Os 33 mineiros que ficaram soterrados por 70 dias em uma mina no Chile, depois de um ano do acidente, disseram que não receberam a ajuda prometida pelo governo. Eles estão desempregados, não receberam qualquer indenização e têm problemas psicológicos e de saúde.
Acidentes de trabalho em minas subterrâneas são, em geral, muito graves, e costumam deixar vítimas fatais ou com seqüelas. Este acidente, que aconteceu no Deserto de Atacama, teve repercussão mundial e um resgate transmitido ao vivo para o mundo todo. Os mineiros saíram vivos, mas agora passam por dificuldades.
Em agosto do ano passado, logo após o acidente, o presidente chileno Sebastián Piñera anunciou que faria uma revisão das leis trabalhistas, mas o que aconteceu depois disso não foi divulgado. Os trabalhadores enfrentam restrições para exercer atividades sindicais e, por essa razão, apenas cerca de 10% dos trabalhadores são sindicalizados. A jornada de trabalho semanal é de 45 horas, as férias são de 15 dias a cada período de 12 meses trabalhados, há legislação proibindo o trabalho forçado e infantil. A rede de direitos sociais é precária.
Veja a matéria da Folha sobre a situação dos mineiros:
22-8-2011 - Folha de São Paulo
Após 1 ano, mineiros chilenos afirmam que “não estão bem”
LUCAS FERRAZ - ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
No dia 22 de agosto de 2010, um bilhete amassado que subiu 700 m pregado a uma sonda que foi até o fundo da mina San José, no norte do Chile, avisou: "Estamos todos bem no refúgio, os 33".
Era o primeiro sinal dos mineiros soterrados em uma mina no deserto do Atacama. Marcou o início de uma operação de resgate que comoveu o mundo.
Um ano depois, José Ojeda, 47, autor das sete palavras do bilhete, decidiu parafraseá-lo, num ato de protesto: "Não estamos bem, os 33".
Assim como Ojeda, a maioria dos mineiros não conseguiu se reabilitar após o acidente na mina, quando passaram 70 dias enclausurados sob toneladas de terra, com comida escassa, nenhuma luz, submetidos a alta umidade e a temperatura de 38ºC.
As queixas são coincidentes a quase todos: pesadelos à noite, angústia, debilidades físicas, falta de trabalho e descaso das autoridades.
"As coisas não vão bem", disse à Folha Omar Reygadas, 57. "Com as lembranças, minha cabeça voltou para dentro da mina."
Ainda vivendo em Copiapó, cidade no norte do Chile onde está a mina San José, Reygadas conta que sofre de "angústia". Também não aguenta ficar em locais fechados e diz chorar muito.
"Algumas pessoas acham que ficamos ricos, mas até agora não recebemos nenhum peso", conta o mineiro, que sonha em voltar a trabalhar numa mina.
Os 33 mineiros não receberam a ajuda prometida. Muitos, como Reygadas, ficaram indignados com o uso indevido de suas imagens. Neste mês, no Chile, uma empresa lançou uma série de brinquedos de plástico deles, o que inclui até a mítica cápsula Fênix 2, que os resgatou da mina.
"O governo prometeu ajuda, trabalho, mas até agora não fizeram nada", disse à reportagem Jimmy Sánchez, hoje com 20 anos, o mais novo dos 33 mineiros.