Estudo alerta para exploração de trabalhadores na cadeia produtiva de ferro e aço


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
13/06/2012



Feito pela ONGs Repórter Brasil e Papel Social, o levantamento também trata dos impactos ambientais na Amazônia, Pantanal e Cerrado 


O estudo “Combate à devastação ambiental e ao trabalho escravo na produção de ferro e aço” foi apresentado na última terça-feira, 12, durante a Conferência Ethos Internacional, em São Paulo. O levantamento, que foi realizado pelas ONGs Repórter Brasil e Papel Social após dois anos de pesquisas, destaca a relação das principais empresas do setor com irregularidades ambientais e ligadas à escravidão contemporânea na Amazônia, Pantanal e Cerrado.

 

Os problemas sociais da cadeia produtiva estão ligados à produção de carvão vegetal. Segundo dados do estudo, 60% da madeira usada advém de florestas nativas e não de reflorestamento. Além disso, trabalhadores são submetidos a situações degradantes nas carvoarias. Várias delas já foram flagradas pelos Auditores-Fiscais do Trabalho em vários Estados do país. O levantamento aponta que, de acordo com a atualização da Lista Suja em novembro de 2011, dos 246 empregadores cadastrados, 57 eram do setor.

 

Segundo o estudo, feito a pedido de WWF-Brasil, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Rede Nossa São Paulo e Fundación Avina, os trabalhadores das carvoarias são pobres, sem oportunidades decentes de emprego e migram de um estado para o outro. Destaca que, de 2003 a 2011, cerca de 2,7 mil deles foram resgatados pelos Auditores-Fiscais do Trabalho de condições análogas à de escravos. As principais irregularidades constatadas pelo Grupo Móvel de Fiscalização são as jornadas excessivas, alojamentos precários, falta de alimentação e água potável, cerceamento de liberdade e o endividamento com os patrões.

 

Outro fator preocupante, presente no levantamento, é a falta de condições dignas de saúde e segurança nas carvoarias. Os trabalhadores correm sérios riscos de sofrerem acidentes com farpas de madeira e queimaduras. Além disso, ficam expostos ao calor, fuligem, esforço muscular e às substâncias nocivas presentes na fumaça dos fornos. O agravante, além das atividades perigosas, é o fato de serem exercidas em locais de difícil acesso.

 

Mesmo com alguns avanços de regularização trabalhista no setor – é citado o exemplo de Minas Gerais –, o estudo mostra que a maioria dos problemas é encontrada nas empresas terceirizadas e que algumas grandes indústrias se utilizam disso para tentar driblar as punições legais. Porém, a Fiscalização do Trabalho leva em conta a relação direta entre as grandes compradoras e as terceirizadas.

 

“Em casos de trabalho escravo, argumentando que as indústrias de ferro gusa possuem necessidade vital de carvão, a Fiscalização de campo tem estabelecido, quando é possível rastrear o destino da produção, vínculo empregatício direto entre as siderúrgicas e os trabalhadores libertados”, diz o estudo.

 

Para o Sinait, o estudo é importante para expor as mazelas da produção do carvão vegetal, principalmente aquelas ligadas aos trabalhadores, e apontar possíveis soluções para esses problemas.

 

Para ler o levantamento na íntegra, clique aqui.

 

Mais informações nas matérias a seguir:

 

12-6-2012 – Repórter Brasil

Estudo denuncia como indústria de ferro e aço lucra com escravidão e desmatamento

 

Relatório aponta que 60% do carvão vegetal utilizado vem de matas nativas e não de reflorestamento. Exploração de trabalhadores marca produção nacional

 

Por Repórter Brasil

 

A produção de ferro-gusa e aço no Brasil tem em sua base problemas graves que precisam de soluções urgentes e mudanças drásticas. É o que aponta o estudo "Combate à devastação ambiental e ao trabalho escravo na produção do ferro e do aço", feito pelas organizações Repórter Brasil e Papel Social, a pedido de WWF-Brasil, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Rede Nossa São Paulo e Fundación Avina. O documento, resultado de mais de dois anos de pesquisas, foi apresentado terça-feira, dia 12, durante a Conferência Ethos Internacional, em São Paulo (SP). Clique aqui ou na imagem abaixo para obter uma versão digital em PDF.

