"Se trabalho infantil fosse bom, seria privilégio de ricos”, diz a pesquisadora, que há 18 anos está à frente do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil – FNPETI
Por Lourdes Marinho
Edição: Nilza Murari
Em entrevista à Ecoa – plataforma de conteúdo do Uol –, a pesquisadora, cientista social e secretária-executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil – FNPETI, Isa Oliveira, diz que é preciso uma mobilização da sociedade para frear o retrocesso social que está em curso no Brasil. para garantir que toda criança e adolescente tenha o direito de brincar, estudar e de se desenvolver plenamente, como cidadãs e cidadãos.
As declarações de Isa Oliveira, que está há 18 anos à frente do FNPETI, são uma reação a declarações que incentivam e defendem o trabalho infantil. De acordo com ela, as declarações são feitas num momento em que o governo brasileiro promove desestruturação, um desmonte de políticas públicas e sociais que são imprescindíveis para que crianças e adolescentes não sejam precocemente inseridos no mercado de trabalho e, portanto, não sejam exploradas.
Para a cientista social, "É inaceitável. Defender o trabalho infantil é um desrespeito à vida e ao direito de crianças e adolescentes de serem protegidos, conforme garante a Constituição. Essa apologia, vinda de um presidente da República, traz um risco ainda maior, porque alcança milhões de pessoas. Ainda há uma parte da sociedade que naturaliza e justifica o trabalho infantil para crianças pobres e negras. Então, quando um presidente faz esse tipo de discurso dá margem para que o trabalho infantil seja tolerado e, de uma certa forma, não compreendido como uma grande violação de direitos", afirma.
Aponta ainda o caminho para a prevenção e erradicação do trabalho infantil, com a implementação de políticas sociais de educação, saúde, proteção social, de garantia dos direitos humanos, garantia do direito ao lazer, à cultura e ao esporte.
No Brasil, nos últimos 12 anos, mais de 46 mil crianças e adolescentes passaram algum tipo de agravo à saúde em função do trabalho precoce, segundo dados do Ministério da Saúde. Entre 2007 e 2019, 27.924 crianças e adolescentes de 5 a 17 anos sofreram acidentes graves enquanto trabalhavam e 279 morreram.
Confira aqui a íntegra da entrevista.