Desta vez foi a P-65, por falta de segurança para os trabalhadores
Auditores Fiscais do Trabalho - AFTs da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) do Rio de Janeiro interditaram, nesta quinta-feira, 26, a plataforma P-65, da Petrobras, depois de constatarem que medidas de segurança não estavam sendo cumpridas.
As irregularidades foram encontradas nos setores de serviços realizados com vasos de pressão em espaços confinados e do acendimento manual do queimador de gases descartados no processo industrial. Agora a empresa terá que garantir o acendimento automático do queimador como a única forma a ser utilizada. O acendimento manual, como vinha ocorrendo, gera grandes riscos de acidentes de trabalho.
Entre as irregularidades denunciadas pelos trabalhadores e constatadas pelos AFTs também estão a ausência de iluminação de emergência, a falta de sinalização luminosa nas rotas de fuga; rotas de fuga obstruídas; falta de efetivo mínimo de trabalhadores para garantir a segurança na embarcação; falta de plano de procedimentos de Saúde e Segurança no Trabalho da plataforma; pendências de navegabilidade da área de lastro e de descarte de dejetos, além do armazenamento inadequado de EPIs (equipamentos estavam em espaço confinado, o que dificulta o seu fornecimento e utilização pelos trabalhadores), entre outras.
Quanto a essas pendências - de navegabilidade da área de lastro e de descarte de dejetos - a fiscalização trabalhista vai encaminhar a denúncia aos órgãos competentes, para que as providências sejam tomadas.
A P-65 é a antiga S-06, primeira plataforma a operar no Campo de Enchova na década de 70. A plataforma atualmente trata o petróleo produzido pelas plataformas da área sul da Bacia de Campos. Ela separa a água do óleo, reenvia para PCE 1, que manda para o Terminal de Cabiúnas.
Retrospectiva
No ano passado os AFTs interditaram as plataformas P-33 e PCH-2, após denúncias do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense - Sindipetro-NF e da categoria petroleira, que também denunciou problemas nas plataformas P-35 e P-27. Nestas duas, a Petrobras se antecipou e parou os serviços.
Na ocasião, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP preparava processo interno para pedir a interdição destas unidades, mas foi surpreendida pela decisão da própria empresa de suspender a produção para realizar manutenção. A Agência emitiu, então, uma determinação aos trabalhadores para não retornar ao emprego até que as irregularidades nas plataformas fossem corrigidas.
Em março deste ano, o Sindipetro-NF entregou ao ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, um documento que apontava problemas em diversas plataformas da Bacia de Campos, inclusive na P-65.
Mais detalhes, sobre esta ação da fiscalização, nas matérias da Agência Estado e da Agência O Globo:
27-5-2011 – O Estado de São Paulo
SRTE-RJ determina interdição da P-65 da Petrobras
GLAUBER GONÇALVES - Agencia Estado
RIO - A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) do Rio determinou a interdição da plataforma P-65, da Petrobras, depois que trabalhadores denunciaram 34 pendências de segurança, anunciou hoje o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF). A Petrobras afirmou em nota que a P-65 está em parada programada de manutenção desde o último dia 23 e isso não teria impacto sobre a produção de petróleo da empresa já que a plataforma em questão apenas auxilia no tratamento do óleo de outras unidades.
O auto de interdição foi entregue hoje em reunião na sede da estatal em Macaé (RJ) e a expectativa do sindicato é de que a interdição passe a valer a partir de amanhã, depois da comunicação do ato ao superintendente da SRTE. "Constatou-se uma série de irregularidades, sendo três delas impeditivas, pois colocam em risco a vida do trabalhador", diz o coordenador do Sindipetro-NF, José Maria Rangel.
Em nota, a Petrobras afirma que a unidade foi adquirida em 2009 de outro operador. Segundo a estatal, apesar de a P-65 atender a todos os requisitos da legislação brasileira, desde que a comprou tem feito pequenas modificações para seguir o padrão de projeto de suas demais plataformas.
