado de São Paulo
BRASILEIRO TRABALHA MENOS HORAS, APONTA IBGE
SALÁRIO MAIOR E MAIS EMPREGOS FORMAIS REDUZEM JORNADA DE TRABALHO NO PAÍS
LUIZ GUILHERME GERBELLI / RODRIGO BURGARELLI
De 2000 a 2010, 5 milhões de pessoas deixaram de trabalhar mais de 9 horas por dia; porcentual caiu de 44% para 28%, segundo o IBGE
O brasileiro passa cada vez menos tempo no trabalho. Dados do Censo 2010 revelam que o porcentual das pessoas que trabalham mais de 45 horas por semana caiu quase pela metade em uma década. Em 2000, 44% dos trabalhadores do País passavam mais tempo que isso no serviço, número que baixou para 28% em 2010. Isso significa que, em números absolutos, 5 milhões de pessoas deixaram de trabalhar mais de 9 horas por dia.
O número impressiona ainda mais quando se leva em conta que mais de 20 milhões de brasileiros - o equivalente a toda população da Grande São Paulo - ingressaram no mercado de trabalho nos últimos dez anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao mesmo tempo, cresceu a proporção de pessoas que trabalham menos de 14 horas por semana - o salto foi de 3% para 8,3% do total da população economicamente ativa, um ganho de 5 milhões de trabalhadores. A maior parcela da população tem uma jornada semanal que varia entre 40 horas e 44 horas.
A redução da jornada de trabalho nos últimos anos está diretamente ligada ao aumento real no salário do brasileiro - hoje, ganha-se mais por hora trabalhada que em 2000 - e também à formalização do mercado de trabalho. A porcentagem de trabalhadores com carteira assinada pulou de 36% para 44% entre 2000 e 2010 - na contramão, os funcionários sem carteira de trabalho caíram de 24% para 18%. "A formalização do trabalho regula a jornada de trabalho e a hora extra. A empresa ou o empregador vão evitar de pagar hora extra, portanto, vão reduzir a jornada para o que é oficial", diz Arnaldo Mazzei Nogueira, professor doutor da FEA-USP e PUC-SP.
Pizza
Isso aconteceu, por exemplo, com grande parte dos entregadores da pizzaria Dídio, da Lapa. A profissão era bastante informal no início da década, mas pouco a pouco mais vagas com carteira assinada foram surgindo. Hoje, na Dídio, todos os entregadores trabalham em horário definido, com direito a férias e 13.º. "Dá uma tranquilidade que eu não tinha alguns anos atrás, quando trabalhava em outra pizzaria, não tinha hora para sair e ainda ganhava menos que aqui", conta Eduardo Evangelista Nunes, de 50 anos.
No Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, os trabalhadores com carteira assinada já são maioria da população. Mas alguns Estados ainda mantém um baixo contingente de profissionais com carteira de trabalho. Um exemplo é o Maranhão, onde apenas 20,8% são registrados. "Ainda há um grande contingente de trabalhadores sem regulação e que pode estar trabalhando jornadas insuportáveis", lembra Nogueira.
Mulheres
O mercado de trabalho mais feminino, tendência da última década, também colaborou para reduzir a jornada. A diferença da participação entre homens e mulheres em postos de trabalho caiu de 20 pontos porcentuais para apenas seis em dez anos. "As mulheres costumam trabalhar menos horas do que os homens e a inclusão delas deve ter reduzido a média de horas semanais", afirmou Regina Madalozzo, professora do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
No Piauí, Paraíba e Ceará, a mão de obra feminina já supera a masculina. Os outros Estados do Nordeste também lideram a porcentagem de mulheres no mercado. "Isso ocorreu por causa da melhora econômica da região, urbanização e expansão dos serviços e comércio", analisa Nogueira. O professor lembra que essa redução da diferença entre gêneros não reflete uma igualdade salarial. Levantamento de maio do ano passado, também do IBGE, mostrou que o salário médio da mulher é 20% menor que o do homem.
Qualificação
Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, outro fator que pode ter influenciado a redução da jornada de trabalho foi o aumento da quantidade de pessoas que divide o dia entre trabalho e estudos, de olho numa melhor qualificação. "Pode ser que essas pessoas tenham diminuído um pouco a carga de trabalho para poder ter mais tempo de estudo."
