26-3-2010 – SINAIT
Foi lançado ontem na Universidade de Brasília o livro Duração do trabalho em todo o mundo: Tendências de jornadas de trabalho, legislação e políticas numa perspectiva global comparada, editado pela Organização Internacional do Trabalho (já com tradução para o Português), em que três especialistas analisam as legislações sobre a jornada de trabalho no mundo. Segundo a entidade, mais de 660 milhões de pessoas são submetidas a jornadas de mais de 48 horas semanais.
Em vários países a jornada de trabalho já foi bastante reduzida, inclusive no Brasil, cuja carga semanal praticada hoje é de 44 horas. Há um movimento dos trabalhadores para aprovar a Proposta de Emenda Constitucional - PEC 231/1995 que propõe a redução para 40 horas semanais. O principal argumento a favor da PEC é a criação de empregos que a medida geraria, aliada à redução drástica de horas extras. A estimativa é de que cerca de 18 milhões de trabalhadores seriam afetados, de alguma forma, pela redução da jornada. Mas o empresariado resiste à mudança, mesmo que seja implementada de forma gradual, como admitem as centrais sindicais. Para eles, não seriam gerados tantos empregos como o previsto, com o efeito colateral de aumentar os custos de produção e de encargos sociais. O debate está em pleno andamento no Congresso Nacional, onde a proposta já completa 15 anos de tramitação.
O SINAIT apoia a PEC 231/1995.
Acesse o link
http://www.oitbrasil.org.br/topic/employment/pub/jornada_de_trabalho_145.pdf para conhecer a íntegra do livro.
Veja nota da OIT Brasil sobre a obra:
25-3-2010 – OIT Brasil
Redução da jornada no Brasil beneficiaria mais de 18 milhões de trabalhadores
Em livro sobre a jornada de trabalho, OIT diz que mais de 600 milhões de pessoas em todo o mundo trabalham mais de 48 horas semanais
BRASÍLIA (Notícias da OIT) – Em todo o mundo, cerca de 22% da força de trabalho, ou 614,2 milhões de trabalhadores, aproximadamente, trabalham mais de 48 horas semanais. Esta é uma das principais revelações do livro Duração do trabalho em todo o mundo: Tendências de jornadas de trabalho, legislação e políticas numa perspectiva global comparada, cuja tradução em português está sendo lançado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em debate na Universidade de Brasília nesta quinta-feira (25 de março).
De acordo com o livro, de autoria dos especialistas da OIT Sangheon Lee, Deirdre McCann e Jon Messenger, durante as últimas cinco décadas, apesar das substanciais diferenças regionais e do processo desigual para reduzir as horas da semana legal de trabalho, houve uma mudança global para um limite de 40 horas. Jon Messenger está no Brasil para o lançamento do livro.
Outra constatação: o gênero e a idade parecem ser fatores importantes para determinar a duração do trabalho. Apesar do aumento da participação da mulher no trabalho remunerado, existe uma clara “brecha de gênero” em relação às jornadas de trabalho no mundo inteiro. Os homens tendem a executar jornadas mais longas, enquanto que as mais curtas são geralmente desempenhadas por mulheres. O tempo que a mulher dedica à família e às responsabilidades domésticas restringe sua disponibilidade para o trabalho remunerado.
A idade é um fator menos influente, mas não deixa de ser importante para determinar as horas trabalhadas. Os jovens e as pessoas em idade de aposentar-se trabalham menos horas e isto reflete, com frequência, as insuficientes oportunidades de trabalho para os grupos mencionados. As jornadas de trabalho para o grupo de idade mais avançada (65 anos ou mais) são substancialmente reduzidas.
Em todas as regiões do mundo em desenvolvimento, o trabalho informal responde por pelo menos metade da ocupação, do qual 60% consiste em um trabalho por conta própria. Enquanto nos países industrializados uma grande parte dos trabalhadores por conta própria trabalha jornadas muito prolongadas, nos países em desenvolvimento as jornadas são mais curtas (menos de 35 horas por semana).
A jornada de trabalho é uma dimensão importante na qualidade de emprego, tendo repercussões importantes na segurança e saúde do trabalhador, na combinação entre a vida pessoal e familiar e também na organização do trabalho dentro da empresa.
A OIT propõe que os acordos de tempo de trabalho decente devem satisfazer cinco critérios inter-relacionados: devem favorecer a saúde e a segurança no trabalho, ser compatíveis com a vida famíliar, promover a igualdade de gênero, reforçar a produtividade, e facilitar a escolha e influência do trabalhador no seu total de horas de trabalho.
Dados sobre o Brasil
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, em 2008 a população ocupada de 16 anos ou mais de idade trabalhou uma jornada média semanal de 40,8 horas. Apesar da média ser mais reduzida que o limite fixado na lei, houve um contingente expressivo de ocupados cujas jornadas semanais superavam este limite. Outros dados sobre o Brasil:
· Em 2008, 33,7% trabalhavam uma jornada superior às 44 horas semanais e 19,1% trabalharam uma jornada superior a 48 horas, enquanto 23,1% trabalhavam menos de 35 horas por semana.
· Existem diferenças entre as jornadas dos homens e das mulheres. A média de horas trabalhadas por semana pelos homens era de 44 horas, quase oito a mais do que a jornada das mulheres, de 36,4 horas. Além disso, a carga excessiva afeta mais os homens do que as mulheres. Em 2008, 24,7% das mulheres e 40,5% dos homens trabalhavam mais de 44 horas semanais.
· Apesar da jornada reduzida das mulheres, no conjunto das mulheres brasileiras ocupadas, uma expressiva proporção de 87,8% também realizava afazeres domésticos, enquanto que entre os homens tal proporção expressivamente inferior (46,5%).
· A média de horas dedicadas aos afazeres domésticos foi de 18,3 pelas mulheres e de 4,3 pelos homens ocupados, ou seja, 14 horas a menos.
· Entre 1992 e 2008 houve uma redução da média de horas trabalhadas por semana de 42,8 horas para 40,9 horas. A redução mais significativa foi entre a população ocupada com jornada de trabalho semanal acima de 44 horas, de 43,3% em 1992 para 33,9% em 2008.
· A categoria ocupacional que será diretamente afetada por uma eventual redução da jornada legal de trabalho para 40 horas semanais são os empregados do setor privado com carteira de trabalho assinada. Eles compõem 33,2% das pessoas ocupadas no país, ou seja, 31,9 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Dentro desse grupo, 58,6% trabalhavam mais de 40 horas semanais em 2008 enquanto 41,4% trabalhavam 40 horas ou menos por semana. Portanto, a redução da jornada às 40 horas semanais afetaria diretamente um contingente de 18,7 milhões de trabalhadores brasileiros.