9-7-2010 – SINAIT
O noticiário está repleto de Copa do Mundo, críticas à atuação dos árbitros e à jabulani, tabelas e números. As emissoras de TV e rádio procuram variação nas pautas, explorando o lado turístico da África do Sul e curiosidades para além do que rola no futebol – gastronomia, educação, artesanato, cultura Zulu, etc. Mas pouco (quase nada) se fala do trabalho, dos trabalhadores, da máquina que se movimenta para fazer acontecer o Mundial de Futebol organizado pela Federação Internacional de Futebol – Fifa. São milhares de pessoas trabalhando, a grande maioria em empregos temporários, nem sempre com seus direitos respeitados.
As notícias veiculadas sobre a situação dos trabalhadores na África do Sul são iniciativas localizadas, em geral vêm de assessorias de entidades sindicais, publicações alternativas, rádios e TVs comunitárias ou de entidades ligadas a ONGs ou associações com militância social, com raras exceções, como a matéria da Folha de São Paulo, reproduzida abaixo.
A outra notícia reproduzida foi veiculada pela Radioagência Notícias do Planalto formada por um grupo de profissionais comprometidos com o jornalismo social, criada em abril de 2004 em Brasília (DF), com o nome de Agência Notícias do Planalto (ANP). Em 2007foi inaugurada uma sucursal Em São Paulo e o nome do veículo foi alterado para Radioagência Notícias do Planalto ou simplesmente Radioagência NP. Segundo o site da Agência, o objetivo é tratar de assuntos que geralmente não têm espaço na grande mídia, como as questões que atingem os movimentos sociais e à classe trabalhadora brasileira e da América Latina.
Copa de 2014
A próxima Copa do Mundo será no Brasil, em diversas capitais, cujos estádios já começam a ser reformados. A expectativa é de que milhares de empregos permanentes e temporários sejam criados antes e durante o campeonato, nas áreas da construção civil e turismo. Construção de hotéis, capacitação de motoristas de táxis, empregados de hotelaria e restaurantes, profissionais de eventos e guias turísticos para atender turistas estrangeiros estarão em alta.
A preocupação com a situação trabalhista deverá estar na ordem do dia para os Auditores Fiscais do Trabalho, pois no Brasil, em geral, trabalho temporário tem sido sinônimo de descumprimento da legislação. “As oportunidades de trabalho não podem ser comemoradas à luz do prejuízo dos trabalhadores. Não podemos deixar que a situação verificada na África do Sul seja replicada aqui no Brasil”, diz a presidente do SINAIT, Rosângela Rassy.
Veja a notícia, que também pode ser escutada no site da Agência - www.radioagencianp.com.br.
29-6-2010 – Rádio Agência NP
Sul-africanos já sentem efeito de empregos temporários
Aline Scarso
A Copa do Mundo criou aproximadamente 35 mil vagas de trabalho na África do Sul, conforme informação de uma consultoria contratada pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). Apesar da Copa ainda não ter terminado, o efeito dos empregos temporários já são sentidos pelos trabalhadores sul-africanos. De acordo com o índice Adcorp de Emprego, o nível de emprego no país caiu 6,2% entre os meses de abril e maio.
O índice oficial de desemprego continua alarmante, atingindo 25% dos sul-africanos. O desemprego cresce desde 2008, quando 21% da população já não tinha nenhuma ocupação. Segundo a Fifa, os efeitos da crise econômica mundial na África do Sul poderiam ser ainda mais devastadores sem o evento uma vez que 174 mil postos de trabalho não foram fechados em razão da Copa.
A situação é ruim também entre aqueles que se mantêm empregados. Manifestação de trabalhadores por salários maiores foram constantes antes do início do mundial e mesmo durante o evento. Protestos de trabalhadores foram duramente reprimidos pela polícia.
Seguranças contratados pela Fifa também denunciam que não estão recebendo o valor combinado, o equivalente a R$ 275 por partida. Depois do início dos jogos, o valor recebido foi de apenas R$ 90. Enquanto isso, a Federação já anunciou que os lucros da Copa sul-africana já superaram o da Copa da Alemanha e estão em torno de US$ 3,2 bilhões, quase R$ 6 bilhões.
30-6-2010 – Folha de São Paulo
Copa traz herança "provisória"
Antes de Mundial africano acabar, postos de trabalho já são extintos
FÁBIO ZANINI - DE JOHANNESBURGO
Terminada a Copa do Mundo, milhares de trabalhadores v oltarão para as ruas da África do Sul, sem emprego nem muita paciência. Engrossarão uma massa de descontentes que de tempos em tempos se revolta nas periferias do país.
