O Sinait registra, com pesar, o falecimento da jurista Alice Monteiro de Barros, ocorrido no dia 15 de abril, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Desembargadora aposentada do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região – TRT/MG, professora da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e autora de diversos livros sobre Direito do Trabalho, participou como palestrante do Encontro Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho. Vários juristas e admiradores de seu trabalho prestaram homenagens a ela, entre eles, os também desembargadores aposentados Antônio Álvares da Silva e Márcio Túlio Viana, que também já tiveram participação em Enafits.
Reproduzimos os textos abaixo.
À família, a solidariedade da diretoria do Sinait e o reconhecimento pela excelência e importância de seu trabalho jurídico.
ADEUS A ALICE Professor Antônio Álvares da Silva – Desembargador aposentado
Perdemos Alice. Colega, amiga, parceira intelectual. Formou uma geração de discípulos e juristas. Personificava uma das colunas da chamada “Escola Mineira de Direito do Trabalho”. Como o Prof. Washington Albino, ela não foi apenas uma jurista, foi uma escola e um exemplo.
No trato era inexcedível. Vibrava com as teorias quentes de vida que tornam o Direito do Trabalho não só uma página dos códigos, mas um episódio da realidade. Seu Curso de Direito do Trabalho era tudo isto: ciência, vida, correção e doutrina. Lê-lo e citar as ideias ali compendiadas é uma das alegrias de minha vida intelectual.
Na Faculdade de Direito, era conhecida pela pontualidade, correção e brilhantismo nas aulas. Era uma professora nata: amava os alunos e tinha deles o amor recíproco. Muitos vinham de outras faculdades para assistir a suas aulas. Alguns colegas do interior deixavam por algum tipo suas atividades docentes para aprenderem com ela um Direito do Trabalho vivo, dinâmico próximo da realidade sem perder a dignidade da teoria.
Na magistratura, primava pela correção e sabedoria de suas sentenças. De honestidade intocável, era um exemplo neste mundo de corrupção e desacertos em que se transformou nosso país. A doença que lhe tirou a vida foi insidiosa e cruel. Provocou-lhe um sofrimento que não merecia, incompatível com sua bondade.
Visitei-a com frequência nos últimos dias. Por telefone e por presença. Já não falava mais. Articulava apenas algumas palavras, para certas pessoas que talvez reconhecesse num momento raro de lucidez. Era difícil compreender aquela cena que a ciência com sua técnica e os amigos com seu carinho não podiam debelar ou evitar.
Na última vez por telefone, ainda na semana passada, fui informado da piora do quadro, o uso permanente de oxigênio e a debilitação geral que agora chega ao fim. O ser humano é incompleto. Foi feito por células já programadas para o morte. Neste ponto, somos todos iguais. Mas Alice era diferente.
Nos limites da imperfeição era perfeita. Soube conciliar como poucos a prática do tribunal com a lição das aulas. E tudo isto emoldurado numa permanente bondade e grandeza de coração. Foi juíza e professora tão distinguida que se torna difícil saber em qual dessas atividades mais se distinguiu.
O consolo que temos é que a morte, que a tudo destrói, não destruirá Alice. Era ficará entre nós eternamente pelo que fez. Será exemplo, distinção e reverência por todos os seus colegas, alunos e servidores da nossa Justiça.
Lembro-me das palavras históricas de Sócrates aos juízes que o condenaram à morte: “Podeis ficar esperançados ante a perspectiva da morte e firmar no espírito a certeza de que, para o homem de bem, nenhum mal pode acontecer nem na vida nem na morte e que os deuses não se descuidam de seu destino”.
Os deuses cuidarão do destino de Alice na outra vida, da qual nada conhecemos. E aqui faremos também a nossa parte, vivendo seu exemplo legado e guardando para sempre sua memória em nossos corações.
Professor Márcio Túlio Viana – Desembargador aposentado
Um a um, preguiçosamente, os dias vão se passar, outono e depois inverno, primavera e depois verão, manhãs de chuva e sol quente, tardes de vento ou de frio, mas a nossa Alice estará ali, nas páginas de seus livros, nas saudades de seus alunos, nas pequenas e tantas memórias de todos nós que a conhecemos, amamos e admiramos.