Em inspeção realizada em plataformas de petróleo da Bacia de Campos (RJ) no início de agosto/2010, AFTs constaram problemas que comprometem a segurança de trabalhadores efetivos e terceirizados. Equipamentos foram interditados e foram lavrados autos de infração. A empresa, entretanto, conseguiu liminar na Justiça que permitiu a continuidade das atividades e anunciou que haverá pausa para manutenção em outubro. As fiscalizações em plataformas de petróleo acontecem permanentemente.
Plataformas e refinarias de petróleo são ambientes de trabalho que apresentam muitas situações de perigo para os trabalhadores. Os acidentes, em geral, causam mortes ou lesões graves, acontecem com muita freqüência e não são emitidas Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT para todos eles, segundo informações de sindicalistas. Entidades que representam petroleiros em todo o país denunciam insegurança, negligência e irregularidades na contratação de trabalhadores terceirizados, que não recebem o treinamento adequado.
As regras e exigências para manter boas condições de segurança em plataformas de petróleo e estruturas de apoio estão descritas no recém publicado Anexo II (Portaria da Secretaria de Inspeção do Trabalho - SIT nº 183, de 11-5-2010) da Norma Regulamentadora nº 30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário. As NRs e anexos são resultado de longas discussões técnicas, que envolvem, normalmente, representantes dos trabalhadores da categoria, e mpresários e governo, em comissões tripartites.
Notícias sobre acidentes de trabalho em plataformas de petróleo são constantes. Para conferir, basta uma busca simples em sites de pesquisa da rede mundial internet.
Veja algumas delas:
9-8-2010 – O Globo
Fiscais veem perigo de acidente em plataforma da Petrobras e ANP fará inspeção
Cássia Almeida e Ramona Ordoñez
RIO - A plataforma P-33 foi parar na Justiça. Depois que fiscais do trabalho interditaram equipamentos que bombeiam gás para terra firme, parando a produção do gás, a Petrobras conseguiu na Justiça de Macaé liminar que permitiu o religamento da instalação. Auditores fiscais interditaram três filtros de compressão de gás da plataforma, por falta de válvulas de seguranças, na última terça-feira. Diante das denúncias dos petroleiros, publicadas nesta segunda-feira no GLOBO, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que vai fazer inspeção na p lataforma. O auditor fiscal José Roberto Moniz Aragão, que esteve na plataforma P-33 na semana passada, disse que as condições no navio são precárias:
- São capazes de provocar acidentes (de trabalho) de grandes proporções. O problema maior está nas tubulações de gás e de óleo, que sofreram reparos provisórios. Há perigo de vazamento na plataforma, a bordo.
Segundo o relatório dos fiscais, há reparos provisórios em 35 tubulações de óleo, gás e água. As denúncias do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense começaram no ano passado, segundo o diretor de Saúde e Segurança do sindicato, Armando Freitas, que é também técnico de segurança da P-33:
- A situação da P-33 e da P-31 é mais grave, mas todas as 30 plataformas da Bacia de Campos precisam de reformas urgentes. A capacidade de armazenamento de óleo é muito grande, cerca de um milhão de metros cúbicos de óleo. Corremos risco também de acidente ambiental.
A ANP explicou que normalmente acompanha a situação das plataformas, mas em razão da reportagem publicada no GLOBO, de que auditores fiscais do trabalho teriam identificado problemas de segurança na P-33, decidiu que fará uma auditoria "para breve na P-33". A ANP destacou ainda que órgãos da administração pública, como Ministério do Trabalho, Marinha, Ibama e a própria ANP, têm autonomia para determinar a parada de produção.
Liminar libera uso de equipamento interditado
A fiscalização do Ministério do Trabalho começou no ano passado e foi acertado com a Petrobras um cronograma de reformas que terminaria em julho. O prazo foi estendido pela companhia para outubro. Em 14 de julho, a explosão no turbocompressor projetou a porta do casulo contra uma viga. Segundo Freitas, houve risco para os trabalhadores. Funcionários relataram que uma tubulação de água também estourou. Em maio, houve vazamento de gás. Os petroleiros estão em campanha salarial às vésperas da data-base, que é setembro.