O evento sozinho contribuiu com aumento de 0,5% no PIB sul-africano em 2010, segundo estudo da consultoria Grant Thornton (o governo ainda não fez sua estimativa). Nada desprezível, considerando que o crescimento total da economia previsto para o ano é de 3%.
O problema é que dos 280 mil empregos gerados, apenas 50 mil são permanentes, principalmente na indústria do turismo. Os outros 230 mil trabalhadores ou já perderam o emprego ou perderão n as próximas duas semanas.
"O governo precisa planejar como realocar esses trabalhadores em projetos de infraestrutura em comunidades pobres. Há sério risco de desordem social", diz Patrick Craven, da Cosatu, maior central sindical do país.
Segundo ele, o aumento do desemprego já pôde ser constatado no primeiro trimestre do ano -ta xa de 25%.
Para Gilian Saunders, diretora da consultoria, havia uma expectativa "excessiva" sobre o que a Copa traria em termos econômicos. "Gerar 280 mil empregos é pouco dado o tamanho do problema no país", afirmou.
Um dado positivo, segundo ela, é que a Copa trouxe benefícios indiretos aos trabalhadores sul-africanos. "Quem trabalhou em grandes projetos recebeu treinamento e agora pode conseguir um emprego melhor."
A África do Sul tem alto índice de desemprego e forte setor informal. O mesmo ocorre no Brasil, sede da próxima Copa do Mundo -embora aqui a taxa de desemprego seja mais baixa.
Uma reclamaçà £o contundente vem do setor informal, que responde por 15% do PIB nacional. "Os benefícios foram mínimos, com a possível exceção dos vendedores de bandeiras e vuvuzelas em semáforos. Mesmo para eles, a venda esfriou desde que a África do Sul saiu da Copa", diz Gaby Bikombo, diretor da Streetnet, ONG que representa vendedores de rua.
Ele aponta o dedo para a Fifa e suas rígidas regras de proteção a patrocinadores, que restringiram o trabalho de ambulantes dentro de estádios e em Fan Parks (áreas com exibição de jogos em telões). "Nem barracas de comida em canteiros de obras puderam ser montadas", diz.
INFRAESTRUTURA É LEGADO MAIOR, DIZ FIFA
A entidade afirmou, por meio de um porta-voz, que o Mundial deixará "legado permanente" para a África do Sul. "Além dos empregos gerados e da injeção de recursos por causa da chegada de estrangeiros, as diversas obras de infraestrutura ficarão para o país." A Fifa divulgou também que as regras de proteção a patrocinadores são "legítimas", já que, sem elas, não seria possível realizar o evento. "Foi feito o possível para contemplar o trabalho informal."
8-7-2010 – Folha de São Paulo
Copa muda hábito de consumo, gera promoções e reduz IPCA
Variação é a menor desde o último Mundial, há quatro anos
PEDRO SOARES - DO RIO
A Copa do Mundo mudou o padrão de consumo das famílias e ajudou a conter a inflação em junho. O mês no qual teve início a competição registrou o menor IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em quatro anos.
Referência para o regime de metas de inflação, o índice ficou estável no mês passado após avançar 0,43% em maio. Trata-se da menor variação desde a deflação de 0,21% em junho de 2006, quando foi disputada a Copa do Mundo passada.Segundo o IBGE, em 12 meses o IPCA acumula alta de 4,84% e, no ano, de 3,09%.
A Copa fez crescer o consumo de itens como camisetas, bandeiras, alimentos preparados, bebidas e carnes, e os comerciantes fizeram promoções para atrair clientes e aumentar as vendas.
"A Copa muda a rotina das famílias, que deixam de comer em casa, por exemplo. Em dias de jogos do Brasil é quase feriado. É sempre um mês de muitas promoções", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora do IBGE.
Para ela, a Copa aumentou a queda de 0,90% nos preços dos alime ntos em junho. Produtos consumidos nos dias de jogos foram os que mais ajudaram a segurar o IPCA.
Fábio Romão, da LCA, vê uma desaceleração natural dos preços dos alimentos, que dispararam no começo do ano por conta do clima e agora retornam à normalidade. "Daqui para o final do ano, a evolução seguirá o esperado sazonalmente."
Além dos alimentos, a queda dos preços da gasolina (-0,76%) e do álcool (-5,41%) motivou a deflação de 0,21% do grupo de transportes e também contribuiu para o IPCA medido no mês passado.
O cenário favorável, porém, não tende a se repetir neste mês, quando há reajuste de energia elétrica em São Paulo e no Paraná, tarifas com peso na cesta do índice.