Hoje, ao acolhermos uma nova geração de Auditores-Fiscais do Trabalho, lembramos que cada passo à frente também honra aqueles que vieram antes. Nesse espírito, o SINAIT resgata a memória e homenageia a Auditora-Fiscal do Trabalho Talitha do Carmo Tudor, símbolo de pioneirismo, coragem e compromisso com a defesa dos direitos humanos no mundo do trabalho.
Neste 11 de dezembro, completam-se 22 anos de sua partida, aos 90 anos. A data, porém, não marca apenas saudade — marca presença. Talitha segue viva na história da Inspeção do Trabalho e no exemplo que oferece a cada profissional que inicia sua caminhada.
Nascida no Rio de Janeiro, em 9 de outubro de 1913, Talitha — então Talitha Borges do Carmo — formou-se em Medicina em 1937, em um tempo em que a presença feminina já era rara nas universidades, e mais rara ainda a presença de uma mulher negra ocupando esse espaço. Pioneira, fez parte dos primeiros cursos de Medicina do Trabalho no Brasil, abrindo portas que tantas outras mulheres ainda encontravam fechadas.
Atuou na prefeitura do antigo Distrito Federal e no Ministério do Trabalho, onde foi responsável pela Sessão Assistência ao Trabalho da Mulher, dedicando-se a temas que, décadas depois, continuam atuais: proteção da maternidade, igualdade no trabalho e saúde da mulher trabalhadora.
Talitha iniciou sua trajetória na Inspeção do Trabalho como Agente de Inspeção do Trabalho, quando a carreira se dividia em quatro especialidades: Agente Fiscal, Agente de Medicina do Trabalho, Agente de Engenharia e Segurança, e Agente do Serviço Social. Com a reformulação que deu origem ao Auditor-Fiscal do Trabalho, sua atuação contribuiu para consolidar a visão multidisciplinar da fiscalização que conhecemos hoje.
Aposentada em 1981, aos 68 anos, Talitha seguiu produzindo e influenciando — publicou no mesmo ano o artigo “Trabalho da Mulher”, na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, e recebeu inúmeras homenagens, entre elas: Medalha ao Mérito Perfeccionista (1996); Mulher Médica (1995); Medalha ao Mérito do Trabalho e Medalha do Congresso de Saúde do Adolescente (1991).
Fontes da história da Medicina do Trabalho reconhecem Talitha como pioneira na área, integrante do grupo fundador da Associação Brasileira de Medicina do Trabalho (ABMT) e protagonista na consolidação da entidade, onde exerceu papel de liderança e grande influência técnica.
Destacou-se, ainda, como a única mulher, até o final do século XX, a receber o Diploma da Associação de Amigos do Ramazzini. Seu legado é tão forte que inspirou o Prêmio Dra. Talitha Borges do Carmo Tudor, criado para reconhecer profissionais que se dedicam à promoção da saúde, segurança e dignidade no trabalho.
Mais do que uma trajetória profissional admirável, Talitha representa a força transformadora de servidores públicos comprometidos com um país mais justo. Sua vida reflete a essência da Inspeção do Trabalho: coragem para enfrentar desigualdades, sensibilidade para acolher vulnerabilidades e entrega permanente à defesa da dignidade humana.
Que os novos colegas encontrem em sua história um convite: o de seguir trabalhando com humanidade, firmeza, sensibilidade e compromisso social — como fez Talitha.