A formalização e o aumento da idade média dos trabalhadores deverá se acentuar nas próximas décadas. A perspectiva do País de se tornar a quinta maior economia do mundo até 2015 deverá exigir, sobretudo, um aumento da capacitação dos trabalhadores. "A palavra mais importante nos próximos anos será capacitação. O País vai precisar de pessoas capacitadas e qualificadas", afirma Regina.
16-1-2012 – O Estado de São Paulo
Idosos na força de trabalho sobem 65% em dez anos
LUIZ GUILHERME GERBELLI / RODRIGO BURGARELLI
Censo mostra que 5,4 milhões de pessoas acima de 60 anos ainda fazem parte do mercado de trabalho, ante 3,3 milhões em 2000
Outro recorte nos dados do Censo 2010 mostra forte tendência de envelhecimento do trabalhador brasileiro na última década. A quantidade de pessoas com mais de 60 anos que está no mercado de trabalho cresceu 65% desde 2000. O número pulou de 3,3 milhões para 5,4 milhões em 2010.
O crescimento foi registrado em todas as regiões. Prova disso é que, entre os Estados que lideram o ranking, estão locais tão distantes quanto Distrito Federal (151%), Amapá (135%) e Santa Catarina (104,7%).
Traduzidos na realidade, os números indicam tanto um aumento absoluto na média de idade da população quanto a disposição dos brasileiros em trabalhar por mais tempo, mesmo depois de se aposentar. As regiões Norte e Centro-Oeste, locais de forte crescimento econômico nos últimos anos e recente formalização do mercado de trabalho, concentram a maior proporção de trabalhadores acima de 60 anos na sua força de trabalho.
Nessas duas regiões, quase 30% da população economicamente ativa tem mais de 60 anos. Já os Estados do Nordeste, com população mais jovem e baixa escolaridade nas gerações mais velhas, registram média menor que 25%. Pesa também o fato de a qualidade de vida do Brasil aumentar gradativamente, ajudando a elevar a expectativa de vida do brasileiro, hoje em 73,5 anos, segundo a última medição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Motivos
São dois os principais motivos que servem de estímulo para os trabalhadores com mais de 60 anos voltarem ao mercado de trabalho: complemento da renda e satisfação pessoal.
A professora aposentada Maria Gisella Puglisi, de 73 anos, ficou 18 anos sem exercer atividade remunerada e "depois que os filhos casaram" voltou a procurar emprego. Hoje, já tem três netos. "Eu sou dada a mudanças, gosto de me manter ativa", diz ela, que há oito anos trabalha numa unidade da Pizza Hut. "Cada dia tem uma novidade. Aqui sempre tem novidade, trabalho com muitos jovens", enfatiza. "Eu falo sempre para eles (os jovens) serem bons profissionais, porque é muito importante. Eles estão construindo o alicerce da carreira", diz Maria Gisella. Ela garante que o ritmo do trabalho não a assusta - são seis dias por semana, das 11 às 17 horas.
Além do salário complementar, a professora aposentada destaca os benefícios. "Além da ajuda (financeira), tem também o seguro saúde, o que acho fantástico." Desde 2003, a empresa contrata pessoas com mais de 60 anos e essa faixa etária já responde por 10% dos 700 funcionários da rede. O trabalho inicial é no atendimento, mas há casos de profissionais que já chegaram a gerente.
A presença dos trabalhadores com mais de 60 anos no mercado também é reflexo da falta da mão de obra qualificada. Segundo o diretor de Operações da consultoria de RH Human Brasil, Fernando Montero da Costa, com o aquecimento do mercado de trabalho, as empresas estão tendo de recorrer aos profissionais mais velhos para preencher vagas de nível técnico mais alto.
"Existia no mercado uma onda dizendo que as pessoas mais jovens têm mais energia, disposição. Depois da crise econômica, houve uma mudança e passou-se a valorizar também a experiência", diz. "Os selecionadores começaram a enxergar as pessoas mais seniores e também uma distribuição maior entre jovens e seniores nas equipes", diz Costa.
O aquecimento do mercado de trabalho foi importante para compensar a queda no número de empregadores, como indica o último Censo. Enquanto no início da década 2,9% dos brasileiros empregavam outros trabalhadores, hoje esse porcentual caiu para 1,9%. Isso significa que houve maior concentração no tamanho das empresas.