Sérgio Carvalho conversa com alunos sobre trabalho escravo no Brasil durante exposição fotográfica


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
19/04/2017



O Auditor-Fiscal do Trabalho e fotógrafo Sérgio Carvalho participou da abertura da exposição fotográfica “Trabalho Escravo – Auditoria Fiscal do Trabalho, 20 anos resgatando a cidadania e a dignidade dos trabalhadores” no campus da Universidade de Brasília (UnB), em Planaltina, nesta terça-feira, 18 de abril. A mostra fotográfica faz parte das atividades da Jornada Universitária de Apoio à Reforma Agrária no período de 17 a 19 de abril. O evento denuncia a violência e a impunidade no campo e faz a defesa da Reforma Agrária.


De acordo com Sérgio Carvalho é muito gratificante conversar com os alunos da UnB/Planaltina que estudam em cursos de Ciências Naturais, Educação no Campo, Gestão Ambiental, Agronegócios, entre outros. “É gratificante poder contar um pouco da história do combate ao trabalho escravo numa universidade voltada para o campo. Afinal, foi por meio de denúncias no campo que surgiu o combate ao trabalho escravo no Brasil”.


Ele esclareceu que as denúncias foram apresentadas desde a Década de 70 pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), mas, somente em 1995 o governo brasileiro reconheceu a existência do trabalho escravo no país. Em função disso, explicou Sérgio Carvalho, foi criado um Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) formado apenas por Auditores-Fiscais do Trabalho. “De 1995 para cá foram resgatados mais de 50 mil trabalhadores de condições análogas às de escravo”.


O Auditor-Fiscal do Trabalho disse ainda que os resgates atualmente não acontecem apenas no campo, mas, também nas áreas urbanas. “Aqui em áreas próximas a Brasília e Planaltina já aconteceu resgates de empregados de situações semelhantes aos registrados na mostra fotográfica. Infelizmente, o trabalho escravo existe e está muito próximo da gente”.


Sérgio Carvalho esclareceu ainda que, segundo a legislação brasileira existem quatro possibilidades de trabalho escravo: servidão por dívida; jornada exaustiva; trabalho degradante e o trabalho forçado. “No país, o trabalho degradante é a principal forma do trabalho escravo em função das péssimas condições de trabalho, a falta de alimentação adequada e a falta de água potável; essas situações caracterizam na atualidade o trabalho escravo no Brasil”.


O Auditor-Fiscal do Trabalho explicou que a conscientização é um fator importante porque em muitas situações de resgates como, por exemplo, na indústria têxtil e na construção civil, às vezes, “o próprio trabalhador não se reconhece como escravo da era moderna, mas, ele é tão escravo como o escravo clássico do Século XIX”.


Sérgio Carvalho declarou ainda aos alunos da UnB/Planaltina que eles podem fazer a diferença neste combate. “Vocês vão atuar na área rural e quando chegar ao mercado de trabalho vão poder identificar estes problemas e denunciar”.


Fotógrafo


Sérgio Carvalho disse ainda, durante o evento, que se tornou fotógrafo para mostrar que havia trabalho escravo no Brasil. “Comprei uma máquina fotográfica depois da minha primeira expedição no combate ao trabalho escravo que foi na Região Amazônica, em 1996, porque as pessoas não acreditavam quando relatava a existência do trabalho escravo”.


Segundo o Auditor-Fiscal do Trabalho, o registro fotográfico nas ações fiscais permitiu que a fotografia fosse utilizada nas suas funções mais primordiais, que além do registro, permitiu a denúncia. “A ideia é sensibilizar a sociedade, as autoridades, para que se possa construir uma legislação mais forte”.


Declarou ainda que “infelizmente, o país está vivendo tempos em que a terceirização está sendo imposta, já foi passada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República, e abre as porteiras para a escravidão”. Disse também que a “reforma Trabalhista vem mais uma vez à pauta com a desculpa de modernizar o país colocando nas costas dos trabalhadores o peso desta reforma”.


Sérgio Carvalho denunciou ainda o número reduzido de Auditores-Fiscais do Trabalho para conseguir combater esta situação. “É um momento difícil para todos e só podemos reagir exigindo dos parlamentares respostas, ir para rua e cobrar do Estado brasileiro para que a situação não piore no país. Estamos dando passos para trás rumo à escravidão e isso não podemos permitir”.


Após a fala de Sérgio Carvalho, alunos e professores da UnB/Planaltina perguntaram sobre os desafios do combate ao trabalho escravo.


A professora Clarice Santos aproveitou para agradecer ao Sinait pela montagem da exposição no Campus Planaltina.

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