 

Com exemplos detalhados e bem documentados, o estudo apresenta problemas recorrentes no setor com especial atenção para o desmatamento e os impactos provocados na Amazônia, Pantanal e Cerrado, bem como para os casos de flagrantes de escravidão, que afetam principalmente trabalhadores pobres sem alternativas de emprego e renda.

 

Pesquisas de campo realizadas em Brasília (DF), Montes Claros (MG), Rio Pardo de Minas (MG), Várzea da Palma (MG), Sete Lagoas (MG), Belo Horizonte (MG), Conceição do Pará (MG), Campo Grande (MS), Aquidauna (MS), Marabá (PA), São Luís (MA), e Imperatriz (MA) permitiram não só traçar e demonstrar a ligação direta entre algumas das principais fabricantes de ferro e aço do país com a produção de carvão clandestino, como também detalhar mecanismos comumente utilizados para driblar a fiscalização.

 

Um exemplo é a lavagem de carvão, quando unidades produtoras ilegais regularizam o produto com documentos falsos ou apresentando a produção como se fosse de uma unidade regularizada. O estudo também trata de reflorestamento de fachada, uso de terras públicas, contrabando de carvão do Paraguai e de como o desmatamento e a exploração do homem têm recebido apoio e investimentos públicos. 

 

Foram identificados grupos que usaram carvão vegetal de fontes que flagradas produzindo de forma ilegal. Entre eles, Libra Ligas, Rotavi, Sinobrás, Sidepar, Cosipar, Gusa Nordeste, Brasil Verde, Simasul, Vetorial, Grupo Itaminas, entre outros. Essas empresas, enquanto processavam esse carvão, estiveram conectadas comercialmente a grandes companhias como ArcelorMittal, Cosipa, Gerdau, Mahle, Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen.

 

13-6-2012 – O Globo

Siderurgia, um setor que desmata e escraviza

 

Seis de cada dez quilos de carvão usados para produzir aço no Brasil vêm de irregularidades

 

SÃO PAULO. A siderurgia, um dos setores da economia que mais crescem - no ano passado o país produziu 48 milhões de toneladas brutas de aço - ainda tem práticas que o deixam numa situação oposta àquela que tem sido o mote das discussões sobre sustentabilidade na esteira da Rio+20. Divulgado ontem na Conferência Internacional do Instituto Ethos, um estudo apontou que ainda existem elos fortes entre o carvão vegetal usado para produzir aço, o trabalho escravo e a devastação ambiental.

 

Em 2004, a pesquisa "Escravos do Aço" já mostrava a ligação entre siderúrgicas e o trabalho escravo. Naquela época, o foco estava em Carajás, no bioma amazônico. Hoje, o problema se espalhou para Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal. Seis em cada dez quilos do carvão vegetal produzido no Brasil, segundo dados de 2010, colhidos pelo Ethos, Fundação Avina, WWF, Rede Nossa São Paulo e a ONG Repórter Brasil, vêm da destruição de florestas nativas e, muitas vezes, sua produção acontece com mão de obra escrava ou degradante.

 

- Se uma entidade pequena como a nossa, com 20 pessoas, consegue fazer este estudo, por que uma corporação poderosa tem que esperar nossa iniciativa para dar soluções ao problema? --- criticou Leonardo Sakamoto, fundador e coordenador da ONG. - Também é trabalho escravo aquele sob condições degradantes, por exemplo, quando pessoas são obrigadas a trabalhar sem água e alimentação suficientes, sofrendo maus-tratos, com alojamentos precários e sem o mínimo de higiene.

 

Outra questão séria apontada pelo estudo é que, embora as florestas naturais possam ser manejadas de forma sustentável - fazendo monocultura em terras degradadas, por exemplo - a esmagadora maioria da madeira retirada para fazer carvão vem de florestas nativas.

 

Na atualização feita em dezembro de 2010 da lista suja do trabalho escravo, 53 dos 220 empregadores relacionados estavam ligados à produção de carvão vegetal.

 

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