AFTs resgatam trabalhadores na Bahia


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
20/08/2010



 


Auditores Fiscais do Trabalho - AFTs da Bahia libertaram um grupo de 21 trabalhadores - entre estes seis mulheres e quatro jovens com menos de 18 anos -  em um cafezal de Barra do Choça/BA. A libertação ocorreu em 21 de julho.

Os AFTs encontraram os trabalhadores em situação de escravidão ocasionada por condições degradantes e servidão por dívidas contraídas pela compra de alimentos.

Segundo Joatan Gonçalves Reis, coordenador do Grupo de Fiscalização Rural da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego da Bahia (SRTE/BA), o fazendeiro se recusou a pagar verba rescisória aos empregados, alegando que só poderia arcar com os valores no fim da colheita. Diante da recusa, A fiscalização encaminhou uma cópia do relatório da inspeção ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que deve entrar com uma ação contra o proprietário da Fazenda.

Somente este ano os Auditores Fiscais do Trabalho já realizaram 23 operações em 49 estabelecimentos rurais, que resultaram no resgate de 653 trabalhadores. Juntos, esses trabalhadores receberam o equivalente a 1,5 milhão em indenizações trabalhistas.

Mais informações sobre este resgate na matéria abaixo.

 

Degradância e dívida determinam libertações em cafezal

Entre os 21 libertados, seis eram mulheres e quatro eram jovens com menos de 18 anos. Operação encontrou quadro de degradância e servidão por dívida na Fazenda Estância, de Paulo Roberto Bastos Viana, em Barra do Choça (BA)

Por Rodrigo Rocha

Um grupo de 17 adultos e quatro adolescentes com menos de 18 anos de idade foi libertado de condições análogas à escravidão em cafezal de Barra do Choça (BA), na região Centro-Sul do Estado. Submetidos a condições degradantes no trabalho e no alojamento, os empregados também estavam "presos" por dívidas contraídas para a compra de alimentos básicos.

A libertação ocorreu em 21 de julho na Fazenda Estância, de propriedade Paulo Roberto Bastos Viana. Por meio de "gatos" (intermediários que aliciam mão de obra), foram arregimentados para a colheita dos grãos de café na periferia de Vitória da Conquista (BA), vizinha à Barra do Choça (BA).

Segundo Joatan Gonçalves Reis, coordenador do grupo de fiscalização rural da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego da Bahia (SRTE/BA), que esteve à frente da operação, havia entre os libertados seis mulheres e quatro jovens, dois deles tinham apenas 14 e dois 16 anos de idade.

"Eles (os resgatados) recebiam diariamente fichas de produção que eram utilizadas como moeda para compra de alimentos e outros produtos no armazém instalado na propriedade", conta o auditor Joatan.

As dívidas se multiplicavam por conta do pouco que efetivamente recebiam pelo trabalho. O valor era muito inferior ao salário mínimo. Nos cálculos apresentados por Joatan, os libertados recebiam R$ 2,50 por lata de café colhido (de cerca de 20 kg), o que garantia semanalmente um salário aproximado de R$ 70,00.

Com relação aos alojamentos, todos os empregados dormiam no chão, alguns deles com plástico e papelão servindo de colchões. Também não havia nenhum tipo de instalação sanitária no local. Os homens eram obrigados a fazer suas necessidades no mato e as mulheres num buraco feito no chão de um alojamento separado.

Não havia espaço adequado para o preparo dos alimentos. Os trabalhadores tiveram de improvisar um fogareiro para cozinhar. A fiscalização ainda flagrou que o alimento consumido estava deteriorado.

As frentes de trabalho também ofereciam condições precárias. Não havia banheiros e abrigo para alimentação e proteção contra chuvas. "Como estamos no período de chuvas constantes na região, a necessidade de um abrigo coberto aumenta", acrescenta o auditor.

O empregador também não fornecia nenhum Equipamento de Proteção Individual (EPI), sendo que alguns empregados chegavam a trabalhar descalços. As jornadas se estendiam das 7h às 17h, praticamente sem descanso, já que até o almoço era feito no cafezal, debaixo das árvores.

Após a libertação dos trabalhadores, Paulo Roberto Bastos Viana se recusou a pagar as verbas rescisórias (cerca de R$ 25 mi) a que os trabalhadores tinham direito. Ele alegou que só poderá arcar com os valores no final da colheita. Diante da recusa, o auditor encaminhou uma cópia do relatório da inspeção ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que deve entrar com uma ação contra o proprietário da Fazenda Estância.

A Repórter Brasil tentou ouvir o dono da área, mas não conseguiu entrar em contato com representantes em Vitória da Conquista (BA).


Fonte Repórter Brasil

Categorias


Versão para impressão




Assine nossa lista de transmissão para receber notícias de interesse da categoria.