Normas de segurança não eram cumpridas
Terminou na noite desta quarta-feira 14 o resgate dos 33 mineiros soterrados há mais de dois meses na mina de San José, no Chile.
Um desmoronamento de terra deixou os operários presos em uma galeria a 700 metros de profundidade. A esperança de que houvesse algum sobrevivente era praticamente nula, até que no dia 23 de agosto (17 dias após o incidente), equipes de resgate conseguiram manter contato com os mineiros e constataram que estavam todos vivos.
Os donos da mina, em entrevista a um jornal chileno, logo após o desmoronamento, garantiram que as instalações cumpriam todas as medidas de segurança e não haviam indícios que poderiam indicar a iminência de um acidente em tamanhas proporções. Porém, de acordo com informações do site UOL o governo chileno contestou as afirmações e declarou que a empresa não havia adotado as medidas de segurança necessárias para evitar o acidente.
Em entrevista, após o resgate, do primeiro mineiro, o presidente do Chile Sebastián Piñera disse que está acontecendo uma revisão completa dos termos de segurança na mineração chilena. "Vamos mudar a forma de fazer a coisa. Nossos trabalhadores merecem e necessitam de proteção", afirmou.
Piñera disse ainda que a mina não será reativada até que haja garantias de segurança para seu funcionamento. "Um país que quer ser desenvolvido tem que respeitar seus trabalhadores. Esta mina não vai voltar a funcionar até que haja garantias de segurança das pessoas que nela trabalham", disse o governante.
Os acidentes ocorridos com trabalhadores em minas subterrâneas são constantes, em função do ambiente inóspito a que esses trabalhadores são submetidos. Em geral esses acidentes quando não são fatais, deixam sequelas graves. Entre os mineiros resgatados alguns já haviam sido vítimas de soterramentos. De acordo com informações de sindicalistas com muita freqüência não são emitidas Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT e muitos operários da mineração não recebem o treinamento adequado.
No Brasil, a Norma Regulamentadora nº 22 disciplina os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento da atividade mineira com a busca permanente da segurança e saúde dos trabalhadores.
Mais informações sobre este resgate na matéria abaixo da Revista Emergência.
Resgate de operários em mina chilena incentiva pesquisas
Data: 11/10/2010 / Fonte: Revista Emergência
Chile - Resistir a um desabamento em uma mina de cobre e ser resgatado a 700 me¬tros de profundidade, passados três me¬ses, parece pouco crível. No Chile, graças à tecnologia, esse é um milagre possível. Quando novembro chegar, 33 mineiros devem voltar à superfície, retirados de um pequeno refúgio, onde ficaram isolados desde o desmoronamento na mina San Jose, em Copiapó.
Será a realização de um sonho que parecia irreal em 5 de agosto, dia do incidente. Após duas semanas, já falava-se em tragédia e poucos apostavam em sobreviventes. Tudo mudou quando um papel amassado trazia, em tinta vermelha, 17 dias depois, as palavras de alívio: "Estamos bem no refúgio, os 33".
O recado enviado por um túnel de oito centímetros já existente disparou uma operação tecnológica em três frentes. Ba¬tizados de Planos "A", "B" e "C", três máquinas diferentes perfuram dutos com cerca de 70 centímetros de diâmetro que acessarão os operários. Por ali, um a um, os mineiros serão retirados com o auxílio de uma cápsula de ¬resgate.
Avisados de que a operação poderia durar até quatro meses, coube aos traba¬lhadores encarar o desafio da adaptação à convivência forçada, à saudade de parentes, ao sono instável, à pouca ilumina¬ção, ao desconfortável ca¬lor e à alimentação regulada, enviada pe¬lo mesmo túnel por onde informaram estar vivos.
Para o resgate, eles foram divididos em três grupos. Os qualificados serão os primeiros a sair, pois podem superar contratempos no duto ou na cápsula e dar sua experiência aos colegas e aos res¬gatistas. Os candidatos são Édison Pena, desportista que percorre 10 quilômetros por dia na mina e Alex Vega, que possui experiência em resgates.
Depois, será a vez dos mais velhos e dos doentes. Nesse grupo, estão o diabé¬tico José Ojeda, o hipertenso Jorge Gal¬leguillos e o veterano Mario Gómez, de 63 anos. Por fim, serão resgatados os capazes de suportar a ansiedade até o término da operação. O gerente de turno, Luis Urzúa, deve ser o último a sair.
Cápsula
O resgate por cápsulas já havia sido realizado em 2002, na mina Quecreek, nos EUA (com nove mineiros a 80 me¬tros de profundidade). Na época, lembra Carlos Barbouth, presidente da Sur-vival Systems do Brasil e representante da Con-Space para a América Latina, os sinais vitais dos operários foram detectados por sensores acústicos. Hoje, fibras óticas e equipamentos permitem ver e dialogar. "Inclusive, a cápsula utilizada foi bem menos sofisticada que a de agora", afirma.
Batizada de Fênix, a cápsula chilena tem 2,5 metros de altura e 54 centímetros de largura. Pesa 250 quilos, possui estrutura em aço, saída de emergência, capacidade para 100 quilos, manta térmica, suprimento de oxigênio para três horas e sistema de comunicação.
Para Barbouth, a tecnologia de comunicação sai valorizada do episódio. Ele reitera que as inovações têm um custo, mas que ele será sempre menor que a re¬mediação, como agora. "As lições de Copiapó vão ser analisadas e muita coisa deverá mudar, tanto na normativa quanto na prática", acredita.
Por fim, esclarece que o resgate ¬ocorre em um espaço confinado, pois o desaba¬mento bloqueou a saída da mina e, assim, reativou riscos atmosféricos, quími¬cos, biológicos, de comunicação e ilumi¬nação, típicos do ambiente ¬confinado.
O monitoramento de parte desses riscos tem suporte brasileiro. Técnicos das bases chilenas da Suatrans Emergências Químicas auxiliam no controle da atmosfera dentro da mina. Com equipamentos de medição, eles verificam o nível de oxigênio e a concentração de ou¬tros gases, prevenindo acidentes e pro¬blemas respiratórios. A empresa já ha¬via auxiliado o Chile em fevereiro, após terremoto de 8,8 graus.