O auditor fiscal Aragão afirmou que o sistema de drenagem da plataforma está prejudicado, deixando o piso escorregadio, e que a plataforma, está operando abaixo da capacidade, com 20 mil barris de petróleo por dia. Uma tubulação de gás está desativada.
A Petrobras informou que conseguiu, nesta segunda-feira, na 2ª Vara de Trabalho de Macaé, liminar suspendendo a interdição de equipamentos da P-33. A companhia disse ter demonstrado à Justiça que o equipamento interditado tem válvulas de controle de pressão. A empresa afirmou ainda que a Marinha inspeciona regulamente a plataforma e está prevista nova inspeção na quarta-feira. Fiscais do trabalho também devem embarcar na plataforma nos próximos dias, segundo a Petrobras
12-8-2010 – O Globo
Fiscais do trabalho encontraram 11 situações de risco para os petroleiros
RISCO EM ALTO-MAR: Inspeção constatou corrosão e equipamentos avariados. Além da interdição de filtros, liberados por liminar, houve 5 autos de infração
Eliane Oliveira - Agencia o Globo
BRASÍLIA. A inspeção feita pelo Ministério do Trabalho na plataforma P-33 em 3 de agosto encontrou 11 situações de risco para a atividade dos petroleiros e resultou em cinco autos de infração à Petrobras, além da interdição de três filtros de óleo lubrificante por falta de válvulas de segurança, segundo nota divulgada pelo órgão ontem à noite. O relatório ainda é parcial e não detalha as irregularidades ou as punições.
Os fiscais encontraram avarias no sistema de descarga de gás de um maquinário, vazamento de vapor no separador de água e óleo em um trem de produção, um manômetro de pressão quebrado e equipamento com identificação ilegível.
Relataram também que, em pontos isolados, o piso e o guarda-corpo (grade de proteção contra queda) da plataforma estavam em estado de corrosão. Também registraram que problemas de drenagem, causados por entupimento do sistema por areia vinda de alguns poços, ajudam a espalhar água nas áreas de trabalho, que se mistura ao óleo e "leva a risco de quedas por escorregamento".
Os fiscais detectaram uso de vaso de pressão sem válvula de segurança ou com instrumento de controle "sem boas condições operacionais", o que rendeu dois autos de infração. A fiscalização constatou ainda "pórticos corroídos, calhas quebradas e fiação correndo sobre cavaletes", além de grades de pisos do turret (ligação entre os dutos que vêm do fundo do mar e os da plataforma) com trechos substituídos por tábuas de madeira, sem haver interdição de passagem.
Uma plataforma de problemas
RISCO EM ALTO-MAR - P-33 teve 9 acidentes de trabalho este ano. Petrobras vai parar operações. Na P-35, início de incêndio
Agencia o Globo/Cássia Almeida e Ramona Ordoñez
Diante das denúncias publicadas no GLOBO da falta de condições de segurança na plataforma P-33, na Bacia de Campos, a Petrobras informou ontem que vai parar a plataforma, para reparos, em outubro. Essa parada já estava prometida para julho, mas não foi realizada segundo o auditor fiscal do trabalho José Roberto Aragão. Ontem, um princípio de incêndio ocorreu em uma das válvulas de vapor da plataforma P-35, uma das citadas pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense como estando em pior estado de conservação, juntamente com a P-33 e a P-31, esta última apelidada pelos trabalhadores de sucatão.
