RS: Consequências do calor modificam futebol gaúcho


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
23/04/2015



Estudo realizado por Auditores-Fiscais do Trabalho levou à instituição de paradas técnicas durante as partidas de futebol para proteger a saúde dos atletas


Mudanças climáticas não são um assunto novo. Causam mudanças ambientais tanto no clima de países como em algumas regiões do mundo. O foco mais frequente é associado a problemas causados no meio ambiente, mas há várias outras áreas que sofrem influência destas mudanças. O trabalho é um deles, ainda pouco observado, e vem merecendo atenção dos Auditores-Fiscais do Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio Grande Sul – SRTE/RS. Eles notaram que o aquecimento global causa alguns efeitos no mercado de trabalho e realizam um trabalho de vanguarda para minimizar os efeitos do calor sobre trabalhadores.


No Rio Grande do Sul, durante o verão de 2014, foram registradas as mais altas temperaturas em mais de 50 anos. Este fato, combinado com informações sobre mortes e internações hospitalares de trabalhadores do setor da construção civil, possivelmente relacionados ao calor, em Porto Alegre e cidades vizinhas, motivou um estudo para avaliar a sobrecarga térmica sofrida pelos operários em sua jornada de trabalho.


De acordo com o Guilherme Candemil, chefe da Seção de Saúde e Segurança do Trabalho – Segur, neste estudo foram considerados parâmetros como temperatura do ar (termômetro de bulbo seco) e umidade relativa do ar e a carga solar direta (energia radiante) do ambiente. “A equipe responsável foi muito cuidadosa com os dados e as variantes para tratar do assunto”, diz ele.


Com base nos pontos considerados foi estabelecida uma estimativa de determinação do Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo – IBUTG. A análise utilizada para o cálculo da temperatura ambiental é utilizada como referência, naquelas atividades, para promover as medidas necessárias para a minimização da sobrecarga térmica e fisiológica dos trabalhadores.


O estudo ganhou repercussão e representantes do Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul e da Federação Gaúcha de Futebol reuniram-se com os Auditores-Fiscais Humberto de Freitas Marsiglia, Luís Carlos Rossi Bernardes e Sérgio Augusto Letizia Garcia, para debater os riscos decorrentes da exposição ao calor excessivo que os atletas poderiam estar sujeitos durante os jogos que seriam realizados nas tardes de verão do Campeonato Gaúcho de Futebol 2015.


O diagnóstico da pesquisa foi subsidiado por um estudo realizado pela Federação Internacional de Futebol - FIFA, no ano de 2013, em cidades como Manaus (AM) e Fortaleza (CE), para avaliação da segurança dos atletas em jogos que seriam realizados na Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Este estudo utilizou medidas obtidas por meio de termômetros inseridos no interior do corpo dos atletas, que são mais fidedignas que as realizadas na superfície do corpo, para melhor avaliar a sobrecarga fisiológica. A sobrecarga é a que ocorre pela combinação dos efeitos do calor ambiental da sobrecarga térmica.


Segundo o Auditor-Fiscal Luís Carlos, o conceito permite medir de maneira mais precisa os efeitos nocivos causados pela produção excessiva de calor pelo organismo. “Isto, combinado com a dificuldade de dissipação do calor para o ambiente, pela possibilidade de combinação de temperatura e umidade elevadas, pode ser a causa do desenvolvimento de sinais e sintomas como câimbras, tonturas, vômitos, taquicardia, desidratação, febre e até mesmo a morte”.   


Humberto de Freitas Marsiglia, com especialização em Clínica Médica e Medicina do Trabalho, reitera que “aumento da sobrecarga térmica pode provocar ainda a sobrecarga fisiológica, com risco de danos à saúde dos jogadores, como cãibras de calor, proteção térmica pelo decréscimo de sal, desidratação e hipertermia”. 


Essas análises apresentadas durante a reunião provocaram as “paradas técnicas”. Sérgio Augusto Letizia Garcia, especializado em Engenharia de Segurança do Trabalho, informa que a indicação foi acordada com a Federação Gaúcha de Futebol, que recomendaria aos árbitros a realização de duas “paradas técnicas” de 3 minutos quando a temperatura do ar (termômetro de bulbo seco) atingisse 35oC, ampliando o que inicialmente estava previsto no regulamento - uma parada técnica quando a temperatura alcançasse 30oC. “Também foi combinado que os jogos não incluídos na grade da televisão, sempre que possível, iniciariam às 19 horas durante o período de verão”.


De acordo com os Auditores-Fiscais da SRTE/RS, ambas as medidas foram adotadas e a expectativa é que sejam incluídas no regulamento do Campeonato Gaúcho de Futebol no ano de 2016, como práticas de segurança para proteger os atletas. É uma mudança importante, que denota a preocupação dos dirigentes com as condições de trabalho e que podem ser estendidas para outros Estados em que as temperaturas são elevadas como nas Regiões Nordeste e Norte do país.

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