12-4-2010 – SINAIT
Mais uma matéria publicada nesta segunda-feira, pelo jornal Correio Braziliense, reforça a certeza de que a falta de mão de obra qualificada no Brasil é fruto de deficiência educacional e de falta de estabelecimentos de formação profissional técnica. Na década de 1990 os cursos técnicos e profissionalizantes foram sumariamente excluídos das redes estaduais e municipais de ensino, restando às escolas técnicas federais e particulares em níveis intermediário e superior suprir a demanda. Sem uma educação pública de qualidade, poucos são os que conseguem ingressar nas escolas técnicas federais e também poucos conseguem bancar o ensino particular em níveis médio e superior.
O resultado aparece, cedo ou tarde. A qualificação profissional é baixa e escassa, provocando falta de mão de obra qualificada e geração de empregos de baixa renda. O crescimento do país, a distribuição de renda mais igualitária, a ascensão social e o acesso a direitos trabalhistas e previdenciários ficam comprometidos. Tudo isso reflete-se no mundo do trabalho, formando um perfil de trabalhadores que aceitam qualquer coisa pela sobrevivência engrossando a fileira da informalidade, sem garantias, sem direitos.
“É um ciclo vicioso. Falta de educação gera trabalho infantil, trabalho escravo, informalidade, exploração, ignorância”, diz a presidente do SINAIT, que além de AFT, é também professora e conhece bem as dificuldades do sistema educacional e das instituições de ensino. “O déficit gerado por décadas de descaso com a educação, seja ela básica ou profissional, não será resolvido de uma hora para outra, mas os primeiros passos precisam ser dados. Um deles é voltar imediatamente com escolas técnicas e profissionalizantes, públicas, de qualidade, adequadas às profissões emergentes, com estreitas ligações com o mercado de trabalho. Um país tão grande, com População Economicamente Ativa em torno de 99 milhões de pessoas, não precisa importar mão-de-obra. Ela tem que ser formada, e com competência, aqui mesmo”, avalia Rosângela.
Leia a reportagem do Correio Braziliense sobre o tema:
12-4-2010 – Correio Braziliense
TRABALHO - Sobram empregos, faltam trabalhadores
Apesar dos altos índices de desemprego, postos que exigem qualificação não são preenchidos. O fenômeno se acentua em anos de crescimento
Luciano Pires e Letícia Nobre
Ao mesmo tempo em que milhões de pessoas se amontoam em filas todos os dias em busca de um emprego, sobram vagas no concorrido mercado de trabalho. Esse fenômeno, tipicamente brasileiro, evidencia o descompasso histórico entre a oferta de oportunidades e o número de pessoas aptas a aproveitá-las. Apontado como gargalo quase intransponível, a ociosidade de postos que exigem preparo e formação tende a se agravar em períodos de expansão econômica.
Se as previsões de crescimento para 2010 se confirmarem e o Brasil aumentar seu Produto Interno Bruto (PIB) na casa dos 6%, a necessidade por mão de obra qualificada atingirá níveis recordes no país, advertem os especialistas. “Toda vez que o Brasil cresce mais do que 4,5%, há escassez de gente especi alizada. Esse número é cabalístico”, resume José Pastore, professor titular da Faculdade de Economia e Administração e da Fundação Instituto de Administração (USP) e consultor em relações do trabalho e recursos humanos.
Os setores mais carentes de profissionais gabaritados são também os que, nos últimos dois anos, se destacaram por atrair grandes investimentos. Companhias petroquímicas e de infraestrutura, por exemplo, estão sendo obrigadas a recrutar pessoas até em outros países para ocupar cargos no Brasil. Empresas de tecnologia da informação, meio ambiente e aquelas voltadas ao agronegócio adotam saídas semelhantes.
A escassez não escolhe sexo ou idade e está pulverizada por todas as regiões. Praticamente todos os estados brasileiros contam com um pequeno exército de pessoas com capacidade de trabalho e experiência, mas fora do mercado. Na Bahia, são 183.770; no Pará, 53.637 e no Rio Grande do Norte, 35.940. “Resolver esse pr oblema vai levar tempo, apesar dos avanços verificados na educação e na profissionalização do trabalhador”, completa Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios.
Cerca de 650 mil profissionais com qualificação e experiência ficarão sem emprego ao longo de 2010. É o saldo entre a oferta e demanda de mão de obra, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Isso depende das variáveis típicas de cada estado e de cada atividade econômica. A agricultura vai precisar de mais de 10 mil trabalhadores em São Paulo, mas vai dispensar 6.191 na Bahia”, exemplifica o pesquisador Fernando Mattos, do Ipea. Para o professor do departamento de administração da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Pinho, o Brasil paga o preço de ter abandonado o ensino técnico. “De forma enganosa, o empresariado colocou profissionais graduados, abundantes na época de recessão, em funções técnicas, acreditando que iam ganhar com isso”, completa.
Diagnóstico
A crise econômica mundial refletiu negativamente sobre o ritmo de absorção de trabalhadores qualificados. Entre 2005 e 2007, o país experimentou taxas expressivas de contratação de profissionais bem preparados e experientes. Com a queda da atividade econômica no Brasil e no exterior, a estagnação que atingiu o emprego como um todo prejudicou, sobretudo, a recolocação dessas pessoas. “A crise econômica mundial freou o mercado de trabalho brasileiro, mas não o fez piorar. Aquele avanço entre 2007 e 2008 não se repetiu de 2008 para 2009, mas também não houve recuo. O mercado, simplesmente, deixa de melhorar”, analisa o gerente da pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo.
À espera de oportunidade
Paulo Sérgio Cabral tem 49 anos e está há cinco mes es sem trabalho. “Não está fácil, não tenho diploma e o mercado parece não ter mais espaço para mim”, lamenta o especialista em tecnologia da informação. Com 34 anos de experiência, 22 deles dedicados a uma estatal, Cabral é um dos muitos brasileiros que, mesmo tendo qualificação e currículo, não encontra oportunidade no mercado formal.
Como forma de reforçar o orçamento familiar, a única saída é improvisar. Cabral faz pequenos trabalhos de manutenção em computadores, transforma fitas VHS em DVDs, LPs em CDs, manipula fotos com a ajuda de programas e, graças a isso, consegue se manter. “Tenho feito uns bicos, mas o dinheiro é muito pouco para pagar o curso que quero fazer na minha área”, diz.
O técnico diz que não abre mão da atividade à qual se dedicou. Acredita, porém, que a falta da graduação e a idade são obstáculos que o impedem de voltar a ter um emprego fixo. “Muitas empresas buscam profissionais a partir do diplo ma e aqueles que têm formação nem sempre têm a experiência que eu tenho.” (LN)