Há um clima de medo entre os trabalhadores da P-33. Eles temem que acidentes graves ocorram provocados pelos vazamentos nas tubulações de óleo, gás e água:
- Há muitas tubulações com vazamentos. Grades de proteção mal conservadas, deterioradas. Sem grade de proteção e sem bote de resgate, se alguém cair no mar, só há o barco de apoio, a uma milha de distância para socorrer o operador - conta um petroleiro ao desembarcar da P-33.
Outro afirma que as tubulações estão cheias de reparos provisórios feitos com epox.
- As linhas estão há muito tempo sem manutenção.
Na Bacia de Campos, 539 acidentes
Desde o início do ano, já foram notificados 539 acidentes de trabalho nas 45 plataformas da Petrobras na Bacia de Campos, envolvendo funcionários próprios e terceirizados. Nove desses acidentes foram na P-33. Em todo 2009, foram registrados oficialmente 771 acidentes.
- Esse número deve ser três vezes maior. Há muita subnotificaç ão - afirmou o coordenador do sindicato, José Maria Rangel.
Desde m arço, o sindicato vem denunciando a Petrobras ao Ministério Público do Trabalho (MPT), por descumprimento do termo de ajuste de conduta que a companhia assinou em 2006, comprometendo-se a registrar os acidentes e informá-los ao Sindicato.
Na P-33 - que teve três filtros de óleo lubrificante interditados por fiscais do trabalho e depois liberados por liminar da Justiça de Macaé - trabalhadores temem até caminhar pelos pisos da plataforma:
- Só andando pode acontecer um acidente naquela plataforma, os guarda-corpos estão apodrecendo. E se cair no mar, não tem bote para resgatar.
A companhia explicou que as fotos publicadas na edição de ontem do GLOBO de equipamentos deteriorados na plataforma se referem "a instalações que estão temporariamente desativadas, ou que não apresentam nenhum risco para as operações, e estão com os reparos devidamente programados".
Fiscais da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da Marinha estiveram ontem na P-33. Segundo a agência, os fiscais recolheram informações e avaliaram os equipamentos da plataforma. A ANP afirma que divulgará a avaliação dos fiscais assim que os estudos sejam concluídos.
Para justificar a corrosão em alguns equipamentos mostrados pelas fotos publicadas com exclusividade pelo GLOBO, a Petrobras disse que as plataformas em alto-mar são submetidas a uma atmosfera muito corrosiva. A Petrobras explicou ainda que, caso se verifique uma corrosão prematura, uma inspeção verifica a urgência para a realização dos reparos. A companhia esclareceu que costuma realizar paradas programadas de plataformas a cada dois anos, e muitos reparos que não são urgentes ficam na lista para serem realizados nessas paralisações.
Para Petrobras, incêndio foi incidente
A companhia afirmou que um bote de resgate da P-33 que sofreu serviços de manutenção recente apresentou um defe ito ao chegar a bordo. Para substituí-lo em caso de necessidade, a Petrobras solicitou autorização da marinha para manter nas proximidades dois rebocadores 24 horas por dia.
A empresa disse ainda lamentar "informações veiculadas sem qualquer embasamento técnico".
Inspetores da Marinha vão realizar uma perícia hoje na P-35, para preparar um laudo sobre o princípio de incêndio. A Petrobras afirmou que o foco de incêndio foi logo controlado e que foi considerado apenas um incidente.
Do orgulho ao medo a 120km da costa
O que era motivo de orgulho se tornou motivo de medo. Meu filho trabalha embarcado na P-33 há vários anos. E nos últimos anos ele vem dizendo que as condições de trabalho na P-33 são cada vez mais precárias.
Há cerca de um ano, para não ter que reformar as instalações onde os trabalhadores dormem, a Petrobras tirou 50 terceirizados necessários.
As instalações são ruins, mas o mais grave são as condições de segurança. A política da Petrobras é reduzir custos e aumentar a produção. Meu coração está apertado com meu filho numa plataforma dessas a 120 quilômetros da costa.
