Chacina de Unaí – Infâmias e violência


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
04/02/2013



O ex-Delegado Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Carlos Calazans, exercia o cargo quando aconteceu a Chacina de Unaí, em 28 de janeiro de 2004. Presente ao Ato Público organizado pelo Sinait e pela AAFIT/MG, em Belo Horizonte (MG), no último dia 28, ele afirmou que durante os nove anos do ocorrido aconteceram duas infâmias no caso. 


A primeira infâmia, na opinião de Carlos Calazans, que hoje é Superintendente do Instituto de Colonização e Reforma Agrária em Minas Gerais – Incra/MG, foi a condecoração do Antério Mânica com a Medalha de Honra Legislativa em 2008. “Uma infâmia, um vexame! Um assassino, um mandante, no palco do Palácio das Artes ser condecorado pelo Legislativo mineiro por Honra ao Mérito! Que Honra ao Mérito a Assembleia concedeu ao Antério? Um bandido ser condecorado pela Assembleia Legislativa!. Pisoteou, massacrou todos nós com aquela medalha!”, disse indignado.

 

José Augusto de Paula Freitas, presidente da AAFIT/MG e mestre de cerimônias do Ato Público, lembrou que Calazans e outros que haviam recebido a mesma comenda devolveram as medalhas à Assembleia Legislativa em protesto à homenagem feita a Antério Mânica.

 

A segunda infâmia, segundo Calazans, aconteceu no dia 24 de janeiro, quando a juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima enviou o processo para ser julgado na Vara Federal de Unaí. O fato foi chocante diante da expectativa de o julgamento ser enfim marcado, em Belo Horizonte. “Que Justiça é essa que vira as costas para uma das questões mais brutais que aconteceram com o Estado brasileiro? Não há precedentes na história de que quatro servidores sejam massacrados e o Estado não consegue julgar e deixa impune os culpados. Tudo que foi preciso fazer nós fizemos e nenhum dos acusados foi para o banco dos réus", protestou Calazans.

 

O deputado estadual Rogério Correia (PT) também manifestou o sentimento de estranheza pela demora no julgamento e mais ainda com o envio do processo para a Vara de Unaí. “Publicada hoje, como um escárnio, o Antério Mânica concede uma entrevista em que se diz inocente, nega que tenha sido mandante da chacina e afirma que quer ser julgado em Unaí”, informou o parlamentar, acrescentando que não é difícil saber o porquê dessa declaração do réu, uma vez que a cidade sofre uma forte pressão do latifúndio, que é contrária aos interesses reais de se fazer Justiça em um processo democrático.

 

“Precisamos convencer a Justiça Federal para que o julgamento ocorra em Belo Horizonte, sem pressões e que não fique condicionado ao poder dos “Mânica”, evitando assim que ocorram surpresas. É importante que essa declaração conte a nosso favor”, avaliou o deputado.

 

Representação ao CNJ

 

Sempre presente às atividades que pedem o julgamento dos acusados, Gilson Reis, vereador em Belo Horizonte (PCdoB) e presidente do Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino – Sinpro-MG, disse que ao longo desse tempo algumas questões vêm se consolidando, como a impunidade, o  ataque ao Estado, o abandono às famílias que tentam a recomposição da justiça, o ataque ao Ministério do Trabalho, o ataque às entidades sindicais.

 

“Precisamos refletir a respeito do fato de que diariamente os órgãos dos poderes Executivo e Legislativo são atacados, mas são raros os ataques ao Judiciário. Essa juíza, Raquel Vasconcelos, está sob suspeita. Ela toma a decisão de remeter o processo para Unaí sabendo que lá, com toda a pressão, o julgamento certamente não irá ser realizado da forma como deveria ser”, salientou Gilson.

 

O sindicalista sugeriu que as entidades encaminhem representação ao Conselho Nacional de Justiça - CNJ considerando que a juíza Raquel Vasconcelos está sob suspeita. “É preciso sanar o fato. Pode ser insuficiência dela, medo, não sei. Além da minha indignação e do meu protesto eu faço esse encaminhamento”. Gilson.

 

O representante do Sindicato dos Trabalhadores da Justiça Federal - Sitraemg/MG, Hebe Bicalho, atribuiu a demora do julgamento à falta de  um Tribunal Regional Federal em Minas Gerais. Segundo ele, caso os acusados sejam julgados em Unaí provavelmente acontecerão mais sete assassinatos, “pois os jurados não terão sossego para viver com suas famílias na cidade”.

 

“Sou Oficial de Justiça e testemunho  aqui o risco que corremos à mercê do poder econômico, do cidadão que não paga seus impostos e quer descontar todas as suas agruras em relação aos poderes  em nós, Oficiais de Justiça e Auditores-Fiscais do Trabalho, entre outros servidores públicos. Esperamos que esses acusados sejam condenados para que isso sirva de exemplo”, concluiu.

 

Violência no campo

 

Para Silvio Neto, representante do Movimento dos Sem Terra – MST, não é difícil compreender o que é ter familiares mortos pelos proprietários rurais. Segundo Silvio, o mesmo Estado atacado é o que está adiando o julgamento. Para ele, isso é uma “carta branca para o avanço da violência no campo”. Ele citou casos de trabalhadores que continuam sendo mortos enquanto os assassinos não são punidos.

 

“A violência no campo não é um caso isolado. O agronegócio vive do veneno, vive do trabalho escravo, vive de latifúndio improdutivo, da superexploração do trabalhador”, protestou. Silvio se comprometeu, em nome do MST, a não descansar enquanto não houver avanço no processo”.

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