Publicada em 14-5-2015
Mostra fotográfica fica até o dia 20 de maio no anexo do Palácio do Planalto
Na tarde desta quarta-feira, 13 de maio, dia que marca a abolição da escravidão no Brasil, o corredor de acesso ao edifício principal do Palácio do Planalto recebeu dezenas de Auditores-Fiscais do Trabalho, visitantes e autoridades para a abertura da exposição fotográfica “Trabalho Escravo – Auditoria-Fiscal do Trabalho, 20 anos resgatando a cidadania e a dignidade dos trabalhadores”.
A mostra, aberta ao público em geral, pode ser vista até o dia 20 deste mês e retrata em 32 fotos coloridas a vida cinza de trabalhadores reduzidos à condição análoga à de escravo, nas mais diversas localidades do país. As fotos foram tiradas pelo Auditor-Fiscal do Trabalho Sérgio Carvalho (CE) ao longo de anos, durante ações do Grupo Especial de Fiscalização Móvel no combate ao trabalho escravo Brasil afora.
Para o autor das fotos o foco da exposição é retratar a realidade do trabalho escravo, a degradância e como os direitos são afrontados, principalmente, quando existe a ameaça de descaracterização do que é trabalho escravo, com alteração do artigo 149 do Código Penal. “São fotografias fortes para dar visibilidade à realidade que poucos conhecem e que nós convivemos diariamente”, enfatizou. Segundo ele, as fotos revelam a necessidade de dar dignidade a esses trabalhadores desamparados.
Na opinião da presidente do Sinait, Rosa Maria Campos Jorge, as imagens retratam o abandono e a degradância que os Auditores-Fiscais flagram diariamente. “Esta é uma pequena parcela de tudo que realmente é encontrado. Mas dá a ideia dos brasileiros e até mesmo estrangeiros que vivem excluídos de toda e qualquer proteção, das condições mínimas que devem ser oferecidas ao ser humano”, esclareceu a presidente.
Embora estas imagens façam parte da rotina diária de muitos Auditores-Fiscais, elas chocam o próprio Auditor, que é obrigado a registrar as situações para elaborar relatórios e constatar o flagrante de trabalho escravo. “Segundo a OIT, são 2 milhões de trabalhadores escravizados no mundo todo, então, somos obrigados a conviver com essa chaga. Nos últimos 20 anos foram libertados no Brasil aproximadamente 50 mil trabalhadores”, informou.
A falta de condições de trabalho no MTE e o reduzido número de Auditores-Fiscais do Trabalho, para a presidente, dificultam o desempenho e impedem que um maior número de trabalhadores seja alcançado. “Os grupos de fiscalização móvel passaram de nove para cinco, devido à falta de Auditores-Fiscais e também houve uma grande diversificação do trabalho escravo, que foi levado à área urbana e em 2013 superou o rural”, disse.
A Auditora-Fiscal do Trabalho Valderez Monte Rodrigues, pioneira no combate ao trabalho escravo atuando nos grupos de fiscalização móvel, disse que seu maior sentimento ao ver as imagens é de indignação por saber que ainda ocorrem situações como as retratadas em diversas localidades em que o Estado não está presente. “A luta tem que continuar tão forte quanto no início e impedir o descaso do governo com a fiscalização, que tem uma atuação tão importante levando cidadania ao trabalhador, o zelo pela sua saúde e segurança, protegendo aqueles que não têm outra profissão fora do campo”, declarou.
O Palácio do Planalto e, posteriormente, o Tribunal Superior do Trabalho, são locais por onde circulam as maiores autoridades do país, para quem, na opinião de Rosa Jorge, essa triste realidade precisa ser mostrada, a fim de que as imagens despertem um sentimento de indignação que leve à busca por mudanças.