O Sinait publica o conto “Histórias de Auditoria – A Ameaça Velada”, de autoria da Auditora-Fiscal do Trabalho aposentada Dalva da Trindade. A narrativa trata da visita da Fiscalização do Trabalho a uma empresa e como uma Auditora-Fiscal reagiu a uma ameaça por parte do gerente da indústria.
De acordo com Dalva, ela começou a escrever contos sobre histórias curiosas que surgem no exercício da Fiscalização do Trabalho antes de se aposentar. “Esse lado pitoresco da Auditoria-Fiscal do Trabalho pode despertar algum interesse dos nossos colegas como uma leitura trivial, não-científica”, explica. Para ela, escrever já é parte integrante da personalidade, vai além do exercício profissional.
Dalva da Trindade Souza Oliveira é Auditora-Fiscal do Trabalho aposentada da Bahia. Foi co-autora de uma publicação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) sobre trabalho rural. Também já publicou artigos científicos na área de Direito Civil. Este conto e outros estão publicados em sites literários na internet.
8-11-2011 - Sinait
HISTÓRIAS DE AUDITORIA – A AMEAÇA VELADA
Certa vez a Auditora-Fiscal foi designada para fazer uma diligência, à vista de algumas denúncias anônimas, em uma indústria de porte médio às margens de uma rodovia muito movimentada da Cidade.
Apresentou-se e foi bem recebida pelo responsável da área de Recursos Humanos, que já a conhecia.
Começou normalmente o seu trabalho, como de costume, fazendo uma verificação física preliminar, conversando com alguns empregados, solicitando e verificando os documentos necessários.
De repente, o responsável pelo setor de RH se aproximou com um outro senhor, apresentando-o como o gerente da Indústria.
O senhor gerente com o rosto muito sério, após segurar a mão da Auditora perguntou:
- A senhora está tratando bem a nossa empresa?
Ela respondeu:
- Não sei. Estou fazendo o meu trabalho; quando eu concluir o senhor verifica se tratei bem ou não.
Ele disse, em pé, à frente da auditora:
- Aqui quem não tratar bem a nossa empresa, hum, hum, hum...
A Auditora, então, parando as suas atividades, voltou-se frontalmente para o gerente e perguntou:
- Hum, hum, hum, porquê? O que os senhores farão se eu não tratar bem a empresa?
Ele ficou olhando para ela, calado.
- Já sei... Prender-me-ão aqui. (Ela falou.)
O gerente olhou para ela, desafiador, e ela continuou:
- Bobagem! Trouxeram-me aqui, e se eu não retornar, este vai ser o primeiro local que virão à minha procura.
Mais uma vez o gerente olhou enviesado.
- Ah, já sei (continuou ela), receberei a oferta de um emprego aqui na Indústria. Não creio; não vão poder me pagar o que eu ganho como Auditora. Hum! Será que me matarão se eu não tratar bem a empresa? Se me matarem, eu morro, e acabou... Qual a vantagem disso?
O gerente olhou espantado, mas continuou com cara de pouco amigo e disse:
- A senhora não tem medo de nada, não?
- Não. (Foi a resposta dela).
Ele retrucou:
- Eu não conheço ninguém que não tenha medo de nada.
Ela, de pé, estendeu a mão direita para ele e disse:
- Muito prazer, meu nome é “Fulana”!
Os dois olharam para ela com ar de espanto - quem sabe pela ousadia - e o gerente deu as costas não mais aparecendo na sala.
A fiscalização continuou com todos os seus procedimentos regulares e, após a conclusão do seu trabalho, a Auditora foi embora com a mesma tranquilidade que havia chegado.
Se o gerente demorou muito tempo trabalhando nessa indústria, é um fato desconhecido pela Auditora, mas ela continuou sendo respeitada pelos representantes daquela Indústria que iam ao órgão público federal onde ela trabalhava.
Dalva da Trindade S. Oliveira
(Dalva Trindade)
08 de novembro de 2011
Esta Obra está Registrada em nome do autor Dalva da Trindade S. Oliveira sob o número 132095480201537200, o autor tem um Certificado Digital de Direito Autoral que atesta este registro.