Por Nilza Murari
A diretora do Sinait Ana Palmira Arruda Camargo e o Delegado Sindical de Santa Catarina, Lucas Reis, participaram entre os dias 23 e 26 de novembro, no Rio de Janeiro, do 23º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação – NPC. O evento é voltado para a comunicação sindical e popular, para jornalistas e sindicalistas. Este ano teve o tema “Comunicar com todos os meios e falar para milhões”. Além deles, participaram as jornalistas Dâmares Vaz e Nilza Murari.
Ana Palmira e Lucas Reis levaram para o curso materiais impressos sobre os 20 anos do Grupo Especial de Fiscalização Móvel e sobre a Portaria 1.129/2017. Eles tiveram um espaço para falar sobre o assunto na manhã do dia 24. A atenta platéia era formada por jornalistas e sindicalistas de várias partes do país, do serviço público e da iniciativa privada, jovens e mais experientes, das mais diversas categorias de trabalhadores.
Eles denunciaram as interferências da Portaria 1.129/2017 na fiscalização e a alteração do conceito de trabalho escravo. O texto reduz as possibilidades de caracterização do trabalho escravo e, pode na teoria, acabar com o trabalho escravo no país. Na prática, entretanto, o trabalho escravo contemporâneo, que é muito mais do que a restrição da liberdade de ir e vir, vai continuar existindo. Lucas ainda falou sobre a Lista Suja que, pela Portaria, deverá ser expressamente autorizada pelo ministro do Trabalho, tanto para inclusão de empregadores como para a divulgação do documento.
Ana Palmira ainda falou do site Trabalho Escravo, lançado pelo Sinait, e exibiu o vídeo em que Auditoras-Fiscais do Trabalho pioneiras no combate ao trabalho escravo deram depoimentos que esclarecem muito sobre o problema e como foi enfrentado desde a década de 1990. Vários jornalistas entrevistaram Lucas Reis, que integrou equipes do Grupo Móvel, sobre sua experiência.
Papel da imprensa sindical
O combate ao trabalho escravo e o trabalho escravo em si foram citados e referenciados em vários momentos do curso, que deu voz a segmentos e movimentos sociais que, em geral, não têm espaço na mídia tradicional. Foi frisado o importante papel da imprensa sindical de se contrapor ao que o capital comunica com disponibilidade de grande espaço e uso do poder econômico à população. O papel é de resistência, esclarecimento e formação.
Para cumprir esse objetivo, é necessário ir além da pauta específica de cada categoria, assumindo temas sociais como racismo, luta de classes e contra a violência que, ao final, fazem parte de um contexto que, de uma forma ou de outra, dizem respeito a toda a sociedade e a cada cidadão. O movimento sindical, segundo a percepção dos participantes, precisa ser solidário. Falar, dar espaço ao outro, para que o outro também abra o espaço para a sua luta. Essa intersetorialidade é que tem potencial de espalhar e difundir a informação de um ponto de vista diferente.
Representantes da academia que pensam e fazem a comunicação sob uma perspectiva democrática e inclusiva, jornalistas que lidam com a luta popular dentro de favelas e movimentos sociais, militantes dos mais variados segmentos, além de sindicalistas, apresentaram experiências, projetos e ideias. Muitas histórias pessoais de superação foram relatadas, que servem como exemplos e inspiração para fazer a luta de classes dia a dia. Assim como trouxeram avaliações sobre a utilização dos atuais instrumentos de comunicação, como têm sido usados pela grande mídia e pela imprensa alternativa, o controle exercido sobre a informações por parte do Google, Facebook e outras plataformas que fazem parte do quotidiano das pessoas e organizações.
NPC
Cobertura
No site do NPC é possível conferir várias matérias sobre a cobertura das mesas de debate ao longo dos cinco dias do curso. Também há cobertura fotográfica e em vídeo disponível no Facebook - https://www.facebook.com/npcinstitucional/.
No início deste vídeo é possível conferir parte da fala de Lucas Reis sobre o trabalho escravo.