Pai de um funcionário embarcado na P-33
11-8-2010 – Jornal do Commercio
Petroleiros protestam contra falta de segurança em plataformas
Agência Brasil
O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) quer fazer uma manifestação na próxima segunda-feira (16) para tornar públicas as denúncias que tem recebido sobre descaso na área de segurança do trabalho e de falta de higiene nos locais de trabalho e de descanso da plataforma P-33, da Petrobras. Na ocasião, serão lembrados os 26 anos da explosão da Plataforma de Enchova, na Bacia de Campos. O acidente ocorreu no dia 16 de agosto de 1984, matando 37 petroleiros.
O Sindipetro-NF diz que os equipamentos usados nas inspeções de segurança da Petrobras são contraindicados pela entidade. O sindicato também pediu ao Ministério do Trabalho a interdição da plataforma P-31, apelidada de "sucatão", no Campo de Albacora, localizado na Bacia de Campos.
Segundo o coordenador-geral do Sindipetro-NF, José Maria Rangel, o sindicato tem recebido denúncias de problemas em outras plataformas. "Já tivemos dois casos na Bacia de Campos, na P-33 e na P-35, em que o trabalhador pisou numa grade enferrujada e caiu porque ela vazou. A sorte é que ele não estava no último piso da plataforma, senão teria caído no mar", afirmou Rangel.
A Marinha e a Agência Nacional de Petróleo (ANP) fizeram hoje (11) uma vistoria na P-33, também na Bacia de Campos. A Petrobras afirmou, por meio de sua assessoria, que as inspeções seguirão e que "nenhum dos equipamentos compromete a segurança das operações e o estado de ferrugem é normal". Segundo a estatal, a plataforma P-33 está em dia com a certificação e com a inspeção anual "feita por profissionais habilitados", desde 1999.
10-8-2010 – Agência Estado
Sindicato pede interdição da P-33 por risco a trabalhador
Por Nicola Pamplona
Rio - O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) foi hoje ao Ministério Público do Trabalho (MPT) pedir a interdição da plataforma de produção de petróleo P-33, instalada no campo de Marlim, na Bacia de Campos, alegando risco à segurança dos trabalhadores. A plataforma chegou a ser interditada na semana passada pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT) de Macaé, mas aPetrobras conseguiu liminar no sábado retomando as operações.
Segundo o coordenador do Sindipetro-NF, José Maria Rangel, os problemas foram detectados durante operação de vistoria que é realizada pelos trabalhadores nas platafo rmas da Bacia de Campos desde 2009. "São plataformas que estão operando há muito tempo e que necessitam de manutenção periódica para preservar o bom estado de conservação", explica Rangel, que cita como críticas também a P-31, do campo de Albacora, e P-35, de Marlim.
A Petrobras tem hoje 45 plataformas de produção na Bacia de Campos. Na P-33, a vistoria dos trabalhadores indicou uma série de problemas com equipamentos de segurança e nas condições de habitação da plataforma, incluindo acú mulo e lixo e falha na limpeza de banheiros. A unidade sofreu dois acidentes recentemente, segundo o Sindipetro-NF: um vazamento de gás em maio e a explosão de uma válvula em julho.
"Entendemos que a produção de petróleo é importante, mas não há dinheiro que pague uma vida", diz o sindicalista. A P-33 produz atualmente cerca de 20 mil barris por dia. A Petrobras alega que não há problemas na unidade, que "é inspecionada por profissionais habilitados e certificada anualmente, desde 1999, pelo Sist ema Próprio de Inspeção de Equipamentos (SPIE)".
Ainda segundo a estatal, a última certificação foi emitida em dezembro de 2009 e permanece válida. A plataforma, diz a empresa, é vistoriada regularmente pela Marinh a, que embarcará na unidade amanhã. A Delegacia Regional do Trabalho também deve participar dessa nova vistoria. Além do Ministério Público do Trabalho, o Sindipetro-NF levou a denúncia à Marinha e à Agência Nacional doPetróleo (ANP).