Duas ações coordenadas pelo Grupo de Fiscalização Rural da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego - SRTE/ES, entre os dias 19 e 27 de maio, libertaram 77 trabalhadores que se encontravam em condições análogas as de escravo na colheita do café, no município de Jaguaré, no norte do Espírito Santo. O município é o maior produtor mundial de café conilon – espécie mais utilizada no processo industrial do solúvel - e nesta época de colheita chega a arregimentar mais de 20.000 trabalhadores no sul da Bahia.
Em duas fazendas os auditores Fiscais do Trabalho - AFTs encontraram 39 trabalhadores dos municípios de Gandu e Teolândia (BA). Eles estavam alojados em três residências na periferia de Jaguaré, sem as mínimas condições de habitabilidade. Não havia camas, e apenas um banheiro e chuveiro em condições precárias de uso. Também não existia local para guardar os alimentos a serem consumidos pelos trabalhadores.
Os AFTs lavraram 18 autos de infração pelos diversos itens descumpridos pelos empregadores. Feitas as rescisões e pago cerca de R$ 57 mil aos empregados, estes retornaram as suas residências na noite do dia 20 de maio em ônibus fretado pelos empregadores.
A segunda ação - executada no período de 25 de a 28 maio - os AFTs flagraram 38 trabalhadores em condições mais precárias em uma propriedade do mesmo município, Jaguaré. As carteiras de trabalho encontravam-se todas retidas pelo empregador, não havia sanitários, locais para refeição e nem abrigos nas frentes de trabalho. Além disso, o empregador cobrava pelos EPIs fornecidos como botas, luvas e recipientes térmicos para água.
Os trabalhadores eram forçados a se deslocar em cerca de 4 quilômetros a pé até as frentes de trabalho, sem nenhum auxílio do proprietário.
O alojamento consistia em uma casa em precárias condições de tamanho inferior a 25 metros quadrados para alojar todos os 38 trabalhadores. Os AFTs determinaram a retirada dos trabalhadores, e as rescisões foram pagas no dia 28 de maio.
As operações foram coordenadas pelo AFT Rodrigo de Carvalho. Também participaram das ações de resgate os AFTs Afonso Gonsalves, Fábio Torres Torezine, José Augusto Hagge e Sandro Charles Caroni.
O SINAIT lembra que mesmo estando na Região Sudeste o Espírito Santo continua contabilizando casos de trabalho escravo. A cada ano o Grupo de Fiscalização Rural do estado vem sofrendo reduções no número de integrantes. A falta de segurança, durante essas operações, tem desestimulado a categoria e contribuído para a baixa no grupo. Neste sentido o SINAIT luta pela regulamentação do porte de armas para os AFTs, o mais breve possível, pois esta é uma forma de aliviar um pouco a insegurança da categoria, principalmente dos que atuam na área rural.