10-2-2010 – SINAIT
Representantes das centrais sindicais e empresários travam uma queda de braço em torno da proposta de redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Os trabalhadores alegam que essa medida, assim como a redução das horas extras, seria capaz de gerar milhões de novos empregos.
O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB/SP), fez nesta terça-feira, 9, uma proposta intermediária, de reduzir a carga horária para 42 horas semanais. Tanto um lado quanto o outro resistem. As centrais aceitam negociar a diminuição gradual da jornada, desde que a Câmara fixe uma data para apreciar a Proposta de Emenda Constitucional, que já tramita há 15 anos. Os empresários continuam firmes na posição contrária à medida, pois não acreditam que vá gerar empregos e temem a queda da competitividade da indústria brasileira no mercado externo. Para haver redução de jornada, o setor industrial pede incentivos na área tributária, em outras palavras, redução de impostos.
As centrais prometem uma onda de greves depois do carnaval caso as negociações não avancem.
Veja matérias sobre o assunto, que trazem posicionamento dos trabalhadores e dos empresários:
10-2-2010 – O Estado de São Paulo
Pressão por redução da jornada aumenta
Edna Simão
Em ano eleitoral, as centrais sindicais aumentam a pressão e ameaçam fazer greves em todo o País para forçar a Câmara dos Deputados a aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduz a jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais. Mesmo correndo o risco de serem derrotados, os empresários continuam irredutíveis e não aceitam negociar a PEC, que tramita na Câmara há 15 anos.
Foi nesse cenário de divergências que o presidente da Câmara, Michel Temer (PDMB-SP) realizou, ontem, reuniões separadas com representantes dos trabalhadores e dos empresários para discutir o assunto. Os trabalhadores cobram uma data para votação da proposta, o que não ficou definido.
Os representantes dos trabalhadores dizem que estão dispostos até a negociar uma forma gradativa para reduzir a jornada para 40 horas. Como muitos parlamentares, eles avaliam que, se a proposta for ao plenário, não haverá dificuldades em ser aprovada, já que ninguém quer ter o desgaste político de ficar contra a medida em um ano de eleição.
Para as centrais sindicais, pelo menos, 2,5 milhões de empregos devem ser criados com a diminuição da jornada. Os empresários, no entanto, salientam que a proposta aumenta os custos do setor produtivo, reduz a competitividade e incentiva ainda mais a informalidade. Ou seja, terá efeito contrário.
Na intenção de facilitar um acordo, Temer pôs em debate uma proposta intermediária, que, entretanto, acabou por não agradar a nenhum dos lados. A sugestão de Temer, que deve ser levada a uma reunião de líderes de partidos, que ainda não está marcada, prevê a diminuição da jornada de 44 para 42 horas semanais num período de dois anos. A proposta prevê ainda a manutenção do valor adicional pago por hora extra em 50% e a concessão de incentivos fiscais para minimizar possíveis prejuízos às empresas. A indústria avalia, no entanto, que a proposta é complexa e difícil de ser adotada.
Segundo o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), a proposta de Temer será levada para debate nas bases. "Mas acho que temos de continuar brigando pelas 40 horas."
9-2-2010 – CUT
Redução da jornada sem redução de salário
Após diálogos na Câmara Federal, CUT e centrais prometem greves e paralisações em defesa do projeto
Isaías Dalle
A atividade promovida na Câmara dos Deputados pelas seis centrais nesta terça, dia 9, foi intensa, reuniu muitas lideranças sindicais, marcou presença em dezenas de gabinetes de todos os partidos, atraiu a imprensa e as entidades patronais e houve até um novo - porém insuficiente - aceno por parte do presidente da casa, Michel Temer (PMDB-SP), a quem cabe a decisão final de colocar a matéria na pauta de votação do plenário.
Mas é a realização de uma série de mobilizações para depois do Carnaval, o que inclui greves e paralisações em diferentes setores de atividade, a aposta da CUT para garantir a aprovação da PEC que reduz a jornada semanal de trabalho para 40 horas semanais e remunera as horas extras em 75% acima das horas comuns.
Isso porque as entidades patronais continuam afirmando que querem negociar uma forma gradual para a implementação da mudança, e a Presidência da Câmara mantém a avaliação de que o envio da PEC diretamente ao plenário vai ser "complicado". A repetição do mesmo discurso, sem a abertura efetiva de um processo de negociação com os empresários e sua bancada parlamentar, levou as lideranças sindicais a insistir que é preciso fazer barulho na base.
