Matéria do jornal O Estado de São Paulo traz nesta segunda-feira a notícia de que o governo federal privilegiou, nos últimos anos e, principalmente, a partir de 2008, negociações salariais que concederam reajustes aos servidores públicos, em muitos casos incorporando e extinguindo gratificações dos contracheques. Os dados foram retirados do Boletim Estatístico de Pessoal e confirmados pela diretora de Relações de Trabalho da Secretaria de Recursos Humanos (SRH) do Ministério do Planejamento, Marcela Tapajós e Silva, que concedeu pequena entrevista ao jornal (veja abaixo).
A política de gratificações sempre foi criticada pelos servidores públicos, pois eram um paliativo para os baixos salários praticados pelo Poder Executivo. “Gratificações podem ser retiradas a qualquer tempo, e não são incorporadas na hora da aposentadoria, por exemplo, causando um baque orçamentário muito grande ao servidor”, diz Rosângela Rassy, presidente do SINAIT. Por essa razão, segundo ela, o Sindicato sempre buscou uma remuneração digna, compatível com a responsabilidade do cargo e o fim das gratificações, o que foi finalmente alcançado com a implantação do subsídio em 2008.
Leia a reportagem de O Estadão:
5-7-2010 – O Estado de São Paulo
Gratificação perde espaço nos salários
Em sete anos, despesas com vencimentos do Poder Executivo quadruplicaram, enquanto gastos com gratificações cresceram 83%
Edna Simão
Antes utilizadas como artifício para elevar a remuneração, as gratificações para os servidores públicos perderam espaço para os reajustes salariais no governo Luiz Inácio Lula da Silva. A mudança da política de correção salarial do funcionalismo ficou evidente em 2007 e se intensificou no ano seguinte, quando várias categorias tiveram melhora dos rendimentos mensais básicos e, algumas delas, incorporaram as gratificações fixas.
Essa alta dos salários teve impacto direto nas contas públicas. O Boletim Estatístico de Pessoal, divulgado pelo Ministério do Planejamento, mostra que, de 2003 para 2010 (acumulado dos últimos 12 meses até janeiro), as despesas com salários (de civis do Poder Executivo, exceto militares) quadruplicaram, passando de R$ 5,201 bilhões para R$ 20,319 bilhões. Já os gastos com gratificações cresceram num ritmo menor, de R$ 5,392 bilhões para R$ 9,889 bilhões ? atingindo o pico em 2008, com R$ 10,540 bilhões.
Esses números apontam, apesar do aumento dos gastos, que houve uma nítida mudança na composição das despesas, o que dá um pouco mais de liberdade para o governo aumentar salários sem ter ampliação equivalente de gratificações que são indexadas ao rendimento fixo.
No acumulado dos últimos 12 meses, as gratificações para os servidores públicos representavam 12,4% das despesas totais de R$ 79,5 bilhões do Poder Executivo. Já os salários (vencimentos) passaram a corresponder a 25,6% dos gastos totais. Em 2003, a situação era bem diferente. O peso das gratificações equivalia a 14,8% das despesas totais, enquanto os salários respondiam por 14,3%.
Extinção. A diretora de Relações de Trabalho da Secretaria de Recursos Humanos (SRH) do Ministério do Planejamento, Marcela Tapajós e Silva, reforçou que a inversão ocorreu por causa dos reajustes negociados com os servidores em 2008.
Na ocasião, os vencimentos totalizaram R$ 10,540 bilhões, ou 20,3% das despesas, e as gratificações de cargos somaram R$ 13,460 bilhões, o equivalente a 15,9%. "As negociações de 2008 aumentaram os vencimentos de todas as categorias. A proporção não foi uniforme, mas todos foram atendidos", disse a diretora da SRH.
Mesmo com essa mudança no perfil das despesas, as críticas de analistas e consultores continuam, porque os dispêndios já são elevados e só tendem a subir nos próximos anos. De 2008 para 2009, as despesas da União com pessoal tiveram uma expansão de 14,5%, atingindo o patamar recorde de R$ 149,648 bilhões. Na avaliação de economistas, essa despesa reduz a margem de investimentos em educação, saúde e infraestrutura, fundamentais para a sustentação do crescimento econômico no longo prazo.
A diretora de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento explicou que, durante muitos anos, as gratificações foram utilizadas para compensar a falta de reajustes.
Com isso, o contracheque do servidor ficou cheio de "penduricalhos". A partir de 2011, a liberação de um benefício adicional ao salário será feita de acordo com critérios de desempenho. "As gratificações caminham para a extinção", disse Marcela, acrescentando que isso é um processo gradual.
Metas. O governo já trabalha, nessa linha, para reduzir a quantidade de gratificações. Em 2011, o valor de 48 das 61 gratificações existentes será definido de acordo com o desempenho do servidor. Em março, foi publicado no Diário Oficial da União, o decreto n.º 7.133/2010, regulamentando os critérios para realização das avaliações por desempenho do serviço público.
O valor do benefício levará em conta o resultado de avaliação individual do chefe direto. Atualmente, o benefício adicional é fixo e não há metas claras para os servidores. Por isso, as gratificações, que deveriam ter valores variáveis, acabam se tornando fixas. Cerca de 200 mil servidores ativos serão avaliados a partir do próximo ano.
A iniciativa, porém, já encontra resistências. O secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Josemilton Costa, já afirmou ser contrário às novas determinações. A avaliação é de que o salário do servidor ficará menor.
A coordenadora-geral de Avaliação de Desempenho da Secretaria de Recursos Humanos, Simone Velasco, explicou, no entanto, que a adoção de um sistema de gratificação por desempenho tem como objetivo melhorar a qualidade dos serviços públicos e estabelecer metas para produção. "Será possível dar mais visibilidade aos resultados", destacou.
Remuneração dos servidores ficou cheia de “penduricalhos”
Marcela Tapajós e Silva. Diretora da Sec. De Recursos Humanos do Ministério do Planejamento
A diretora de Relações de Trabalho da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Marcela Tapajós e Silva, trabalha para reduzir a quantidade de gratificações embutidas na rentabilidade dos servidores públicos. No próximo ano, passam a vigorar as gratificações por desempenho no governo federal. Para Marcela, o uso de critérios de desempenho para conceder benefícios adicionais é importante para estimular os funcionários públicos, mas não pode ser maior que a principal remuneração. Abaixo os principais trechos da entrevista.
Por que se gasta tanto com pagamento de gratificações?
A gratificação é um benefício que o governo pode conceder ou retirar na hora que quiser. Muitas foram criadas por causa da dificuldade de conceder reajustes. É uma maneira de melhorar a remuneração do servidor sem ter um impacto tão alto no orçamento. Por isso, a remuneração dos servidores ficou cheia de penduricalhos.
Por que o impacto no orçamento acaba sendo menor?
Sobre o vencimento básico incidem vantagens indiretas, adicionais como de tempo de serviço. Algumas vantagens correspondem a um porcentual sobre o vencimento básico. Com a gratificação isso não acontece.
Desde 2008, os gastos com vencimentos passaram a representar mais do que as gratificações. Como justificar essa mudança?
Isso reflete as negociações salariais feitas em 2008. Não foi na mesma proporção, mas aumentamos todos os vencimentos. Estamos tentando mudar, simplificar a composição dos salários.
Como fazer isso?
Estamos procurando fortalecer os vencimentos básicos e criar gratificações de desempenho. A remuneração por desempenho é um incentivo ao servidor. Mas não pode ser a parte principal da remuneração.