Caminhoneiro morre de parada cardíaca após dirigir por 16 horas seguidas

Polícia Rodoviária Federal encontrou cocaína no interior do veículo. Dados colhidos nos últimos cinco anos, revelam que a cocaína é a droga mais utilizada por 70% dos motoristas profissionais para aguentar o excesso de jornada, constatado frequentemente por Auditores-Fiscais do Trabalho. Na semana passada, Auditores-Fiscais do Trabalho, em Goiás, constataram motoristas de ônibus dirigindo há aproximadamente 45 horas sem descanso, em operação no Terminal Rodoviário de Goiânia


Por: Lourdes Marinho
Edição: Andrea Bochi
23/04/2024



Com informações do G1 Minas — Belo Horizonte e da Agência Brasil 

Um caminhoneiro de 44 anos morreu na BR-381, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, de parada cardíaca após dirigir por pelo menos 16 horas seguidas. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) encontrou cocaína no interior do veículo. Além da droga, foram localizados pequenos sacos de plástico com resquícios de cocaína e utensílios para uso, como cartões e notas de dinheiro.

A PRF ainda constatou que ele chegou a atingir 150km/h de velocidade. O caso aconteceu neste domingo, 21 de abril, e não houve registro de acidentes por causa da fatalidade.

O caminhão levava quatro bobinas de aço que pesavam cerca de 50 toneladas. O material encontrado foi entregue à polícia judiciária e o veículo foi recolhido para retirada da empresa proprietária na unidade da PRF em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A Polícia Civil informou que o corpo do motorista foi encaminhado ao Posto Médico-Legal de Betim para ser submetido ao exame de necropsia e liberado à família. A instituição disse que aguarda conclusão do laudo para atestar as circunstâncias da morte.

Jornada exaustiva e uso de drogas

Uma operação conjunta realizada em novembro de 2023 pela Fiscalização do Trabalho, Polícia Rodoviária Federal e Procuradores do Ministério Público do Trabalho revelou que um alto percentual de motoristas profissionais trabalha em jornadas exaustivas, com mais de 13 horas por dia, e uma parcela significativa utiliza drogas para combater o sono.

Dos entrevistados, 18,87% admitiram o uso de substâncias químicas, principalmente para evitar a sonolência. A cocaína foi a droga mais comum (70%), seguida por maconha (15%), opióides (10%) e anfetaminas (5%). Além disso, muitos motoristas relataram períodos de descanso insuficientes, com apenas 12,26% dormindo entre quatro e cinco horas por dia, e 47,1% fazendo intervalos de descanso inferiores ao estipulado pela Lei dos Caminhoneiros, que prevê 11 horas de descanso entre os turnos de trabalho.

Para o SINAIT, os dados revelam uma situação preocupante constatada com frequência pelos Auditores-Fiscais do Trabalho, e requer uma atenção urgente das autoridades para proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores rodoviários.

“O dever de fiscalização de uso de álcool e drogas no trânsito é das autoridades competentes, do trânsito e do trabalho. Admitir que motoristas profissionais possam exceder as jornadas de trabalho além de limites constitucionais – 8 horas diárias, com duas horas de intervalo, onze horas de descanso e 24 horas de repouso semanal remunerado – é desprezar a conquista da classe trabalhadora, de reconhecimento da necessidade humana de limitar a jornada de trabalho como critério de preservação da vida, de garantia de liberdades, de cidadania”, destaca o Sindicato.

Excesso de jornada de motorista de ônibus

Na semana passada, Auditores-Fiscais do Trabalho de Goiás constataram motoristas dirigindo há aproximadamente 45 horas sem descanso, durante o operativo Jornada Segura, no Terminal Rodoviário de Goiânia. Além de não concessão dos intervalos de alimentação e repouso e identificação de motoristas sem registro.

No caso da jornada, a fiscalização determinou a interrupção da atividade para esses motoristas, para que pudessem se recuperar.

Os Auditores-Fiscais do Trabalho continuaram a fiscalização por meio da notificação dos empregadores e análise de documentos, para garantir que as irregularidades sejam corrigidas e que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados.


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