"Temos de mostrar que temos base social, que temos capacidade de mobilização, sem isso não vai haver mudança", afirmou Artur Henrique, presidente da CUT, a dirigentes sindicais reunidos no início da tarde no gabinete da liderança do PDT. "Do contrário, vamos ficar brincando de entregar pauta de reivindicações", completou. Durante a reunião, os dirigentes das centrais discutiam como "destravar" a redução da jornada na Câmara.
Enquanto ocorria essa reunião das centrais, Michel Temer mantinha audiência com lideranças empresariais, conforme programado desde o dia anterior. Na lista de empresários só constavam representantes do setor industrial, justamente aquele em que a jornada de 40 horas está mais consolidada, em função de importantes acordos coletivos. A falta de setores onde as jornadas são predominantemente extensas e onde mais é necessária a mudança foi notada pelos dirigentes sindicais.
Terminada a audiência com os empresários, Temer recebeu as centrais. Disse que apresentou aos empresários a idéia de reduzir a jornada para 42 horas e encaminhar a diminuição das outras duas horas para "dois ou três anos". Temer afirmou, ainda, que os empresários presentes à audiência incluíram um novo argumento para a abertura de negociações: benefícios fiscais, ou seja, corte de impostos.
Artur Henrique, ao falar logo após Temer, voltou a insistir - como já havia feito na semana anterior, em conversas com lideranças partidárias - que as centrais estão dispostas a negociar um processo de redução gradual da jornada, mas que para isso é preciso marcar uma data para votação em plenário, o que obrigaria os empresários a abrir um real processo de negociação. E não demorou para atacar a proposta de incluir benefícios fiscais no debate, feita pelos empresários.
"Quero lembrar que não estamos aqui reivindicando ganhos futuros, mas estamos cobrando a distribuição de uma parte dos enormes ganhos de produtividade e de lucratividade que os empresários já acumularam nos últimos anos. Em nossa avaliação, essa discussão de benefício fiscal é uma tentativa de escamotear a relação da jornada de 40 horas com o lucro e a produtividade que já estão no bolso do capital", disse Artur.
O presidente da CUT, no entanto, agradeceu o esforço do presidente da Câmara no assunto, e voltou a pedir o agendamento de uma data de votação. Temer então solicitou que as centrais discutam o assunto e tragam uma nova posição para "depois do Carnaval".
Logo depois, falando à imprensa, Artur informou que após o Carnaval as confederações e federações filiadas às centrais sindicais vão apresentar a reivindicação diretamente às entidades patronais, aumentando assim a pressão nas bases. Depois disso, segundo Artur, será necessário estipular um tempo para a abertura do diálogo. "Terminado esse tempo, faremos greves e paralisações", informou.
A Central Única dos Trabalhadores também visitou gabinetes, destacando dirigentes sindicais para abordar os deputados e deputadas de suas regiões. Um folheto especialmente preparado para a data, intitulado "Em 2010, Vote com a Classe Trabalhadora", foi distribuído pela Câmara.
A CUT foi representada ao longo do dia pelos dirigentes: José Lopez Feijóo, vice-presidente; João Felício, secretário de Relações Internacionais, Rosane Silva, secretária da Mulher Trabalhadora; Antonio Lisboa e Pedro Armengol, coordenadores do Escritório de Brasília; Valeir Ertle, diretor executivo; Expedito Solaney, secretário nacional de Políticas Sociais; Julio Turra, diretor executivo; Rosane Bertotti, secretária nacional de Comunicação; Darby de Lemos Igayara, presidente da CUT-RJ; Skakespeare Martins, diretor executivo; Jerônimo do Nascimento, presidente da CUT-CE; Sebastião Geraldo Cardozo, secretário geral da CUT-SP; Martiniano Costa, presidente da CUT-BA; Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT, Maria Júlia Reis Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo; José Carlos Nunes da Silva, presidente da CUT-ES; Elisângela dos Santos Araújo, diretora executiva, e Jasseir Fernandes, diretor executivo, entre outros.
8-2-2010 – Federação das Indústrias de São Paulo
Nota Oficial - Fiesp e Ciesp são contra redução obrigatória da jornada de trabalho
Imposição não é boa para o trabalhador, nem para o empresário e, muito menos, para o Brasil, diz Paulo Skaf, presidente das entidades
Em ano eleitoral o velho tema volta ao debate, sinalizando claro uso político de algo que, na prática, já é realidade no País com base no livre entendimento entre empresas e seus colaboradores em diversos setores da economia.
A Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) são contra a Proposta de Emenda à Constituição 231/1995, que prevê a redução da jornada semanal de trabalho de 44 para 40 horas e aumento da hora extra de 50% para 75%. Diversas experiências internacionais, e em especial a brasileira, mostram que o objetivo do projeto — aumento dos postos de trabalho — não será atendido.
A pretendida medida, além de não criar emprego, comprometeria a competitividade brasileira, poderia reduzir os níveis de produção, as exportações e provocar o aumento de preços em numerosos produtos, bens de consumo e serviços. E nada, como tais indicadores, conspira tanto contra a criação de postos de trabalho!
“A realidade é indiscutível: de 2003 a 2009, o Brasil reduziu a taxa de desemprego de 12,3% para 8,1%, por meio do crescimento econômico e não por alterações na jornada de trabalho. Por outro lado, a redução do período semanal de trabalho, de 48 para 44 horas, estabelecida pela Constituição de 1988, não criou um emprego sequer”, alerta Paulo Skaf, presidente da Fiesp e do Ciesp.
O caso mais ilustrativo e parecido com o que se pretende fazer no Brasil é o da França, que realizou um longo processo de redução de jornada de trabalho em duas etapas e de maneiras distintas.
A primeira etapa, iniciada em 1982, impôs uma redução repentina da jornada de trabalho francesa, sem medidas preventivas governamentais de manutenção dos empregos. Os resultados contrariaram o esperado, ocorrendo uma redução de até 4% no nível de emprego. Os grupos de trabalhadores mais prejudicados foram os que recebiam salário mínimo.
As autoridades diagnosticaram, à época, que a maior parte das empresas francesas afetadas pela redução da jornada não possuía condições de arcar com o aumento de custos, o que as levou a reduzir seus quadros. Ou seja, houve desemprego.
A segunda etapa, em 1998, foi elaborada levando-se em conta os erros cometidos na primeira. Assim, o governo francês adotou um elevado pacote de incentivos governamentais para as empresas mais afetadas, buscando preservar empregos. E o mais importante: a adesão ao programa tinha caráter voluntário.
No Brasil a realidade é bastante diferente da Europa: a jornada média de trabalho é de 41,4 horas semanais, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). O índice está abaixo de muitos países que concorrem com a economia brasileira no mercado internacional:
Argentina (41,5h);
Chile (41,7h);
Coréia (43,4h);
Malásia (46,9h);
México (43,5h);
Turquia (49h).
Além disso, 99% das empresas brasileiras são de pequeno e médio porte e respondem por 56% do emprego.
“Para as grandes empresas, que já praticam jornadas iguais ou inferiores a 40 horas, a obrigatoriedade de uma redução não trará efeito algum. Já para as pequenas e microempresas, a medida seria inviável, trazendo o risco de desemprego como aconteceu na França. Algo prejudicial às empresas, aos trabalhadores e ao País”, afirma Skaf.
Não é prudente nivelar organizações diferentes, atividades distintas e peculiaridades produtivas e trabalhistas. Seria anacrônico e autoritário, além de inoportuno, considerando que ainda estamos emergindo da grave crise mundial, uma conjuntura que exige trabalho, dedicação e foco no crescimento.
Nesse caso, o exemplo francês mostra-se mais interessante, porque, como vimos na segunda etapa (depois de constatar o erro da imposição em reduzir a jornada) estabeleceu liberdade para, de maneira voluntária, empresas e trabalhadores aderirem ao regime mais interessante para ambos, mas com estímulos tributários. O que não apenas garantiu empregos, como abriu novas oportunidades de postos de trabalho. No Brasil, a legislação já possibilita esse entendimento entre as partes, faltando apenas que se estabeleça a compensação nos impostos.
“Em vez de uma legislação impositiva em ano eleitoral, é mais moderno e eficaz que empresas e trabalhadores unam-se na meta do crescimento sustentado, do aumento da produção e das exportações e da consequente criação de empregos. O diálogo, democrático e inquestionável, estabelecerá, como já vem ocorrendo em nítido avanço, a melhor jornada para cada empresa e setor, suscitando sinergia entre capital e trabalho na conquista do desenvolvimento brasileiro. Assim, ganham todos e o País”, propõe Skaf.