O assédio moral a trabalhadores tem sido tema cada vez mais freqüente em seminários que reúnem especialistas das áreas de Direito e Saúde, e trabalhadores. Juntos eles discutem alternativas que possam melhorar a qualidade de vida dessas vítimas na volta ao trabalho.
Psiquiatras acreditam que o problema merece uma maior atenção da saúde pública. Alguns defendem o acompanhamento do Estado neste retorno ao trabalho, por meio da reabilitação psiquiátrica dos trabalhadores, além de mais empenho dos Recursos Humanos das empresas em garantir, ao trabalhador assediado, um retorno sem recaídas.
Alguns pesquisadores acreditam que o problema não é uma doença, mas pode levar ao desenvolvimento de moléstias e que, por isso, está mais ligado ao direito do que à saúde, porque viola os Direitos Humanos e é uma ofensa à dignidade da vítima, que tem como finalidade desestimulá-la a deixar o emprego.
Para discutir o assunto, na semana passada a Fundacentro realizou, em São Paulo, um seminário sobre o tema. Veja, abaixo, o que pensam esses profissionais e quais são os comportamentos mais comuns apontados por juristas, contra o alvo de assédio, e que acabam nos tribunais.
O assédio moral no serviço público é também uma realidade que começa a ser mais debatida. O tema foi assunto de discussão no 27º ENAFIT, em Belém (2009).
Veja algumas matérias do Blog do Trabalho:
11-8-2010 - Blog do Trabalho
Assédio moral viola os direitos humanos, diz pesquisadora
São Paulo (SP) – A médica e pesquisadora da PUC/SP, Margarida Barreto, disse há pouco durante sua apresentação no seminário sobre assédio moral no ambiente de trabalho realizado pela Fundacentro que o assédio não é uma doença, mas pode levar ao desenvolvimento de moléstias. “O assédio moral está mais ligado ao direito do que à saúde. Ele viola os direitos humanos e é uma ofensa à dignidade da vítima com a finalidade de desestimulá-la a deixar o emprego”, disse ela.
Segundo Margarida Barreto, o assédio é uma conduta amoral e sem ética. “É um processo de esmagamento emocional a partir de ações repetitivas. É um risco não visível no mundo do trabalho. Na medicina do trabalho temos como quantificar e mensurar os riscos mas no caso do assédio não”, afirmou Barreto para quem o assédio não é algo irracional. “Quem assedia o faz de forma pensada ao humilhar e discriminar a vítima”, opinou a pesquisadora.
Assédio: juíza relata atitudes mais comuns que vão parar nos tribunais
São Paulo (SP) – A juíza substituta do Trabalho, Candy Florêncio Thomé, listou alguns dos mais comuns tipos de assédio moral nas empresas e que tornam-se processos na Justiça do Trabalho. Ela participa do seminário “Compreendendo o Assédio Moral no Ambiente de Trabalho” realizado nesta quarta pela Fundacentro.
Veja os comportamentos mais comuns contra o alvo de assédio que acabam nos tribunais:
- Fazer com que a pessoa fique sem trabalho na empresa
- Colocar um trabalhador em salas mal iluminadas e isolado
- Impedir uma gestante de se sentar durante o expediente
- Controlar as idas dos funcionários ao banheiro
- Fazer piadas e insinuar que a pessoa não serve para nada
- Ignorar sugestões
- Determinar que o empregado execute funções muito acima de suas possibilidades. Mandar realizar tarefas inúteis
- Exagerar os erros, criar situações para que o empregado “exploda” ou chore para chamá-lo depois de agressivo ou hipersensível ou de mentiroso
12-8-2010 – Blog do Trabalho
Doutora em Medicina defende a reabilitação psiquiátrica de assediados
São Paulo (SP) – A psiquiatra e doutora em medicina Edith Seligmann-Silva disse ao blog que o retorno ao trabalho dos que adoeceram por causa de assédio moral é um desafio para empresas e para os serviços públicos de reabilitação. “A reabilitação não se limita aos danos físicos. A reabilitação psiquiátrica em razão de assédio ainda merece maior abordagem da saúde pública”, afirmou.
Para a psiquiatra, a reabilitação precisa ser acompanhada pelo Estado, ou seja, ser “interinstitucional”. “A volta ao trabalho precisa ser sem medo”, afirmou. Segundo ela, os efeitos do assédio moral no âmbito psicológico podem ser o stress pós-traumático, em que a pessoa recorda em sonhos os fatos ocorridos, além dos efeitos como gastrites, hipertensão e diarréia nervosa.
“Tenho conhecimento de casos de hipertensão causados por assédio moral e de um caso em que o alvo sofreu um enfarte após ter ficado isolado e humilhado numa sala”, relatou ela.
Seligmann-Silva também fez um “chamamento” aos setores de Recursos Humanos das empresas para que haja empenho em garantir um retorno aos assediados “sem recaídas”.
Ela também chamou a atenção para o fenômeno do “presenteísmo” quando o trabalhador que necessita de tratamento procura evitar o afastamento com medo de perder o emprego. Para ela, o fenômeno é uma das causas do crescimento do assédio moral nas corporações.
“Para o país sai mais caro o auxílio-doença em razão do esgotamento do que um diagnóstico precoce”, disse ela. “O Brasil precisa pensar nos custos do presenteísmo, como já faz a Europa”, sugeriu.
Edith Seligmann-Silva participou do seminário sobre assédio moral no ambiente de trabalho realizado pela Fundacentro em São Paulo.