A empresa diz ainda que já havia identificado anteriormente parte das não-conformidades apontadas na vistoria da STRE e que as modificações estão em fase de conclusão pela equipe técnica. Outras estariam sendo antecipadas para cumprir as determinações da superintendência.
27-5-2011 – O Globo
Mais uma plataforma interditada
Agência O Globo: Cássia Almeida e Ramona Ordoñez
Auditores fiscais do Ministério do Trabalho interditaram ontem a plataforma P-65, a mais antiga da Petrobras em operação na Bacia de Campos, em atividade desde 1977. Equipamentos operando parcialmente, falta de treinamento em trabalhos altamente perigosos e uma série de normas de segurança não seguidas pela estatal levaram à decisão, que ocorre apenas nove meses depois da interdição de outra plataforma da empresa, a P-33, por problemas de manutenção.
A unidade processa 45 mil barris de petróleo por dia, extraídos das plataformas P-15, P-7 e P-8, separando o óleo da água. Com isso, para também a produção nessas plataformas. Segundo o diretor de Saúde e Segurança do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, Vitor Carvalho, que acompanhou a vistoria dos fiscais, a Petrobras chegou a parar a plataforma antes da inspeção, já agendada:
- Eles tentaram fazer uma maquiagem antes da inspeção, mas não conseguiram evitar a interdição. Os problemas persistiram.
Um dos principais motivos da interdição, segundo Carvalho, é a falta de acendimento automático do queimador de gases descartados do processo industrial:
- Sem o acendimento automático, o petroleiro é obrigado a usar uma verdadeira tocha. Um cabo de aço com uma bucha com querosene na ponta para acender do queimador.
Outro problema grave foi a falta de treinamento e de equipamento de proteção individual para o trabalho em espaços confinados. Nesses locais, é comum haver gás venenoso:
- O profissional precisa estar altamente treinado para trabalhar nessas circunstâncias. Como há espaços semissubmersos, há bactérias que acabam produzindo gás sulfídrico. É preciso medir esses gases, ter máscara com tempo de ar suficiente para o serviço. E, além disso, uma pessoa de prontidão para qualquer emergência.
Na denúncia feita ao Ministério do Trabalho, os petroleiros listaram 34 pendências, desde falta de iluminação de emergência nas rotas de fuga a equipamento de proteção individual nos espaços confinados, problemas que precisarão ser resolvidos para que a plataforma volte a operar.
- Infelizmente, o discurso contundente da direção da empresa sobre segurança e saúde não aparece na prática nas plataformas - diz o diretor do sindicato.
Além do risco ao trabalhador, há pendências de navegabilidade, que serão encaminhadas à Marinha.
ANP alertara sobre a P-65 em abril.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) já notificara a Petrobras sobre a corrosão da P-65 em abril, pedindo esclarecimentos. Segundo a ANP, a reunião com a Petrobras foi realizada em sua sede no dia 18 de abril, "quando foi constatada corrosão acentuada nos feixes dos permutadores". A Petrobras, segundo o órgão regulador, apresentou os estudos de risco pertinentes e as salvaguardas que foram adotadas para manter a operação em nível de risco tolerável. Segundo a ANP, foi estabelecido que até setembro deste ano fosse feita a parada da técnica para a realização de obras. A agência informou que a Petrobras está com a parada agendada para agosto.
Apesar da informação passada à ANP, a Petrobras afirmou que a P-65 já estava em parada programada desde segunda-feira - a vistoria dos fiscais, agendada previamente, foi feita na quarta-feira - e que, portanto, a produção não foi afetada. A estatal afirmou que as falhas apontadas pelos fiscais haviam sido identificadas "e encontram-se em fase de conclusão pela equipe técnica. Outras estão sendo antecipadas visando a cumprir as determinações da Superintendência". A Petrobras garantiu que os trabalhadores são qualificados. A irregularidade, segundo a estatal, refere-se à manutenção de cópia dos certificados de treinamento a bordo.